A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) também alerta que a falta de patologistas, a infraestrutura insuficiente e a baixa remuneração pagam pelos procedimentos diagnósticos no Sistema Único de Saúde (SUS) agravam o cenário de combate à doença.
Na era da globalização e das redes sociais, a disseminação de informações incorretas se tornou um desafio no combate ao câncer. Quem nunca ouviu falar que determinado alimento poderia curar ou causar câncer? Ou que o uso de certos equipamentos eletrônicos aumentaria o risco de tumores? Tais informações, muitas vezes sem base científica, circulam amplamente, dificultando a tomada de decisões corretas por parte da população. É o que chama a atenção a pela Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), entidade que representa os especialistas responsáveis pelo diagnóstico do câncer e pelo suporte aos médicos oncologistas na definição do tratamento mais adequado para os pacientes.
Segundo a Drª Gisele Iguma, coordenadora do Departamento de Comunicação Social da SBP, a desinformação, impulsionada pelo crescimento das fake news, se soma à dificuldade histórica de acesso à informação confiável em diversas regiões do Brasil.
“Por isso, a SBP tem investido em canais de comunicação, como as redes sociais, incluindo o Instagram (@sbpatologia), e plataformas como o Spotify, onde criamos o podcast O Patologista em Podcast, com o objetivo de esclarecer e informar a população sobre temas relevantes em diagnóstico e câncer”, explica a especialista.
A Drª Gisele também orienta que a população busque informação em fontes oficiais e confiáveis, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde, o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e o portal Oncoguia. Além dessas, hospitais especializados no diagnóstico e tratamento do câncer frequentemente disponibilizam informações seguras em seus sites e redes sociais.
Um estudo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia (RBC) reforça que a desinformação na saúde é um problema global, e que fatores como estado emocional e grau de escolaridade tornam os pacientes mais vulneráveis a informações falsas. Isso pode levar a decisões prejudiciais, como a adesão a tratamentos sem comprovação científica ou a recusa de terapias eficazes, impactando negativamente o prognóstico.
Diagnóstico Tardio - A Dra. Ivana de Menezes, também membro do Departamento de Comunicação Social da SBP, reforça que a desinformação pode fazer com que pacientes demorem a procurar auxílio médico: “Muitas vezes, o paciente recorre à automedicação ou tratamentos alternativos sem comprovação. Quando, finalmente, recebe um diagnóstico e acesso ao tratamento correto, pode ser tarde demais”.
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), realizada em 2019, revelou que o tempo para confirmação do diagnóstico pode chegar a 200 dias. Segundo o Ministério da Saúde, 56% dos pacientes só recebem o diagnóstico quando o câncer já está em estágio avançado, reduzindo significativamente as opções terapêuticas e piorando o prognóstico.
Falta de Patologistas e Infraestrutura Deficiente - O Dr. Gerônimo Jr., presidente da SBP, alerta que a falta de médicos patologistas no Brasil também é um fator crítico para o diagnóstico tardio do câncer, especialmente em regiões mais remotas.
Atualmente, o país conta com apenas 3.824 médicos patologistas, o que representa 0,8% do total de especialistas. Para efeito de comparação, existem 56.979 clínicos médicos (11,5%), 48.654 pediatras (9,8%) e 41.547 cirurgiões gerais (8,4%), evidenciando um grande déficit na especialidade responsável pelos exames diagnósticos.
“Sabemos que o Brasil e o mundo enfrentam uma carência de patologistas. No Brasil, temos cerca de 1,6 patologistas para cada 100 mil habitantes, mas em algumas regiões, como a Norte, esse número é ainda menor, chegando a menos de um patologista por 100 mil habitantes”, explica o presidente da SBP.
Além da escassez de profissionais, a infraestrutura insuficiente e a baixa remuneração dos procedimentos diagnósticos também comprometem a qualidade e a rapidez dos diagnósticos. Hoje o Sistema Único de Saúde (SUS) paga apenas R$ 40,78 por exame patológico, um valor considerado incompatível com a complexidade do trabalho.
Perspectivas e Soluções - Desde a auditoria do TCU, a SBP tem trabalhado junto ao governo federal para buscar soluções para esses desafios. Segundo o Dr. Gerônimo Jr., há avanços na discussão com o Ministério da Saúde, e um Termo de Cooperação Técnica deve ser firmado em breve.
“O Ministério da Saúde está sensível a essa problemática, e a SBP
está colaborando ativamente para encontrar soluções que melhorem o acesso ao
diagnóstico e o tratamento precoce do câncer no Brasil”, conclui o presidente
da entidade.
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