Neurologista da
Mayo Clinic esclarece as principais dúvidas sobre causas, diagnóstico,
tratamento e prevenção
A doença de Alzheimer provoca uma progressiva
deterioração das funções cerebrais, como perda de memória, da linguagem, das
habilidades espaciais e autonomia e segundo a Associação Internacional de
Alzheimer (ADI), o número de pessoas com a condição deve atingir 75 milhões em
todo o mundo em 2030. Apesar de ser muito conhecida, ainda existem muitas
dúvidas e conceitos equivocados sobre a enfermidade. Neste setembro lilás, mês
da conscientização sobre o Alzheimer, o Dr.
Ronald Petersen,
neurologista e diretor do
Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer da
Mayo Clinic, esclarece algumas dúvidas sobre o assunto. Confira
alguns:
Alzheimer e Demência são a
mesma coisa.
MITO. Demência e Alzheimer são coisas diferentes. A
demência é uma síndrome, uma síndrome onde uma pessoa não pensa tão bem quanto
antes, se sente mais perdida, com pouco mais de dificuldade de encontrar
palavras, têm também dificuldades espaciais, de concentração e atenção e essas
dificuldades afetam seu funcionamento diário. Essa pessoa não pode fazer o que
fazia antes, pois sua atividade racional fica comprometida. Quando
falamos sobre possíveis causas da demência uma dessas doenças é o Alzheimer,
sendo uma doença que afeta as proteínas do cérebro TAU e amiloide que
causam a demência. É importante ressaltar que o Alzheimer não é a única causa
de demência, ela também pode ser causada por um AVC , tumores, hidrocefalia e
uma variedade de causas que contribuem para o aparecimento dessa síndrome. O
Alzheimer é uma das formas de demência.
Ansiedade, depressão e apatia
podem ser sintomas do Alzheimer
VERDADE. O Alzheimer também pode apresentar
características neuropsiquiátricas como depressão, ansiedade e apatia. Pessoas
no início da enfermidade tendem a se retirar para participar menos, isolam-se
do ambiente e começam a ter uma mudança em seu estilo de personalidade, pois
sentem o aparecimento do Alzheimer. Às vezes, há pessoas que sentem que não são
tão cognitivamente capazes de interagir com outras pessoas em conversas como
eram, então eles tendem a se retirar e a ficar mais apáticos. Em resumo há,
sim, pequenas mudanças comportamentais, além das cognitivas que também podem
ser sinais iniciais dessas doenças degenerativas.
Alzheimer é uma doença
hereditária
EM PARTES. Há provavelmente componentes genéticos
na doença de Alzheimer. Como todas as doenças, existe uma forma completamente
genética, mas são 9% das pessoas que têm Alzheimer por esta via. Nessas
famílias com essa forma genética algumas pessoas podem desenvolver sintomas
clínicos de maneira precoce. Na Colômbia há cerca de 40, 50
famílias que são intensamente estudadas sobre a predisposição genética e
se uma família apresenta essa mutação genética que causa a doença seus membros
correm o risco de ter a doença 50/50, mas do ponto de vista geral é apenas 1%
das pessoas que desenvolvem a doença tem esse gene. As outras 99% têm a doença
de maneira esporádica e não determinadas geneticamente.
Sim, se você tem doença de Alzheimer em sua família
é preferível que você faça uma autópsia com um biomarcador de Alzheimer.
Entretanto, mesmo se você tiver estas características genéticas não significa
que você vai desenvolver a enfermidade. A genética é importante, mas o estilo
de vida pode impactar na probabilidade de deterioração neurológica. Como, por
exemplo, exercício, atividade intelectual, dieta, manter-se envolvido em suas
redes sociais, boa higiene do sono, redução do estresse. Todos esses são
fatores que podem ter um impacto no desenvolvimento de comprometimento
cognitivo e demência ao longo do tempo.
Suplementos de Ômega 3 podem
prevenir o aparecimento da doença
MITO. Existem cerca de 13 estudos referidos a
suplementos para problemas de saúde cerebral e envelhecimento, mas em resumo
podemos concluir que se você não é deficiente de vitamina B12 , vitamina
D ou cálcio, se você não tiver esses problemas não há boas evidências clínicas
de que tomar esses suplementos acima dos níveis normais seja benéfico,
então toda essa publicidade, que vemos na televisão, na mídia para promover a
saúde mental ou sua saúde são bastante sem fundamento, mas tendo dito isso eu
acredito que ácidos graxos ômega 3 são muito importantes para a saúde
vascular e a saúde do cérebro em geral. Se eles estão presentes em uma dieta,
nos alimentos que consumimos no dia-a-dia isso pode ser ótimo, entretanto é
importante dizer que não existem dados que comprovem que tomar suplementos ou
comprimidos seja benéfico.
Dietas cetogênicas como a Keto
melhoram a atividade cognitiva e podem prevenir o Alzheimer
EM PARTES. Existem de fato alguns resultados que
essa dieta pode beneficiar a nossa capacidade de pensar por conta do
processamento da glicose e da insulina no cérebro. Eu acredito que uma dieta
mediterrânea, uma alimentação saudável com vegetais e peixes já pode ajudar na
saúde vascular e cerebral. Visto que o Alzheimer é uma enfermidade devido a
problemas subjacentes do metabolismo, a dieta é boa escolha, principalmente,
pois pode ser bom para o controle de peso e controle de glicose. Acho que desde
de que contribua para um estilo de vida saudável isso pode maximizar as funções
cognitivas. Entretanto, dizer que uma dieta cetogênica vai prevenir ou tratar a
doença de Alzheimer é bastante especulativo.
A COVID-19 pode piorar
sintomas de Alzheimer ou até acelerar o aparecimento de alguns sintomas
VERDADE. Eu creio que os dados sugerem que,
por certo, há formas de COVID-19 que podem afetar o cérebro e a cognição. Se isso
se deve à inflamação que ocorre no cérebro ou ao vírus que ingressa nas células
neurais, não está claro no momento, mas o primeiro é mais provável. A condição
inflamatória que ocorre devido à infecção do COVID, tem impacto na função
cerebral e isso pode acelerar as condições neurodegenerativas já presentes.
Aqui estamos falando mais de demência do que de Alzheimer especificamente, acho
que não sabemos o impacto do poder do vírus nas proteínas subjacentes da doença
de Alzheimer, mas claramente em relação ao envelhecimento, função cognitiva e
demências, o COVID tem um papel. Vamos continuar investigando.
O Alzheimer é mais comum em
mulheres do que em homens
VERDADE. Em geral, a prevalência de demência
causada pelo Alzheimer prevalece mais em mulheres que em homens. Nós pensávamos
anteriormente que como o envelhecimento é um fator de risco para a demência e a
doença Alzheimer e no geral as mulheres tendem a viver mais, isso seria a causa
dessa prevalência, mas isso pode ser uma resposta complicada, pois também pode
estar ligado a razões biológicas que predispõem as mulheres a desenvolver a
doença de Alzheimer em uma taxa maior do que os homens. Há uma iniciativa das
mulheres de um estudo que analisa envelhecimento das mulheres e os estrogênios,
hormônios e se eles podem ter a capacidade de aumentar a probabilidade de ter
Alzheimer. Resumindo, como existem mais mulheres do que homens, há mais
mulheres também apresentando a doença, mas pode haver uma predisposição
biológica que promova o processamento incorreto de amilóide e Tau.
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