Pesquisa, encomendada pelo Alana, também mostra que oito em cada dez acreditam que a lei brasileira protege menos do que as de outros países
O que a população brasileira pensa sobre o uso da internet e de
redes sociais por crianças e adolescentes? Que opinião tem sobre os mecanismos
de proteção a elas no ambiente digital? Esse foi o tema da pesquisa Datafolha
encomendada pelo Instituto Alana que investiga a percepção sobre a atuação das
plataformas, o tempo gasto por crianças nas redes, o nível de conhecimento de pais
e mães sobre formas de monitorar esses acessos, e como veem a atuação das
empresas e do poder público quando se trata de manter crianças e adolescentes
seguros no ambiente digital.
Foram entrevistadas 2009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as
classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho, e os resultados da pesquisa
revelam preocupações consistentes, com amplo índice de concordância sobre a
vulnerabilidade das crianças nas redes sociais. Entre as principais percepções
apontadas está a de que nove em cada dez brasileiros acreditam que as empresas
não fazem o suficiente para proteger crianças e adolescentes, com resultados
muito similares entre pessoas sem (85%) e com filhos de entre 0 e 17 anos
(87%).
Entre os respondentes com filhos até 17 anos, as opções que mais
se destacaram em relação ao que as empresas podem fazer para proteger crianças
e adolescentes estão a comprovação de identidade dos usuários (56%), a
proibição de publicidade e venda de itens a crianças (42%) e a melhora no
atendimento e apoio ao consumidor em caso de denúncias (41%).
Outra das principais constatações da pesquisa foi a de que oito em
cada dez brasileiros (78%) acreditam que a lei brasileira protege menos as
crianças e adolescentes do que as de outros países, percentual ligeiramente
superior entre os entrevistados com filhos entre 0 e 17 anos (83%). Quando a
questão recai sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), sete em cada dez
brasileiros acreditam que ela não tem sido eficaz no combate à publicidade
infantil.
Os números expressivos mostram que há uma clara e generalizada
percepção de que as redes sociais e os ambientes digitais exercem grande
impacto sobre a saúde e o cotidiano das crianças e adolescentes:
- 93% concordam que as crianças e adolescentes estão ficando
viciadas em redes sociais;
- 92% concordam que é muito difícil para crianças e
adolescentes se defenderem sozinhas de violências e de conteúdos
inadequados para sua idade nas redes sociais;
- 87% concordam que a exibição de propagandas e
comerciais para crianças e adolescentes nas redes sociais incentiva o
consumo em excesso;
- 86% concordam que os conteúdos mais acessados
atualmente por crianças e adolescentes nas redes sociais não são adequados
para a idade deles;
- 84% concordam que as empresas fornecedoras de redes
sociais não apoiam as famílias adequadamente para que elas consigam
acompanhar o conteúdo que as crianças e adolescentes consomem;
- 83% concordam que as crianças e adolescentes têm fácil
acesso a conteúdos ou atividades impróprios para sua idade nas redes
sociais;
- e 83% concordam que o uso das redes sociais pelas
crianças e adolescentes hoje em dia traz mais malefícios que benefícios.
Responsabilidade do poder público ou das empresas?
Percepções divididas
A pesquisa aponta um empate quando se questiona os entrevistados
sobre quem é o principal responsável por combater o uso excessivo das redes
sociais: 41% dos brasileiros acreditam que é o poder público, mesmo percentual
dos que consideram que são as empresas de redes sociais. A percepção de que a
responsabilidade é do Estado aumenta de acordo com a idade dos entrevistados.
Outro dado de relevo mostra que a maioria da população brasileira
(53%) considera que 14 anos é a idade mínima adequada para realizar atividades
como usar redes sociais e aplicativos de mensagens, ter celular ou tablet próprio,
jogar jogos eletrônicos e assistir filmes por streaming sem supervisão
de adultos.
“A pesquisa e seus resultados expressivos mostram
que é realmente difundida a percepção de que a falta de ação das empresas no
sentido cumprir com seu dever constitucional de proteger as crianças e os adolescentes
no ambiente digital está impactando negativamente seu desenvolvimento
integral", avalia Maria Mello, co-lider do Eixo Digital e coordenadora do
programa Criança e Consumo, do Instituto Alana.
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