Durante o bloco, especialistas enfatizaram o papel do diagnóstico laboratorial no manejo de doenças pediátricas
Questões fundamentais no campo da pediatria e da medicina
laboratorial foram tema de uma mesa-redonda, nesta quarta-feira (11), como
parte do 56º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial,
que movimenta a agenda soteropolitana até quinta. O evento, coordenado pela
Dra. Luciana Ferreira Franco (SP), médica patologista clínica e diretora
Administrativa e Financeira da Sociedade Brasileira de Patologia
Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), trouxe especialistas que compartilharam
seus conhecimentos sobre valores de referência pediátricos, intoxicações
medicamentosas, nefrolitíase e doenças reumatológicas em crianças, destacando o
papel crucial do diagnóstico laboratorial.
A sessão foi iniciada com a apresentação da Dra. Natasha Slhessarenko,
médica pediatra e patologista clínica, que discutiu como definir valores de
referência em pediatria. Slhessarenko destacou que, ao contrário dos adultos,
as faixas etárias pediátricas exigem parâmetros únicos devido às variações biológicas
conforme o crescimento e desenvolvimento da criança.
Ela detalhou o processo de coleta de dados para criar valores
normais de exames laboratoriais em crianças de diferentes idades, ressaltando a
importância de populações de referência bem definidas para garantir diagnósticos
precisos. Segundo a especialista, essa etapa é essencial para evitar
diagnósticos errôneos e tratamentos inadequados.
“Um exame de laboratório, um resultado por si, fala muito pouco.
Na tomada de decisão clínica, o médico precisa avaliar esse resultado comparado
com alguma coisa, que é exatamente o intervalo de referência. Existe pouco
estudo no mundo sobre intervalo de referência de criança por causa das
limitações que eu mostrei na aula”, salientou.
Sobre as principais limitações ela citou o fato de que criança não
faz muito exame, tem uma faixa etária que vai desde o feto até o adolescente.
“Vai chegar criança com menos de 1 kg. Então, eu também tenho uma limitação de
quanto sangue tirar daquele bebê. Tudo isso limita a possibilidade de fazer
estudos com um um número muito grande de crianças e, obviamente, isso limita a
definição de intervalos de referência. Não podemos usar o intervalo de um
adulto e, infelizmente, isso acontece”, lamentou a pediatra.
Intoxicações
medicamentosas e avaliação laboratorial
O Dr. Alvaro Pulchinelli Jr, patologista clínico e presidente da
SBPC/ML, abordou o tema das intoxicações medicamentosas em crianças e a
importância da avaliação laboratorial nesse contexto. Ele apresentou dados
alarmantes sobre o aumento de casos de intoxicação por medicamentos de uso
comum em crianças, especialmente analgésicos e anti-inflamatórios.
Pulchinelli enfatizou a importância de protocolos rápidos de
atendimento e monitoramento laboratorial para evitar complicações mais graves.
“O principal é evitarmos que a intoxicação aconteça, fazendo o uso racional dos
medicamentos, tendo o devido cuidado com produtos de limpeza, inseticidas e
defensivos agrícolas. A atenção deve ser máxima, principalmente em ambiente
doméstico”, alertou.
Segundo ele, caso haja suspeita de intoxicação, a indicação é não
esperar, procurar imediatamente o atendimento médico. “Quanto mais rápido o
diagnóstico, mais promissora é a resposta. Há antídotos específicos e o
estabelecimento precoce do tratamento ajuda a ter um bom prognóstico”, indicou.
Nefrolitíase
na infância
Médico patologista clínico e ex-presidente da SBPC/ML, Dr. Adagmar
Andriolo (SP) trouxe dados sobre a nefrolitíase (cálculos renais) na infância,
um tema muitas vezes subestimado. Ele explicou que, embora a doença seja mais
comum em adultos, sua incidência tem aumentado em crianças.
Andriolo destacou o papel dos exames laboratoriais na
identificação de alterações metabólicas que predispõem à formação de cálculos.
“Calculose é uma doença caracteristicamente recorrente, ou seja, o indivíduo
que faz um cálculo, tem um risco aumentado de fazer outros. Na instituição do
tratamento para prevenir a recorrência, o paciente vai precisar de
monitorização laboratorial, seja na medida da excreção de cálcio urinário ou de
ácido úrico, ou de cistina, além de outros exames que eventualmente possam ser
necessários, como por exemplo um PTH, se a gente suspeitar que aquele cálculo
foi formado por conta de uma hiperparatireoide”, afirmou.
E ressaltou a importância de um diagnóstico precoce para evitar
complicações futuras, como insuficiência renal. Em todos os casos, recomenda
Dr. Adagmar, o aumento da ingesta hídrica é medida fundamental e não há
indicação de medidas restritivas seja em relação à dieta de cálcio ou de oxalato,
que são substâncias comumente encontradas nos cálculos urinários.
“É importante que o laboratório esteja preparado para fazer essas
dosagens. Nós sabemos que essas são dosagens habituais, simples, mas existe uma
análise que é mais importante, que é a bioquímica do cálculo, porque com o
resultado a gente pode eventualmente até identificar a causa da formação do
cálculo”, ressaltou.
Doenças
reumatológicas na infância e o papel do laboratório
O Dr. Sandro Perazzio, reumatologista e imunologista do Grupo
Fleury, discutiu como o laboratório pode auxiliar no diagnóstico de doenças
reumatológicas em crianças. Ele explicou que essas condições, como artrite
idiopática juvenil e lúpus eritematoso sistêmico, são desafiadoras de
diagnosticar devido à complexidade de seus sintomas. Perazzio mostrou como os
testes laboratoriais, incluindo marcadores inflamatórios, autoanticorpos e
estudos genéticos, são essenciais para confirmar o diagnóstico e monitorar a
progressão da doença. Ele enfatizou que, com o auxílio laboratorial, é possível
estabelecer um tratamento mais adequado, aumentando as chances de sucesso
terapêutico.
É fundamental termos uma medicina laboratorial bem feita, com
controle de qualidade adequado e com um portfólio de exames razoavelmente
especializados para dar diagnóstico. Estamos aqui falando de doenças mais raras
e individualizadas. Para cada uma delas tem um painel, um perfil de exame mais
específico.
A sessão de discussão final foi marcada por perguntas relevantes
sobre a aplicabilidade dos conhecimentos apresentados. Os participantes
demonstraram grande interesse em saber como incorporar essas práticas em seus
próprios laboratórios, com foco na melhoria da precisão diagnóstica e do
atendimento pediátrico. O evento mostrou-se fundamental para consolidar o papel
do diagnóstico laboratorial no manejo de doenças pediátricas, oferecendo novas
perspectivas para a medicina laboratorial em um contexto tão delicado quanto o
cuidado infantil.
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