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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

FEBRASGO esclarece dúvidas sobre a relação entre ao excesso de peso e a gravidez

 

A Federação das Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) destaca que o sobrepeso e, em especial, a obesidade, elevam o risco de diversas doenças, incluindo diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares e até câncer. Além disso, essa condição também afeta a fertilidade. 

Estima-se que até 2044, cerca de 48% dos adultos brasileiros estarão com obesidade, enquanto 27% terão sobrepeso. Essa informação faz parte de um estudo do pesquisador Eduardo Nilson, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da Fiocruz Brasília, e colegas, divulgado em junho, que ressalta a gravidade do cenário e a necessidade de prevenção contra essa condição. Nos últimos anos, o aumento da obesidade na população tem contribuído para um maior número de tentativas de gravidez sem sucesso. 

A Dra. Ana Carolina Sá, membro da Comissão de Ginecologia Endócrina da FEBRASGO, explica que nosso tecido adiposo tem a capacidade de produzir hormônios esteróides, incluindo os esteróides sexuais, como a androstenediona, a testosterona e a estrona, que é um tipo de estrogênio. Esses hormônios desempenham um papel importante na regulação da ovulação. 

De acordo com a especialista, quem controla a nossa ovulação é o cérebro, por meio da secreção de gonadotrofinas, como o FSH e o LH, hormônios produzidos pela hipófise que regulam a ovulação feminina. Quando há excesso desses hormônios periféricos produzidos pelo tecido adiposo, isso pode levar a uma regulação alterada da secreção hormonal cerebral e, consequentemente, da secreção hipofisária, influenciando a ovulação. 

Quando a mulher não ovula, ela pode ter ciclos menstruais irregulares. Isso pode se manifestar como ciclos ausentes, com longos intervalos entre as menstruações, às vezes meses sem menstruar ou como ciclos irregulares, que ocorrem com certa frequência, mas de maneira desorganizada, indicando que a mulher não está ovulando”, afirma. 

A médica ressalta que não há uma relação direta entre o excesso de gordura corporal e os hormônios que influenciam a fertilidade. E o que se sabe é que existem mulheres magras que enfrentam problemas de anovulação, assim como mulheres obesas que ovulam e menstruam regularmente, preservando sua fertilidade. Portanto, não é obrigatório que um aumento na gordura corporal resulte em uma diminuição na fertilidade. No entanto, para muitas mulheres, o excesso de gordura pode afetar a secreção hormonal mencionada anteriormente. Alterações nos padrões de secreção hormonal podem, sim, impactar a ovulação e a fertilidade. Assim, a relação existe, mas não é linear ou universal; a resposta hormonal pode variar de mulher para mulher.

 

A perda de peso pode impactar a fertilidade de uma mulher que está tentando engravidar?

A Dra. Ana Carolina menciona que a situação pode variar. Se a perda de peso for saudável, ela não impactará negativamente a fertilidade. O que realmente faz diferença é uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras e legumes, e com baixo consumo de alimentos processados. Uma dieta saudável é preferível a uma que contenha muito açúcar, frituras, gorduras, enlatados e refrigerantes, que podem levar a um excesso de açúcares, afetando o metabolismo. O que se sabe é que o metabolismo tem uma relação direta com a secreção hormonal. 

Uma mulher com excesso de peso que adota uma abordagem consciente de perda de peso, com reeducação alimentar e prática regular de atividades físicas, certamente terá um impacto positivo no funcionamento do organismo. Isso pode, inclusive, ajudar a reverter situações de desregulação hormonal que levam à anovulação. 

“No entanto, é importante considerar que a anovulação pode ter várias causas, nem todas relacionadas ao peso. Algumas podem exigir tratamento medicamentoso. Se a anovulação estiver ligada ao excesso de peso, a perda de peso pode trazer melhorias significativas, mesmo que a mulher ainda permaneça acima do peso ideal. Geralmente, uma redução de 10% do peso corporal já resulta em uma melhora considerável nos padrões hormonais”, disse a médica.
 

Qual o papel do exercício físico na melhoria da fertilidade em mulheres com sobrepeso e obesidade?

“A atividade física deve ser sempre incentivada, pois traz uma série de benefícios, independentemente da necessidade de perda de peso. Exercícios, como musculação, aumentam a massa muscular e reduzem a gordura corporal, melhorando a composição física. Essa mudança já favorece o metabolismo dos açúcares, uma vez que a massa magra possui maior sensibilidade à insulina, ajudando a reduzir a resistência insulínica”, enfatiza.

Além disso, mesmo sem perda de peso, o aumento da massa magra é benéfico. A prática de exercícios promove a liberação de neurotransmissores que proporcionam bem-estar, contribuindo para um estilo de vida mais saudável e melhorando a qualidade de vida, a elasticidade e diversos outros aspectos.
 

Existem tratamentos ou intervenções específicas recomendadas para mulheres com sobrepeso que desejam engravidar?

Independentemente de a paciente querer engravidar ou não, as orientações para a perda de peso permanecem as mesmas. Primeiramente, é essencial promover mudanças no estilo de vida, adequando a alimentação, que pode ser excessiva ou incorreta, com uma ingestão calórica muito alta. É importante reforçar a necessidade de atividade física regular, que traz uma série de benefícios. 

“Em alguns casos, dependendo do grau de obesidade, essas pacientes podem precisar de medicamentos para reduzir a compulsão alimentar, controlar a ansiedade e ajudar na saciedade. Muitas vezes, essas mulheres já apresentam resistência insulínica e hiperinsulinemia, ou seja, têm níveis elevados de insulina para compensar os efeitos negativos desse hormônio, que está associado ao aumento da fome. Certas medicações podem ajudar a melhorar esse padrão de hipersecreção de insulina”, diz. 

A médica destaca ainda que em casos mais severos, especialmente se a mulher já tiver doenças associadas à obesidade, como hipertensão, diabetes ou doenças cardiovasculares, a cirurgia bariátrica pode ser indicada. Assim, os tratamentos para mulheres que desejam engravidar são bastante semelhantes àqueles recomendados para mulheres obesas que não estão buscando a concepção.


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