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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

O que fazer em caso de intoxicações medicamentosas em crianças?

 Durante o bloco, especialistas enfatizaram o papel do diagnóstico laboratorial no manejo de doenças pediátricas

 

Questões fundamentais no campo da pediatria e da medicina laboratorial foram tema de uma mesa-redonda, nesta quarta-feira (11), como parte do 56º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, que movimenta a agenda soteropolitana até quinta. O evento, coordenado pela Dra. Luciana Ferreira Franco (SP), médica patologista clínica e diretora Administrativa e Financeira da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), trouxe especialistas que compartilharam seus conhecimentos sobre valores de referência pediátricos, intoxicações medicamentosas, nefrolitíase e doenças reumatológicas em crianças, destacando o papel crucial do diagnóstico laboratorial.

A sessão foi iniciada com a apresentação da Dra. Natasha Slhessarenko, médica pediatra e patologista clínica, que discutiu como definir valores de referência em pediatria. Slhessarenko destacou que, ao contrário dos adultos, as faixas etárias pediátricas exigem parâmetros únicos devido às variações biológicas conforme o crescimento e desenvolvimento da criança.

Ela detalhou o processo de coleta de dados para criar valores normais de exames laboratoriais em crianças de diferentes idades, ressaltando a importância de populações de referência bem definidas para garantir diagnósticos precisos. Segundo a especialista, essa etapa é essencial para evitar diagnósticos errôneos e tratamentos inadequados.

“Um exame de laboratório, um resultado por si, fala muito pouco. Na tomada de decisão clínica, o médico precisa avaliar esse resultado comparado com alguma coisa, que é exatamente o intervalo de referência. Existe pouco estudo no mundo sobre intervalo de referência de criança por causa das limitações que eu mostrei na aula”, salientou.

Sobre as principais limitações ela citou o fato de que criança não faz muito exame, tem uma faixa etária que vai desde o feto até o adolescente. “Vai chegar criança com menos de 1 kg. Então, eu também tenho uma limitação de quanto sangue tirar daquele bebê. Tudo isso limita a possibilidade de fazer estudos com um um número muito grande de crianças e, obviamente, isso limita a definição de intervalos de referência. Não podemos usar o intervalo de um adulto e, infelizmente, isso acontece”, lamentou a pediatra.
 

Intoxicações medicamentosas e avaliação laboratorial

O Dr. Alvaro Pulchinelli Jr, patologista clínico e presidente da SBPC/ML, abordou o tema das intoxicações medicamentosas em crianças e a importância da avaliação laboratorial nesse contexto. Ele apresentou dados alarmantes sobre o aumento de casos de intoxicação por medicamentos de uso comum em crianças, especialmente analgésicos e anti-inflamatórios.

Pulchinelli enfatizou a importância de protocolos rápidos de atendimento e monitoramento laboratorial para evitar complicações mais graves. “O principal é evitarmos que a intoxicação aconteça, fazendo o uso racional dos medicamentos, tendo o devido cuidado com produtos de limpeza, inseticidas e defensivos agrícolas. A atenção deve ser máxima, principalmente em ambiente doméstico”, alertou.

Segundo ele, caso haja suspeita de intoxicação, a indicação é não esperar, procurar imediatamente o atendimento médico. “Quanto mais rápido o diagnóstico, mais promissora é a resposta. Há antídotos específicos e o estabelecimento precoce do tratamento ajuda a ter um bom prognóstico”, indicou.
 

Nefrolitíase na infância

Médico patologista clínico e ex-presidente da SBPC/ML, Dr. Adagmar Andriolo (SP) trouxe dados sobre a nefrolitíase (cálculos renais) na infância, um tema muitas vezes subestimado. Ele explicou que, embora a doença seja mais comum em adultos, sua incidência tem aumentado em crianças.

Andriolo destacou o papel dos exames laboratoriais na identificação de alterações metabólicas que predispõem à formação de cálculos. “Calculose é uma doença caracteristicamente recorrente, ou seja, o indivíduo que faz um cálculo, tem um risco aumentado de fazer outros. Na instituição do tratamento para prevenir a recorrência, o paciente vai precisar de monitorização laboratorial, seja na medida da excreção de cálcio urinário ou de ácido úrico, ou de cistina, além de outros exames que eventualmente possam ser necessários, como por exemplo um PTH, se a gente suspeitar que aquele cálculo foi formado por conta de uma hiperparatireoide”, afirmou.

E ressaltou a importância de um diagnóstico precoce para evitar complicações futuras, como insuficiência renal. Em todos os casos, recomenda Dr. Adagmar, o aumento da ingesta hídrica é medida fundamental e não há indicação de medidas restritivas seja em relação à dieta de cálcio ou de oxalato, que são substâncias comumente encontradas nos cálculos urinários.

“É importante que o laboratório esteja preparado para fazer essas dosagens. Nós sabemos que essas são dosagens habituais, simples, mas existe uma análise que é mais importante, que é a bioquímica do cálculo, porque com o resultado a gente pode eventualmente até identificar a causa da formação do cálculo”, ressaltou.
 

Doenças reumatológicas na infância e o papel do laboratório

O Dr. Sandro Perazzio, reumatologista e imunologista do Grupo Fleury, discutiu como o laboratório pode auxiliar no diagnóstico de doenças reumatológicas em crianças. Ele explicou que essas condições, como artrite idiopática juvenil e lúpus eritematoso sistêmico, são desafiadoras de diagnosticar devido à complexidade de seus sintomas. Perazzio mostrou como os testes laboratoriais, incluindo marcadores inflamatórios, autoanticorpos e estudos genéticos, são essenciais para confirmar o diagnóstico e monitorar a progressão da doença. Ele enfatizou que, com o auxílio laboratorial, é possível estabelecer um tratamento mais adequado, aumentando as chances de sucesso terapêutico.

É fundamental termos uma medicina laboratorial bem feita, com controle de qualidade adequado e com um portfólio de exames razoavelmente especializados para dar diagnóstico. Estamos aqui falando de doenças mais raras e individualizadas. Para cada uma delas tem um painel, um perfil de exame mais específico.

A sessão de discussão final foi marcada por perguntas relevantes sobre a aplicabilidade dos conhecimentos apresentados. Os participantes demonstraram grande interesse em saber como incorporar essas práticas em seus próprios laboratórios, com foco na melhoria da precisão diagnóstica e do atendimento pediátrico. O evento mostrou-se fundamental para consolidar o papel do diagnóstico laboratorial no manejo de doenças pediátricas, oferecendo novas perspectivas para a medicina laboratorial em um contexto tão delicado quanto o cuidado infantil.


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