Técnica desenvolvida por grupos da Unesp e colaboradores espanhóis evita que o efeito antienvelhecimento proporcionado pelas vitaminas C e B3 seja diminuído após contato do produto com o ar ou a radiação solar (imagem: Leonardo Delello Di Filippo/Unesp)
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da
Universidade de Valência, na Espanha, desenvolveram micropartículas com
substâncias antioxidantes capazes de combater o envelhecimento precoce da pele
e de permanecer estáveis mesmo em contato com o oxigênio ou a luz solar. O
sistema produzido tem como objetivo prolongar a entrega desses ativos para a
pele, proporcionando um maior tempo de ação.
No estudo, divulgado na revista
científica Life, os pesquisadores trabalharam
com o ácido ascórbico (vitamina C) e a nicotinamida (vitamina B3). As duas
substâncias são conhecidas por seus efeitos protetores contra danos causados
por poluição, radiação ultravioleta e radicais livres. Ambas estimulam a
síntese de colágeno, protegem contra o fotoenvelhecimento induzido pelo sol e
têm forte ação despigmentante, ou seja, eliminam manchas. Além disso, a
vitamina B3 ainda combate processos inflamatórios e a produção de sebo, por isso
é muito bem-vinda no tratamento de acne e rosácea.
No
entanto, essas moléculas são bastante instáveis e se degradam facilmente quando
há alterações de pH, temperatura, exposição à luz solar, água ou ao oxigênio, o
que faz com que seja um desafio sua utilização na formulação de cosméticos.
Contornar essa questão foi o foco do trabalho, que recebeu financiamento
da FAPESP por meio de cinco projetos (15/19097-0, 16/20957-6, 15/02619-3, 20/16573-3 e 19/25125-7).
Para isso, os cientistas lançaram mão da quitosana, composto extraído
do exoesqueleto de crustáceos que serve de compartimento protetor
para os ativos, ajudando a prevenir a oxidação prematura dos antioxidantes, e
ainda tem propriedades antimicrobianas, o que é muito interessante no uso de
produtos para o tratamento da pele.
“Para produzir as micropartículas, adicionamos um solvente capaz de
misturar as substâncias, no caso o etanol. Em seguida, utilizamos um processo
chamado secagem por spray dryer, que
basicamente é um secador enorme com condições de temperatura e pressão
controladas para secar o solvente originando um pó alaranjado composto pelas
partículas bioativas”, explica Leonardo Delello Di Filippo,
doutorando na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara (FCFAr-Unesp) e
primeiro autor do trabalho.
Durante o
procedimento, foram adicionados ainda outros materiais com o objetivo de
oferecer maior uniformidade à superfície das partículas, tornando a liberação
dos ativos mais regular e previsível. Cria-se, dessa forma, um sistema de
estocagem capaz de reter controladamente a liberação gradual dessas
substâncias, permitindo maior tempo de contato com a pele.
“Podemos
fazer uma analogia com uma viagem de carro, se a estrada for toda esburacada, a
chance de acontecer um acidente é maior, mas se ela for lisinha, como ficou a
superfície das partículas, tudo corre melhor”, compara Di Filippo.
Testes
pré-clínicos
O passo seguinte foi testá-las. Para isso foram utilizados modelos
laboratoriais in vitro e pele de orelha de
porco, que tem tipos de células, estrutura e espessura muito parecidas com a
pele humana. Os dois processos se complementaram e comprovaram que as
micropartículas obtidas pelos cientistas conseguiram prolongar a ação dos
ativos na pele por causa da liberação controlada dos ativos, apresentaram ação
antibacteriana, ajudando a proteger as camadas do tecido se elas estiverem
comprometidas por alguma contaminação e ainda foram capazes de ajudar na sua
própria conservação.
Além de
todos os benefícios oferecidos à formulação dos produtos para a pele, a técnica
utilizada na produção das micropartículas tem a vantagem de ser facilmente
reprodutível e escalonável na indústria. “Trata-se de um produto multiuso com
valor agregado por ter uma tecnologia diferenciada e por todas essas razões a
sua utilização na fabricação de cosméticos é um sonho cada vez mais real”, diz
Di Filippo.
De acordo
com Marcos Antonio Corrêa, professor do Departamento de Fármacos e Medicamentos
da FCFAr-Unesp e orientador de Di Filippo, a próxima etapa envolve a produção
das micropartículas em escala industrial, de modo a permitir que as empresas
fabricantes de cosméticos tenham acesso a essa tecnologia. “O grupo de pesquisa
já foi contatado por empresa interessada e as negociações estão em andamento”,
revela.
O artigo In Vitro Skin Co-Delivery and Antibacterial Properties of Chitosan-Based Microparticles Containing Ascorbic Acid and Nicotinamide pode ser lido em: www.mdpi.com/2075-1729/12/7/1049/htm.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/cientistas-usam-quitosana-para-criar-microparticulas-antioxidantes-mais-estaveis-para-cosmeticos/39986/
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