Transplante
renal teve queda de 16,3% no Brasil; doação do órgão mudou destino do
administrador Edinei e pode dar nova oportunidade para educadora física Mariana
O
dia 14 de junho de 2020 é um marco na vida do administrador Edinei Tomaz de
Miranda, de 33 anos, que vive em Ponta Grossa (PR). Foram sete meses dependendo
de uma máquina de hemodiálise para viver, até receber a notícia que renovou as
suas esperanças: havia chegado a sua vez na fila do transplante. “Uma
oportunidade para recomeçar e ter a minha vida de volta”, lembra.
E se
a luta por um órgão sempre foi grande, em meio à pandemia, o número de
pacientes que tiveram essa nova chance caiu. O transplante renal foi o que teve
maior redução no Brasil: de 16,3% no primeiro semestre de 2021, de acordo com
dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A cirurgia do
Edinei foi realizada no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), que é
referência nesse tipo de transplante no Brasil.
Covid-19
e uma nova batalha
Mas,
como o órgão apresentou um início de rejeição pelo organismo, o administrador
precisou tomar um medicamento imunossupressor. A medicação debilitou seu
sistema imunológico e ele acabou infectado pelo novo coronavírus, meses após o
transplante, em setembro de 2020. Situação vivida por 10% dos transplantados
renais, segundo números da ABTO.
Mais
uma vez a vida de Edinei estava por um fio. Com 70% do pulmão comprometido, ele
precisou ser hospitalizado na UTI para pacientes com covid-19 do Hospital
Marcelino Champagnat, também em Curitiba. E durante esse processo a equipe
médica responsável pelo seu transplante renal se manteve ao seu lado para
acompanhar o tratamento, examinar a função renal e garantir a recuperação
rápida. “Os profissionais do Hospital Universitário Cajuru foram minha
principal rede de apoio. O comprometimento, a atenção e o acolhimento recebido
fizeram a diferença para que eu conseguisse passar por essa fase de cabeça
erguida”, relembra.
Angústia
da espera
Receber
a notícia da necessidade de um novo órgão é difícil. E ainda mais complicado é
viver à espera pelo transplante. Uma angústia vivenciada desde outubro de 2020
pela curitibana Mariana Purcote Fontoura, de 33 anos, que precisou substituir
temporariamente a função renal pela diálise peritoneal. Ela é uma dos 1,4 mil
paranaenses que estão na fila aguardando por um rim, enquanto o número de
transplantes desse tipo teve queda de 16,4% no Paraná, segundo dados
comparativos, entre o primeiro semestre de 2020 e 2021, do Sistema Estadual de
Transplantes do Paraná.
Após
um exame de rotina do rim no HUC, sem sintomas aparentes, a professora de
educação física teve o diagnóstico de doença renal crônica no estágio 5, quando
o rim não é mais capaz de desempenhar suas funções básicas. “Foi assustador e
impactante, em um primeiro momento, descobrir que estava com falência renal.
Mas, aos poucos, entendi que o transplante não é apenas um tratamento possível,
como também um procedimento que está avançado e com atuação de excelência no
Hospital Cajuru”, conta Mariana.
Referências
de esperança
As
equipes médicas capacitadas e a estrutura hospitalar fazem do Paraná referência
nacional no transplante de rim. Uma posição que se torna possível com o
trabalho desempenhado por profissionais de diversas instituições paranaenses,
com destaque para o Hospital Universitário Cajuru. Mesmo sem atuar como
referência para a covid-19, o HUC sentiu os obstáculos trazidos pelo vírus à
realização de transplantes, como a superlotação de hospitais, a suspensão de
cirurgias eletivas e, principalmente, o impedimento da doação de órgãos de
pessoas com morte encefálica contaminadas pelo coronavírus.
Apesar
das dificuldades, o hospital, que tem atendimento 100% SUS, seguiu alcançando
bons resultados no procedimento. Um sucesso explicado pelo trabalho da equipe
de transplante renal, coordenada pelo nefrologista Alexandre Tortoza Bignelli.
Há mais de duas décadas atuando com pacientes renais crônicos, o médico explica
que o HUC desponta como referência no Paraná, no Brasil e, até mesmo, no mundo.
Isso em razão dos altos índices de sobrevida do enxerto transplantado e dos
pacientes, chegando a 95% dos casos no Hospital Universitário Cajuru. “Olhando
para trás, não trocaria por nada o que escolhi para a minha vida, uma vez que
eu e minha equipe permitimos que pacientes mudem de uma condição de dependência
de uma máquina para uma condição de liberdade”, relata Alexandre.
Com
o aumento da cobertura de vacinas e a queda das internações, a tendência é a
recuperação das taxas de captação e transplante. Mas a conscientização sobre as
doações ainda é um desafio. “É preciso que a população entenda que a doação de
órgãos é um gesto de amor que pode salvar até dez vidas, mudando o destino de
pessoas como Edinei e dando uma nova chance para mulheres como Mariana”, reforça
o médico.
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