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domingo, 15 de setembro de 2024

Remédio da alma: musicoterapia passa a fazer parte de "prescrição" médica em hospitais e piano ganha espaço nos corredores

Pacientes que experimentam sinergia entre música e saúde relatam 48% menos dores, aponta estudo da UFPR; impacto positivo é observado em pacientes, profissionais e voluntários


A relação entre música e saúde não é uma novidade. Desde a Grécia Antiga, o filósofo Pitágoras já destacava os efeitos da música como um instrumento capaz de harmonizar ou desarmonizar o estado psicológico das pessoas. Acreditava-se que a música não era apenas arte, mas uma ciência com o poder de promover saúde e bem-estar, equilibrando corpo e alma.

Hoje, a ciência comprova os pensamentos antigos. Um estudo conduzido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com pacientes em tratamento oncológico revelou que o uso da musicoterapia foi capaz de reduzir mais de 78% das náuseas e cerca de 48% das dores relatadas pelos participantes. Além disso, ao longo do último ano, as chamadas práticas integrativas, que englobam técnicas como meditação, reiki e musicoterapia, foram incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) como terapias complementares, beneficiando mais de sete milhões de brasileiros em 83% dos municípios do país. 


Quem canta, os males espantam

A música estimula a liberação de hormônios como dopamina e endorfina, proporcionando sensações de alegria e tranquilidade, além de auxiliar no alívio da dor. Esses benefícios vão além do tratamento dos pacientes hospitalizados, alcançando também os profissionais envolvidos com a musicoterapia. É o caso da pianista voluntária dos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, Josiani Aparecida Cruz, que acredita que a música nos corredores dos hospitais é mais que um som: é uma ponte de conexão, capaz de gerar conforto em um ambiente frequentemente marcado pela tensão e incerteza. “Poder levar emoções para outras pessoas é emocionante para nós também. É uma troca maravilhosa, e  acredito que ganhamos muito mais do que doamos. É fantástico”, afirma Josiani. 

Em muitas ocasiões, o alívio que as melodias proporcionam torna-se um aliado em situações de estresse, especialmente para aqueles que lidam diariamente com a responsabilidade de salvar vidas. Para o cardiologista Fernando Luchina Alves, a música sempre foi uma companhia constante. Ele começou a aprender piano aos seis anos e, embora inicialmente não unisse o talento musical com sua profissão, com o tempo percebeu o impacto positivo que a música exercia sobre seu temperamento. A partir disso, passou a tocar piano também no Hospital São Marcelino Champagnat, onde trabalha. "A música me ajuda a ter mais tranquilidade, especialmente em momentos de emergência, que enfrentamos com frequência na profissão. Existe, sim, uma sinergia entre ouvir boas músicas e a saúde; temos sorte pela existência da ciência da musicoterapia", pontua.

Para pacientes que enfrentam problemas psicológicos, como ansiedade e depressão, a utilização da música no ambiente hospitalar pode atuar como um remédio para aliviar os sintomas. “Em pacientes com condições psicológicas, a música reduz a ansiedade e melhora a qualidade do sono, propiciando um maior autocontrole para lidar com situações de medo e incertezas, como uma internação”, relata o cardiologista. 


Música como tratamento estratégico

Mais do que apenas despertar alegria nos pacientes, a presença da música nos hospitais vai além de um simples entretenimento. Ela se estabelece como um instrumento terapêutico que impacta diretamente a saúde dos pacientes. A musicoterapeuta dos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, da frente de saúde do Grupo Marista, Telma Rodrigues, explica que a música é inserida no tratamento de acordo com um planejamento personalizado de  práticas integrativas para cada caso. “Realizamos uma investigação chamada anamnese socioemocional e espiritual, na qual traçamos um plano terapêutico que inclui abordagens de práticas integrativas. Nessas ações, a música quase sempre faz parte do tratamento”, explica. 

Pode parecer um método simples, mas a musicoterapia precisa ser aplicada de forma estratégica para garantir resultados benéficos aos pacientes. “Em situações de medo extremo, a escolha de melodias com tons menores, por exemplo, pode acalmar, trazendo uma sensação de afeto e confiança”, descreve a musicoterapeuta. Além disso, a letra e o ritmo da música desempenham um papel crucial na criação de um ambiente de conforto. A combinação de melodia, letra e o cuidado envolvido na prática da musicoterapia auxilia o paciente a enfrentar a internação com mais serenidade e esperança.


Um som, múltiplos benefícios 

A música pode ser utilizada para promover o bem-estar em diversas áreas da medicina, desde a saúde mental e sintomas físicos até os cuidados paliativos. Um dos aspectos mais importantes da musicoterapia é o fato de a memória musical ser a última a se perder em casos de demência e outras condições neurodegenerativas. As memórias associadas à música estão armazenadas em áreas profundas do cérebro, ligadas às emoções e à identidade. Por isso, uma simples melodia pode ativar memórias e conexões afetivas, mesmo em pacientes com estágios avançados de comprometimento cognitivo. “A musicoterapia é uma ferramenta valiosa, não apenas para reabilitação, mas também para proporcionar conforto e qualidade de vida àqueles que enfrentam as mais diversas e desafiadoras doenças. Além disso, é parte essencial de um suporte multidisciplinar que torna o tratamento mais humanizado e empático”, finaliza Telma.

 

Hospital Universitário Cajuru


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