A safra
brasileira será uma das mais prejudicadas do mundo pelo fenômeno climático El
Niño, que deve provocar calor intenso e seca a partir do 4º. trimestre e
principalmente em 2024. A previsão é da Coface, líder global em seguro de
crédito e serviços de informação comercial que realiza levantamentos sobre
setores econômicos em mais de 100 países.
De acordo com o
estudo, o El Niño trará incertezas para a produção de commodities agrícolas,
principalmente cereais, açúcar, óleo de palma e frutas cítricas, prejudicando,
além do Brasil, países como Indonésia e Austrália.
A Oscilação Sul
do El Niño é um fenômeno oceânico-atmosférico cujas origens estão nas variações
anormais das temperaturas da água superficial no Pacífico Central e Oriental
(costa da América Latina). Ela é composta por dois fenômenos opostos (La Niña e
El Niño) que historicamente ocorrem a cada 2 a 3 anos. La Niña traz um clima
mais frio e úmido, enquanto El Niño traz clima mais quente e seco.
A Coface lembra,
no entanto, que desta vez El Niño está acontecendo menos de um ano após o
último episódio de La Niña, ou seja, com muito mais rapidez do que as
frequências históricas. Essa antecipação sugere um aumento na frequência desse
tipo de fenômeno climático, o que pode ter consequências prejudiciais a longo
prazo, alerta o estudo. O fenômeno tende a amplificar os efeitos negativos das
mudanças climáticas na Ásia-Pacífico, África do Sul e Leste e nas Américas. A
Europa, o Oriente Médio e o Norte da África não são afetados pelo El
Niño.
Como o Brasil
está entre os países impactados pelo fenômeno climático, não será surpresa se
os preços dos alimentos aumentarem no próximo ano, assim como deverá acontecer
em vários outros países. A análise da Coface lembra que episódios do El Niño
nos últimos 20 anos geralmente levaram a pressões inflacionárias nos preços dos
alimentos.
A análise global
da Coface alerta que colheitas mais pobres colocarão pressão nas cadeias de
valor agroalimentares como um todo, e é provável que 2024 seja um ano de
extrema tensão entre oferta e demanda para o setor: “De fato, as perturbações
terão um impacto negativo tanto na produção dos principais países exportadores
(Austrália, Brasil, EUA) quanto nos pontos demográficos quentes que deveriam
ser autossuficientes em alimentos (China, Índia). A pressão sobre os
suprimentos, portanto, será dupla”
Outro ponto
lembrado no estudo da Coface foi o impacto no emprego: “Países onde o setor
agrícola é predominante podem sofrer perdas significativas de renda e emprego.
Por exemplo, a Indonésia, onde a agricultura representa 13% do PIB e 32% dos
empregos, pode ser duramente afetada pelo impacto negativo do El Niño na
produção de arroz e óleo de palma. No médio prazo, o país enfrenta prazos
políticos importantes: as próximas eleições gerais indonésias (presidenciais,
legislativas e senatoriais) estão programadas para fevereiro de 2024. As
dificuldades econômicas causadas pelas incertezas das condições climáticas
podem, portanto, ter um grande impacto na estabilidade do país”.
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