Com o foco na conscientização sobre a saúde cardiovascular, o Setembro Vermelho se une ao Dia Mundial do Coração – comemorado em 29 de setembro – para lembrar a população sobre a importância da prevenção das doenças cardíacas, que representam a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Embora historicamente as doenças cardiovasculares (DCV) sejam vistas como um problema masculino, estudos demonstram, cada vez mais, que as mulheres são igualmente vulneráveis, principalmente após a menopausa.
Segundo dados de um artigo recente
sobre a epidemiologia das DCV, as mulheres estão expostas a riscos crescentes
de doenças cardiovasculares ao longo da vida. Antes da menopausa, os hormônios
femininos proporcionam uma certa proteção, mas esse cenário muda drasticamente
após essa fase. A pesquisa, divulgada pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, revela que, após a menopausa, o risco
de DCV nas mulheres aumenta consideravelmente, aproximando-se do índice dos
homens.
O estudo aponta que as doenças
isquêmicas cardíacas (DIC) e as doenças cerebrovasculares são as principais causas
de mortalidade cardiovascular nas mulheres. A prevalência dessas doenças tem
aumentado de forma preocupante, especialmente após a menopausa. O levantamento
destacou que, entre 1990 e 2019, houve uma redução significativa da prevalência
de DCV em homens, mas nas mulheres essa queda foi mais acentuada, com uma
redução de 12,8%. No entanto, a mortalidade e a prevalência das DCV nas
mulheres voltam a subir após a menopausa, sugerindo que essa fase representa um
ponto crítico para a saúde cardíaca feminina.
Fatores de risco específicos
das mulheres
De acordo com o cardiologista Dr.
Rafael Macedo, do Hospital Mater Dei Santa Clara, a mudança no estilo de vida e
as pressões do cotidiano contribuem para o aumento dos casos de DCV em
mulheres. “Além do maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho, houve um
aumento na adoção de hábitos prejudiciais que antes eram predominantemente
masculinos, como o tabagismo. Fatores comuns a ambos, como estresse, obesidade
e outras condições também contribuem para aumentar o risco cardiovascular”,
explica o médico.
Além disso, ele destaca que os
sintomas das doenças cardíacas podem ser diferentes nas mulheres,
frequentemente manifestando-se de forma atípica. “Precisamos orientar que
sintomas como náusea, vômito, dor na região epigástrica, sudorese, cansaço,
fadiga e palpitações podem ser sinais de uma doença cardíaca. Esses sintomas
são atípicos e, muitas vezes, são confundidos com outras condições, como
transtornos de ansiedade ou problemas gastrointestinais. Isso pode atrasar o
diagnóstico e, consequentemente, o tratamento. É crucial que as mulheres
estejam atentas a esses sinais e procurem um médico ao menor sinal de
anormalidade”, alerta o cardiologista.
A hipertensão e o diabetes, dois dos
principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, também têm maior
incidência nas mulheres após a menopausa, muitas vezes sem apresentar sintomas
claros. Segundo o Dr. Marcos Gonçalves, cardiologista do Hospital Mater Dei
Santa Genoveva, isso exige que as mulheres tenham maior atenção em exames de
rotina. “Nas mulheres, essas condições podem ser silenciosas, e as artérias
mais finas e tortuosas tornam o tratamento mais complicado”, alerta.
A importância do diagnóstico
precoce
Um ponto chave para a melhoria do
prognóstico cardiovascular nas mulheres é o diagnóstico precoce. Como explica o
Dr. Rafael, o atraso no diagnóstico ainda é um problema, muitas vezes
influenciado pela percepção equivocada de que as DCV são "doenças de
homens". Essa visão pode induzir médicos e pacientes a desvalorizarem
sintomas e não aplicarem o tratamento adequado. "É preciso educar as
mulheres sobre os sinais de alerta e assegurar que o diagnóstico seja feito sem
preconceitos, considerando as particularidades do corpo feminino",
destaca.
A campanha do Setembro Vermelho surge
justamente para reforçar essa mensagem. É essencial que as mulheres estejam
atentas à sua saúde cardíaca, especialmente no pós-menopausa, monitorando
fatores como pressão arterial, colesterol e glicemia, além de manter hábitos
saudáveis como a prática regular de atividades físicas e uma alimentação
equilibrada.
Fatores não tradicionais e o
alerta para mulheres jovens
Embora a menopausa seja um divisor de
águas na saúde cardiovascular das mulheres, fatores não tradicionais, como
diabetes gestacional e doenças reumatológicas, também aumentam o risco. O Dr.
Marcos Gonçalves reforça a importância de monitorar as doenças reumatológicas,
como artrite reumatoide e lúpus, que afetam diretamente a saúde cardiovascular
das mulheres. “Essas doenças inflamatórias, comuns em mulheres, exigem
frequentemente o uso de corticoides, que, além de controlar a inflamação,
trazem efeitos colaterais importantes, como o aumento da glicemia, colesterol,
triglicérides e o ganho de peso. Esses fatores contribuem para o
desenvolvimento de hipertensão e elevam o risco de doenças cardiovasculares. A
inflamação crônica, característica dessas condições, agrava ainda mais esse
cenário, tornando essencial um acompanhamento cardiovascular rigoroso para
evitar complicações graves”, explica o especialista.
Além disso, estudos mostram que as
mulheres jovens estão cada vez mais expostas ao infarto, especialmente aquelas
com maior carga de comorbidades, como obesidade e hipertensão. Entre 1995 e
2014, um estudo americano de vigilância da aterosclerose mostrou que, enquanto a taxa de internações por infarto
caiu entre homens jovens, ela subiu entre as mulheres da mesma faixa etária.
Esses dados reforçam a necessidade de atenção às mulheres mais jovens, que
muitas vezes não recebem o tratamento adequado ou têm seu diagnóstico tardio.
Portanto, neste mês de setembro, a
mensagem é clara: cuidar do coração deve ser uma prioridade para as mulheres em
todas as fases da vida. “O reconhecimento dos sintomas atípicos e a
conscientização sobre os fatores de risco são passos fundamentais para reduzir
as mortes por doenças cardiovasculares e garantir uma vida mais longa e
saudável”, finaliza Rafael.
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