País precisa olhar com mais atenção a tecnologia nuclear na saúde, de acordo com especialistas
A possibilidade de visualizar o interior do corpo humano por meio
de exames de imagem marcou uma revolução na Medicina, permitindo diagnósticos mais
precisos e tratamentos menos invasivos para diversas doenças. No entanto,
apesar dos avanços, o acesso a essas tecnologias ainda enfrenta desafios no
Brasil, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS), onde a oferta de
serviços de medicina nuclear é desigual, dificultando que todos os pacientes
tenham as mesmas oportunidades de diagnóstico e tratamento. No Dia Mundial da
Saúde, celebrado em 7 de abril, especialistas ressaltam a importância de
ampliar o acesso a essas inovações, como a tecnologia nuclear, que desempenha
um papel essencial no enfrentamento de doenças graves, incluindo o câncer.
No que consiste a área
A Medicina Nuclear, uma especialidade ímpar, utiliza radioisótopos
para procedimentos de imagem e terapias direcionadas. Essa tecnologia permite
detectar enfermidades em estágios iniciais, aumentando significativamente as
chances de sucesso nos tratamentos. Além disso, a modalidade conhecida como
teranóstico – que combina diagnóstico e terapia em um único procedimento – vem
revolucionando o setor ao proporcionar abordagens mais precisas e
personalizadas.
Cenário atual
O Brasil, no entanto, enfrenta desafios para garantir o acesso
amplo a essas tecnologias. As dificuldades na produção de radioisótopos e as
limitações na infraestrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) impactam
diretamente a oferta desses serviços. Dados recentes indicam que, mundialmente,
há cerca de 16 reatores e 1.200 cíclotrons responsáveis pela produção desses
insumos, suprindo uma demanda crescente de exames e tratamentos. Em 2022, o
mercado global de Medicina Nuclear foi estimado entre US$ 5 e 10 bilhões, com
projeções de crescimento para até US$ 25 bilhões até 2030.
O país conta com onze cíclotrons em funcionamento para a produção
de radioisótopos de meia-vida curta, como o flúor-18. “No entanto, o Brasil
ainda depende de fontes externas para o fornecimento de molibdênio-99,
essencial para a produção de tecnécio-99m, um dos radiofármacos mais utilizados
em medicina nuclear. Essa dependência externa e as dificuldades logísticas para
o transporte de materiais radioativos representam desafios para a especialidade
no país”, conta Sibila Grallert, Managing Director na CMR Pharma e membro do
Conselho Consultivo da ABDAN (Associação Brasileira para o Desenvolvimento De
Atividades Nucleares).
São 467 instalações de medicina nuclear no Brasil, incluindo
hospitais, clínicas e centros especializados, distribuídos por todo o país. A
maior concentração desses centros está na região Sudeste, com 253 instalações,
seguida pelas regiões Sul (76), Nordeste (74) e Centro-Oeste (41). A maioria
dessas instalações (457) realiza diagnóstico por imagem, enquanto 10 são
dedicadas a terapias e uma é para uso veterinário. “Apesar dessa
infraestrutura, o acesso aos serviços de medicina nuclear ainda é desigual,
limitando o acesso da população mais vulnerável aos avanços tecnológicos na
área”, explica a especialista.
Além de seu impacto direto na saúde, a Medicina Nuclear impulsiona avanços científicos e gera empregos qualificados em diversas áreas, desde a pesquisa até a operação de equipamentos de ponta. “A tecnologia nuclear tem um papel fundamental na modernização da medicina. O uso de radioisótopos em diagnósticos e tratamentos é uma ferramenta indispensável para salvar vidas e garantir mais precisão nas condutas médicas”, destaca Celso Cunha, presidente da ABDAN, reforçando a importância de políticas públicas para ampliar o acesso a essas tecnologias no Brasil.
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