Pensamentos divergentes devem resultar em questionamento, e não em agressão
Recentemente, o Brasil presenciou uma severa troca
de ofensas durante os depoimentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI),
que apura a suposta aquisição fraudulenta de vacinas.
Não quero fazer nenhum juízo de valor, se você é
contrário ou a favor de qualquer tipo de discussão, ou se é favorável ao
partido A ou ao partido B, mas o que importa é o fato da discussão ter ficado
acalorada por conta de divergências políticas. A “paixão” com que você defende
um determinado ideal pode impactar de forma positiva ou negativa a sua imagem.
Episódios deste tipo só ocorrem no trabalho quando
não há um ambiente sólido, pautado pela transparência. E isso pode ocorrer em
muitas empresas, com uma troca de acusações ou palavras que não fazem sentido
no mundo corporativo.
Para evitar que isso aconteça, é preciso ter
transparência na comunicação. E essa é a primeira dica. É possível sempre
destacar um determinado ponto de vista, mas como diz a filósofa brasileira e
amiga, Terezinha Rios, ponto de vista nada mais é do que a vista a partir de um
ponto.
Não somos donos de uma verdade absoluta. Porque
muitas vezes, numa discussão entre duas pessoas, seja na família ou no ambiente
corporativo, às vezes queremos ganhar a discussão e não necessariamente
descobrir ou entender o ponto de vista da outra pessoa.
Por isso, meu convite é para que você faça essa
reflexão com sua equipe. Será que eu entendo necessariamente o ponto de vista
do outro?
Talvez, as minhas experiências de vida, aquilo que
já vivi ou estudei, me levam a acreditar que esse é o caminho melhor. Talvez
para a outra pessoa, pelas experiências dela, que são completamente diferentes
das suas, façam ela acreditar que o outro caminho é o melhor.
Mas qual é o melhor caminho? Não existe caminho
certo, afinal, tem a minha verdade, a sua verdade e a verdade de verdade.
A partir do momento que tenho a transparência como
pilar fundamental das relações de trabalho, eu entendo a realidade do outro. E
mesmo que o outro não concorde comigo e vice-versa, eu respeito. E a partir do
momento em que a relação é pautada pela transparência e pelo respeito, eu
entendo e não ataco.
O ataque, de certa forma, pode ser um objeto de
defesa. É a forma que algumas pessoas usam para se defender de uma acusação ou
de uma situação. No calor da emoção, quando simplesmente abrimos a boca para
falar o que muitas vezes temos vontade, é grande a chance de sermos julgados.
E, no caso de uma CPI, não só julgados pelas pessoas que estão lá, mas também
por milhões que assistem e depois verão a notícia, o que pode afetar a
reputação dos envolvidos.
Então se você quiser dentro do seu ambiente de
trabalho, no seu dia a dia, evitar esse tipo de situação para não chegar ao
extremo de falar sem pensar e depois ter que fazer um pedido de desculpas, você
precisa entender que do outro lado tem alguém com experiências diferentes e que
talvez possa pensar de forma diferente. Afinal, ponto de vista nada mais é que
a vista a partir de um ponto e as perspectivas que podemos trazer para nossa
vida também são diferentes para mim, para você e para todas as outras pessoas.
A divergência de opiniões tem relação direta com a
diversidade, que se tornou o motor da inovação nas organizações. E quanto mais
pensamentos divergentes eu tenho dentro de uma organização, maior a chance de
inovar, mas as corporações só conseguem atingir esse estágio quando há respeito
e transparência. Se não houver esses dois itens, acontece a agressão que pode
resultar um grande problema.
Quando falo em diversidade, não é simplesmente
pensar em colocar pessoas numa equipe que têm valores diferentes. Refiro-me
colocar numa equipe profissionais com valores semelhantes, mas pensamentos
divergentes e ao questionar se essa é uma “linha correta”, talvez nós
encontremos um ponto que seja similar e vai fazer com que a empresa cresça e a
equipe evolua.
É possível criar um ambiente diverso e com
respeito. Mesmo quando não concordar com uma situação, você vai respeitar a
outra opinião. E em alguns momentos, talvez vá adiante com sua ideia, mas em
outros, vai abrir mão para apoiar outras pessoas. O que não pode, em hipótese
alguma, é faltar com respeito. Sem machismos, sem achismos e muito menos querer
impor aquilo que pensa, como se fosse a verdade absoluta.
Alexandre Slivnik
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