Transtorno pode
ser equiparado à obsessão por jogos de azar e uso excessivo de celulares. Além
de problemas financeiros, obsessão por criptomoedas pode causar prejuízos à
saúde. Crédito: Canva
Promessa de enriquecimento rápido e fácil como
“renda alternativa” em tempos de crise econômica, em qualquer lugar do mundo, a
qualquer dia ou hora, sem estar sob a observância ou regras de nenhum banco ou
governo, são algumas das promessas das criptomoedas;
qualquer forma de moeda digital ou virtual que use criptografia para a
realização de transações e sem autoridade central de emissão ou regulação.
Tais características tornam a moeda mais volátil se
comparada a mercados tradicionais, e essa volatilidade leva os traders (como
são chamados os negociadores) a um estado de quase hipnose, ao passarem dias e
noites analisando ação de preço e padrões de gráficos de diversas criptomoedas a fim de ganhar cada vez mais.
Falando de aspectos de saúde mental, o “trader”
pode desenvolver um transtorno patológico de compulsão ou dependência.
Associações Médicas e estudiosos tem buscado separar estes “vícios” em químicos
e não químicos. Entenda-se por não químico aqueles que estão associados a meios
tecnológicos, games, jogos de azar ou compras. “O mercado de criptomoedas
tem todos os elementos necessários para uma pessoa desenvolver uma dependência.
A possibilidade de enriquecimento rápido promove fortes emoções e ativa a
circuitaria cerebral ligada a reforço positivo. Para as pessoas vulneráveis
pode ser um grande risco”, explica o psiquiatra e diretor técnico da Clínica
Revitalis, Sergio Rocha.
Ainda de acordo com o especialista, dadas as
devidas proporções, a negociação de criptomoedas pode ser
comparada ao ciclo de apostas de jogadores em cassinos. A diferença é que no
mercado de ações e criptomoedas isso fica disfarçado sob
um manto de negociação profissional. Mas os sintomas e perdas são absolutamente
semelhantes a qualquer dependente de outras substâncias ou comportamentos.
Nesse cenário, hospitais ao redor do mundo e
profissionais da saúde perceberem um aumento de internações para tratar da
obsessão pelo mercado de criptomoedas. O Dr. Sérgio Rocha
alerta que pessoas dependentes de jogos de azar são as que mais tentam o
suicídio se comparadas a qualquer outra dependência ou compulsão. A maioria
absoluta das pessoas que enveredam nesse mundo acumula enormes perdas e
dívidas, o que gera um sentimento de impotência e vergonha, além da derrocada
financeira.
Observando mais de perto a obsessão pelo mercado de
criptomoedas, percebe-se que ela pode ser o resultado de
uma soma da ludopatia - entendida como um tipo de transtorno psicológico
caracterizado pelo vício em jogos de azar – e Nomofobia – acrônimo surgido na
Inglaterra a partir da expressão “no-mobile” (sem celular, em tradução livre ao
português) e que hoje se refere ao medo de ficar sem computador ou internet.
Estudo divulgado pela Digital Turbine, mostra que
20% dos brasileiros não ficam mais de 30 minutos longe do celular. Outra
pesquisa diz que o Brasil ocupa o 4º lugar do ranking de pessoas viciadas em
celular.
Segundo Rocha, em muito pouco tempo desenvolvemos
uma enorme interação e relação de dependência com novas tecnologias para nos
mantermos atualizados e socialmente ativos, migrando em massa para esse
ambiente, ficando viciados em likes e visualizações.
“O efeito de estímulos ligados ao prazer, do
reforço positivo resultado de reconhecimento social virtual também promove
liberação de neurotransmissores e ativação de redes neurais específicas. Uma
vez ativadas elas ajudaram a reforçar o desejo de interagir com o estímulo cada
vez mais”, afirma.
Vale lembrar que um dos fatores que ajuda a
aumentar o número de usuários de qualquer objeto ou substância é a facilidade
de acesso a mesma. A universalização dos jogos por meio da internet com certeza
contribuiu para o aumento do número de pessoas adictas em jogos assim como
também aumentou a gravidade dos que já tinham a doença desenvolvida.
Abaixo os sinais que podem indicar o
desenvolvimento da obsessão pelo mercado de criptomoedas:
1. Estreitamento de repertório
pessoal;
2. Necessidade cada vez maior de
interagir com o estímulo de escolha em detrimento de claras perdas em outras
áreas da vida.
3. Troca de atividades, pessoas e
crenças que antes eram muito valorizadas, pelo objeto da compulsão em questão;
4. Sensação de distanciamento de
amigos e familiares;
5. Perda de concentração em atividades
não relacionados à obsessão;
6. Aumento progressivo de investimentos
em criptomoedas;
7. Súbitos pedidos de empréstimos ou
apoio financeiro.
Dr. Sérgio Rocha - Médico especialista em Psiquiatria, fez residência médica pela Marinha
em 2006. Em 2007 fez pós graduação latu sensu em Psiquiatria pela PUC-Rio,
sendo convidado em 2009 para ser professor de psicofarmacologia e coordenador
da pós-graduação em Psiquiatria da PUC-Rio, atuando assim até 2017. Também é
mestre em Neurociências pela IAEU, BAR -- Espanha (2015), especialista em
Dependência Química pela UNIFESP (2017) e pós graduado em Psicopatologia
Farmacêutica pela Santa Case de São Paulo (2019). Atuou na Clínica Revitalis
como Diretor Técnico desde sua fundação em 2013.
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