A escola deve ser um ambiente de acolhimento, aprendizagem e troca de conhecimentos. Recentemente, 26 alunos de uma escola estadual de Recife (PE) passaram mal com falta de ar, tremor e crise de choro. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) informou que os alunos tiveram uma crise de ansiedade.
Especialistas em educação e neurociências explicaram o que desencadeou o surto
coletivo e o que as escolas podem fazer para lidarem da melhor forma possível
com os estudantes, no momento atual.
Como o episódio aconteceu?
Lucas Briquez, educador e CEO da Edtech Asas Educação explica: "o limiar
de percepção de esforço dos estudantes ficou muito mais baixo durante a
pandemia. Professores e gestores escolares tratam a situação como se fosse uma
espécie de preguiça ou falta de força de vontade, mas é necessário primeiramente
compreender que a rotina das crianças sofreu muitas mudanças e que essas
mudanças desencadearam alterações cerebrais, agora, o sistema cognitivo vai
demorar um pouco para se acostumar a receber a mesma quantidade de estímulos
que recebia anteriormente, nas atuais circunstâncias os cérebros dos alunos
comunicaram aos corpos que estes estavam vivendo uma situação de perigo”,
disse.
Lucas explicou que quando você não entende algo o seu nível de ansiedade
naturalmente sobe, quando você, em seguida, passa a compreender essa nova
informação o seu nível de ansiedade cai de forma abrupta. “Essa queda causa uma
sensação de prazer, um estímulo de recompensa, quando esse momento de prazer
ainda é enfatizado de forma positiva, o estímulo e a busca pela recompensa se torna
ainda maior, dessa forma o estudante passa a sentir aquele prazer intelectual,
começa a gostar de aprender. O problema é que dependendo da potência desse
estímulo inicial o aluno pode ter uma crise de ansiedade, e mais, por conta dos
neurônios espelho, ver alguém tendo uma crise de ansiedade pode levar outra
pessoa a entrar em uma crise de ansiedade também, misture as duas coisas e aí
está a razão do ocorrido."
O que as escolas podem fazer para ajudar?
O especialista afirma que “o educador tem que partir do princípio que, por mais
que entenda que o aluno não corre um risco sério de vida ou algo assim, o corpo
dele está entendo a situação dessa forma, a partir dessa compreensão poderá se
conectar com esse aluno e se utilizar do tom de voz e da respiração para tentar
acalmar o mesmo."
A diretora pedagógica e neuropsicopedagoga Georgya Corrêa complementou
explicando que esse período de pandemia manteve os estudantes afastados do
processo escolar e, ao mesmo tempo, vivenciando momentos que lhes traziam muitas
angústias. “No entanto, no que se diz a rotina de estudos, eles foram, de certa
forma, poupados de algumas responsabilidades e isso fez com que eles perdessem
o hábito de serem constantemente avaliados para demonstrarem seus
conhecimentos”.
A diretora também falou sobre a contribuição necessária da escola em relação a
preparação dos alunos. "Como os estudantes estão sendo preparados pela
escola para estarem novamente nessa situação de "cobrança", de
verificação dos resultados dos conhecimentos adquiridos? Porque uma avaliação
traz essa pressão, já que verifica a compreensão e fixação de habilidades e
competências", disse.
Georgya afirma que mediante a metodologia utilizada pela Teia, é necessário que
seja realizado o processo de readaptação do ambiente escolar, para que,
gradativamente os estudantes se acostumem com os estímulos, de forma que
estejam sempre evoluindo, mas que não entrem em um estado de medo
"precisamos encontrar a justa medida entre o estar confortável demais, e
por isso não estar sendo desafiado o suficiente e a medida oposta que é estar
sendo desafiado em um nível que passa a não suportar mais o ambiente
escolar", finaliza.
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