Em um mundo cada vez mais digitalizado, a internet se tornou uma parte de nossa vida diária, sendo quase inimaginável viver sem ela. Seja para trabalhar, estudar, fazer compras ou socializar, nossa dependência é tão profunda e abrangente que a mera sugestão de uma interrupção soa como uma sinopse de um filme de ficção científica distópico. No entanto, por mais aterrador que pareça, a ameaça de um “apocalipse da internet”, um cenário em que a rede deixe de funcionar por completo, é uma possibilidade muito mais real e iminente do que a maioria de nós gostaria de acreditar. Isso levanta uma questão pertinente: estamos verdadeiramente preparados para as implicações devastadoras que tal cenário catastrófico poderia ter em nossas vidas cotidianas e na infraestrutura da sociedade como um todo?
Recentemente, a NASA, renomada agência espacial dos Estados
Unidos, despertou preocupações globais ao chamar a atenção para a possibilidade
real de um apocalipse da internet. Segundo eles, um fluxo de vento solar
extremo, um fenômeno natural relativamente comum, poderia potencialmente afetar
a integridade dos cabos submarinos que atuam como a espinha dorsal da
conectividade global. Efetivamente, isso resultaria na interrupção do fornecimento
de conexão à internet na fonte, algo que poderia ser comparado ao ato de
desligar o suprimento de água de uma casa residencial ao danificar o cano
principal que fornece água para a casa na rua. Mas qual seria o verdadeiro
impacto, as ramificações de longo alcance para nós, os meros cidadãos, que
dependemos tão intensamente do sistema para quase todos os aspectos de nossas
vidas, desde a comunicação básica até as transações financeiras mais complexas?
Economia
Para compreender plenamente o impacto catastrófico que um apocalipse da internet poderia ter, é crucial começar considerando a economia. No Brasil, como em muitos outros países ao redor do mundo, a digitalização dos serviços financeiros é uma tendência em franca ascensão, impulsionada por avanços tecnológicos rápidos e pela demanda dos consumidores por conveniência e eficiência. Um exemplo claro disso é o Pix, um sistema de pagamento instantâneo pioneiro lançado pelo Banco Central do Brasil. Este sistema revolucionou completamente a forma como realizamos transações financeiras, permitindo-nos transferir dinheiro para qualquer pessoa ou empresa em questão de segundos, a qualquer hora do dia ou da noite, sete dias por semana, sem a necessidade de um banco ou outra instituição financeira como intermediário. Além disso, a utilização de cartões de crédito e débito, assim como a de plataformas de pagamento digital, tem aumentado de maneira exponencial.
Agora, imagine um cenário em que todos esses sistemas
inovadores e convenientes fossem desligados de uma só vez. A possibilidade de
fazer compras online, pagar contas, transferir dinheiro para amigos e
familiares ou receber salários e outras formas de renda desapareceria
instantaneamente. Empresas de todos os tamanhos, desde pequenas startups até corporações
multinacionais, perderiam a capacidade de vender seus produtos ou serviços
online, uma fonte crucial de receita na era digital. A economia, cada vez mais
dependente de transações digitais e da infraestrutura tecnológica que a
sustenta, enfrentaria um colapso catastrófico. Considerando que o uso de
dinheiro físico está diminuindo em uma taxa acelerada, como poderíamos nos
adaptar para continuar pagando nossas contas, fazer compras e, em última
análise, manter a roda da economia girando?
Comunicação
No entanto, os impactos de um apocalipse da internet iriam muito além da economia. Nossas infraestruturas críticas, aquelas que sustentam a vida cotidiana como conhecemos, como o fornecimento de energia e água, também são cada vez mais gerenciadas e controladas por sistemas digitais. Uma interrupção do sistema de proporções apocalípticas poderia potencialmente deixar cidades inteiras sem energia elétrica ou água, criando um cenário de caos e crise. Estamos realmente tomando medidas adequadas para proteger essas infraestruturas vitais contra tal ameaça?
Além disso, é importante reconhecer que a internet se tornou uma
ferramenta essencial para a liberdade de expressão e a democracia. Nós, como
cidadãos, utilizamos a rede para nos informar sobre eventos atuais, expressar
nossas opiniões, participar de debates políticos e sociais e, em última
análise, moldar o curso da sociedade. Mas, e se o sistema fosse repentinamente
desligado? Seríamos capazes de preservar nossa liberdade de expressão e manter
a democracia sem a sua presença? A internet se tornou a praça pública do século
XXI, permitindo uma troca de ideias e opiniões sem precedentes. Sua ausência
certamente afetaria nossa capacidade de comunicação e participação democrática.
Proteção
A ideia de um apocalipse da internet pode parecer um pesadelo
aterrador. No entanto, em vez de nos assustar ou causar pânico, devemos usar
esse cenário potencial como um lembrete agudo da importância de proteger nossa
rede e nos preparar para qualquer eventualidade. Afinal, ela deixou de ser
apenas uma ferramenta conveniente para nossas vidas diárias e se tornou uma
parte essencial e indissociável de nossa sociedade moderna. E, como tal,
devemos empregar todos os esforços possíveis para protegê-la, preservando sua
integridade e funcionalidade.
Portanto, a pergunta que precisamos fazer não é se um apocalipse
da internet poderia acontecer, mas se estamos preparados para enfrentá-lo quando
ocorrer. Existem planos para caso isto ocorra em âmbito governamental? Ou
estamos caminhando inconscientemente para um apagão global da internet, uma
situação que pode ter implicações devastadoras para a sociedade como a
conhecemos? Mais importante ainda, o mundo está realmente pronto para enfrentar
um apagão total da internet? E, se o dinheiro físico se tornar cada vez mais
raro, como poderemos manter nossa economia funcionando sem a infraestrutura da
rede para apoiá-la?
É fácil afirmar com segurança que a necessidade de segurança cibernética nunca foi tão vital. A infraestrutura de internet é frágil e, ao mesmo tempo, o quão intrinsecamente estamos todos ligados a ela. Precisamos nos perguntar se estamos fazendo o suficiente para proteger nossa internet, ou se estamos avançando para um apagão global sem o devido preparo. Mais importante ainda, estamos prontos para lidar com as implicações de um mundo sem internet? Agora é o momento de nos prepararmos para um mundo no qual este sistema, por mais incrível que pareça, pode não estar sempre ao nosso alcance.
Marco Tulio Chaparro - Presidente do Sindicato das Empresas de Serviço de Informática do Distrito Federal (Sindesei/DF)
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