Fantasias que os filhos usam para se conectarem aos
pais
É Carnaval e nesse
período a criançada fica toda ouriçada pensando em qual será sua fantasia neste
ano. Quem tem filho ou é próximo de crianças sabe bem que essa é uma
preocupação existente.
Fantasia é mesmo
uma curtição para adultos e crianças, e todo mundo quer a mesma coisa: que a
fantasia seja parecida com o modelo verdadeiro e que chame a atenção de todo
mundo!
Se a fantasia for
do Super Homem, tem que ser azul com uma capa vermelha e um S estilizado no
peito ou não vai ser a fantasia do Super Homem.
E se não for para
chamar a atenção das pessoas, para que se fantasiar? Ninguém quer uma fantasia
sem graça e que ninguém repara.
Falando em
super-heróis, lembro que quando eu era pequena fui convidada para uma festa a
fantasia de uma menina da minha classe. Todo mundo super animado, esperando
pelo dia da festa e cheio de mistério para não dar spoiler sobre a
fantasia que ia usar.
Minha melhor
amiga, Nina, disse para todo mundo que a fantasia dela era tão perfeita, mas
tão perfeita, que ninguém ia reconhecer quem estaria por baixo daquela roupa.
Chegou o dia da
festa, eu fui de Chapeuzinho Vermelho com uma cesta cheia de doces para a
vovozinha de verdade. Os doces, não a vovó. Lá pelas tantas chega uma Mulher
Maravilha perfeita! Até o laço dourado pendurado na cintura ela tinha.
Não levou dois
segundos para eu gritar: "Ah, já sei quem é essa Mulher Maravilha, olha a
bota dela! É a Nina, só ela tem uma bota dessas". Ela ficou uma fera. Não
falou comigo até o fim da festa.
As fantasias são
divertidas porque nos permitem “ser” outro alguém por algum tempo.
Mas, e quando a
criança faz força para acreditar que ela é a fantasia que está vestindo? Bem,
crianças fazem isso o tempo todo.
Sabe aquele garoto
que está o tempo todo tentando mostrar que é ele quem manda? Ele é desbocado,
agressivo, tem dificuldade de se controlar e quando é contrariado vai logo
buscar confusão?
Ora, é claro que
se trata de uma criança com problemas psicológicos. E se ele tem esse tipo de
comportamento na escola, a coordenação provavelmente chamará os pais para uma
reunião para tentar descobrir o que está acontecendo em casa. A criança
certamente está replicando o comportamento dos pais, certo?
Talvez sim, talvez
não.
Como dito
anteriormente, todo mundo quer que sua fantasia seja parecida com o modelo
verdadeiro, não é?
Assim como a criança
quer que sua fantasia do Super Homem pareça real, a criança agressiva quer que
todos ao seu redor acreditem na sua fantasia.
E pode ter
certeza, todos acreditarão! Uau, esse garoto é agressivo mesmo, ele realmente
tem problemas, é melhor tomar cuidado.
O que faz uma
criança querer ser agressiva? Afinal, ela é quem mais sofre com isso. Ela é
punida, perde amigos, fica isolada. Verdade!
Agora, se essa é a
forma que a criança encontra, inconscientemente, para se conectar com os pais,
essa é a fantasia que ela vai usar. Positiva ou negativa, bonita ou feia, não
importa. O importante é estabelecer a conexão, porque essa conexão é vital!
Se agir
agressivamente, faz com que os pais fiquem preocupados, zangados ou com medo, a
criança entende que esse é o caminho para o coração de seus pais.
E não vai tirar
essa fantasia nem na hora de dormir!
“Mas por que meu
filho escolheu um caminho tão ruim?” – perguntam os pais – “Seria muito melhor
se ele fosse mais tranquilo”.
Ah, mas a boa
fantasia é aquela que chama a atenção, não é?
Por trás daquele
menino que construiu a sua “fama de mau", há uma criança que busca
desesperadamente se conectar.
Olhe bem para os detalhes, os olhos por trás dos óculos, o cabelo por baixo da peruca, a cicatriz no joelho daquela queda da bicicleta. Você reconhecerá, por baixo da fantasia, o rostinho querido de seu filho. Tal e qual a botinha da minha amiga Mulher Maravilha.
Yafit Laniado - psicóloga e hipnoterapeuta, criadora da
Relacionamentoria, consultoria especializada no relacionamento entre pais e
filhos.
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