Evidências científicas já foram
detectadas em outras epidemias como SARS e MERS e estudos apontam para um
caminho semelhante com a Covid-19. Perda de memória recente e dificuldade de
concentração são algumas alterações e demandam tratamento
Os questionamentos
para as sequelas, tanto físicas quanto emocionais, causadas pela pandemia ainda
estão longe de serem totalmente respondidos, mas os estudos já indicam alguns
cenários das heranças que ficarão na população, e principalmente, nos
pacientes. Como um dos principais problemas, a saúde mental tem sido alvo de
alerta para transtornos psíquicos que podem ser ocasionados direta ou
indiretamente pelo vírus e especialistas sugerem cuidados ainda mais
específicos durante o processo, que ganham ainda mais destaque no mês de
setembro, quando a atenção para a saúde mental fica em evidência.
De acordo com o psicólogo clínico da Amparo Saúde, Dr. Caio Machado, em um
cenário pandêmico, é comum observar o crescimento de uma percepção de risco que
desencadeia mudanças cognitivas e emocionais que preparam as pessoas para
autoproteção. Sobretudo, porque em situações como pandemias, ocorre o aumento
da frequência de emoções e interpretações negativas.
"Em relação a pacientes que contraíram a doença e se recuperaram, o
impacto da Covid-19 está muito além do que somente os danos pulmonares. Apesar
de ser uma doença respiratória, o vírus acomete muito o sistema vascular e,
como o cérebro é rico em vasos, fica mais fácil perceber a relação entre a
doença e os quadros neuropsiquiátricos apresentados. Assim como questões
provocadas pelo déficit cognitivo, as alterações e desordens mentais, como
dificuldade de concentração e perda de memória recente, podem interferir no
trabalho e nas relações sociais e, com isso, levar à depressão, ansiedade,
angústia e agressividade", afirma.
Muitos estudos estão sendo feitos desde o início da pandemia para trazer visões
mais completas sobre este cenário. Ainda em 2020, uma publicação científica
analisou as sequelas psiquiátricas em epidemias anteriores como a SARS e a MERS,
que também tiveram incidências de Transtorno de Estresse Pós-Traumático,
depressão, transtorno de pânico e transtorno obsessivo-compulsivo em avaliações
de 1 a 50 meses.
Já nos estudos relacionados à Covid-19, uma publicação feita na revista Lancet Psychiatry,
que contou com a participação de 230 mil pacientes, sendo a maioria
norte-americanos, apresentou dados bastante relevantes, sendo este o principal
deles: um em cada três sobreviventes da Covid-19 foi diagnosticado com algum
distúrbio cerebral ou psiquiátrico em até seis meses após a internação pela
doença.
Vale ainda ressaltar que, em relação aos pacientes que já apresentavam algum
transtorno mental antes de ser acometido pelo novo coronavírus, há evidências
de agravamento do quadro de saúde mental ou o surgimento de um novo transtorno.
"Mesmo os mecanismos não estando totalmente claros ainda, o que podemos
afirmar nesse momento é que, de fato, ocorrem prejuízos sociais e de saúde a
longo prazo, mesmo após os pacientes terem se recuperado do quadro agudo,
principalmente quando há diversos relatos de alterações neurológicas que são
corroboradas com esse potencial invasor neuronal cada vez mais reconhecido do
vírus SARS-CoV-2. Por isso, é importante associar o tratamento com
acompanhamento de neuropsicólogos, fazendo avaliações profundas de disfunções
cognitivas para o planejamento do melhor tratamento", completa o
psicólogo.
Confira os sintomas que devem ser observados com atenção, de acordo com a
equipe clínica de psicólogos da Amparo Saúde:
Perda de memória recente;
Dificuldade de concentração;
Alterações visuoperceptivas;
Dificuldade de compreensão ou entendimento;
Dificuldade com o julgamento e raciocínio;
Dificuldade de planejamento e execução de tarefas.
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