A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do
segundo trimestre mostrou uma leve retração da atividade produtiva de 0,1% em
relação ao trimestre imediatamente anterior. Esse valor negativo não era
esperado pelo mercado e, de certa forma, tornou os analistas mais céticos em
relação a novas previsões. Concomitantemente, levantou uma questão central
sobre a velocidade de recuperação, assim como sua capacidade de manutenção ao
longo do tempo. Este breve artigo, portanto, pretende analisar os dados mais
recentes de nossa atividade e os desafios para uma retomada mais sustentável de
nossa economia.
A demanda externa puxou para cima a economia no
segundo trimestre. As exportações de bens e serviços cresceram 9,4% em relação
ao período imediatamente anterior e 14,1% comparado com o mesmo trimestre do
ano anterior. Esse crescimento é explicado pela forte demanda internacional de
produtos agrícolas, máquinas e equipamentos, indústria automotiva e minerais
não metálicos. A taxa de câmbio depreciada aliada à valorização dos produtos
comercializáveis (tradables) impulsionaram o comércio internacional,
contribuindo para um saldo na balança comercial positivo no valor de US$ 37,496
bilhões. O saldo é 68,2% maior que nos primeiros meses de 2020, sendo o melhor
primeiro semestre da história.
Os sinais recentes indicam que o ritmo de
crescimento das principais economias desenvolvidas e a chinesa tende a reduzir,
impactando os preços internacionais. Associados a esse fator, os estímulos
monetários dos principais bancos centrais devem continuar. Com efeito, teremos
um ambiente macroeconômico internacional propício para alocação de capital nas
economias emergentes, com uma tendência de depreciação do dólar frente às
moedas desses países. Resumindo, com preços de commodities mais
estáveis e dólar mais fraco vai ser ampliado o espaço para a retomada da
demanda doméstica, principalmente nos países que avançaram na imunização de sua
população.
É nesse ambiente internacional que a economia
brasileira se encontra. Contudo, destaco três desafios centrais para um maior
benefício econômico. Primeiro, devemos avançar na estabilidade
político-institucional. No imbróglio do projeto orçamentário para o próximo
ano, a proposta da PEC de parcelamento dos gastos com precatórios não foi bem
aceita pelo mercado. Gerou insegurança jurídica, incertezas e preocupações com
a criação de um fundo que poderia aumentar suas despesas acima do limite
determinado pelo teto dos gastos. Um caminho alternativo proposto pelo ministro
Fux seria a revisão dos valores. Nesta situação, o CNJ permitirá ao governo uma
despesa de R$ 39,9 bilhões em dívidas judiciais ao longo de 2022. O restante –
R$ 49,1 bilhões – teria pagamento previsto apenas para 2023.
O segundo desafio é o enfrentamento da atual crise
hídrica. Estimo que os efeitos mais agudos do La Niña poderão gerar um
racionamento compulsório o qual reduzirá o consumo em 10%. Nesse caso, o
impacto negativo na atividade econômica poderá ser de uma perda de 1,25 pontos percentuais
do PIB. Com isso, o governo deve avançar em um plano de redução imediata no
consumo de energia, reduzindo desperdícios e evitando um racionamento forçado.
O terceiro fator está relacionado ao controle da
inflação. Com instabilidade institucional entre os Poderes e a crise hídrica
pressionando preços administrados, uma retomada mais rápida da atividade
econômica doméstica poderá gerar maior pressão sobre a inflação de serviços,
contaminando as expectativas de médio prazo. Com isso, a retomada de nossa
economia deverá ocorrer em um ritmo mais moderado e focado em controlar os três
principais riscos à instabilidade socioeconômica.
Lucas
Lautert Dezordi - doutor em Economia, sócio da Valuup Consultoria,
economista-chefe da TM3 Capital e professor da Universidade Positivo.
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