O Setembro Amarelo é uma campanha nacional de
prevenção ao suicídio, mas que coloca em evidência toda a temática da saúde
mental. Um assunto que tem ganhado cada vez mais relevância dentro das
corporações, especialmente após o avanço da pandemia da Covid-19, uma vez que
afeta diretamente o clima organizacional e o bem-estar dos colaboradores, além
da lucratividade. E as empresas mais estratégicas e humanizadas, que tendem a
ganhar um lugar de destaque maior no mercado, são exatamente aquelas que se
preocupam genuinamente com o seu principal capital intelectual: as pessoas.
Assim, nos dias de hoje, as organizações que querem
ter um diferencial estratégico precisam refletir sobre as boas práticas e
políticas de qualidade de vida. Dessa forma, as lideranças e os profissionais
de Recursos Humanos desempenham um papel fundamental na construção de um
ambiente corporativo e de uma cultura organizacional que proporcionem um clima
favorável e impactos positivos na saúde mental dos colaboradores. Questão que
deve ser considerada sempre, independentemente do formato de trabalho que a
empresa esteja praticando – virtual, presencial ou híbrido.
Diversos fatores podem contribuir para a saúde
mental dos funcionários, desde a definição da forma e local de trabalho,
passando pelas questões de arquitetura, luminosidade e ergonomia, até pontos
mais difíceis de serem atingidos, como o nível de satisfação do colaborador com
o emprego, que é determinante para o equilíbrio da mente. Portanto, medidas de
prevenção ao estresse e outros tipos de desgastes psicológicos, relacionadas a
esses aspectos, podem – e devem – ser vistas como um verdadeiro investimento
pelas empresas.
Logo, a companhia que pretende reter os melhores
talentos procura criar ações e oferecer programas internos voltados para o
bem-estar. Alguns exemplos são rodas de conversa, exercícios respiratórios,
atividades de relaxamento e meditação. Isso sempre alavanca a motivação dos
colaboradores. É também prudente incentivar a disseminação do conhecimento a
respeito de saúde mental. Cabe, ainda, às lideranças aprimorar a qualidade dos
relacionamentos entre os colegas, dentro do trabalho, de modo a proporcionar
sensação de segurança e de pertencimento ao colaborador. Consequentemente,
ampliam-se as chances de haver mais equilíbrio emocional, apesar estarem em um
ambiente competitivo, com a busca permanente por colaboração e cocriação.
Outro ponto vital nesse processo de cuidar da saúde
mental é a comunicação. Empresas com bons resultados nesse sentido possuem a
cultura de se comunicar internamente de forma transparente e eficaz, com
práticas de reconhecimento e apoio aos colaboradores. Criam uma arena onde
todos têm voz e estabelecem um canal direto com o empregado, sem muitos ruídos.
Além disso, podemos citar a adoção de políticas de benefícios, como plano de
saúde, capacitação, vale-cultura, estímulo à prática de esportes, viagens de
premiação e incentivos financeiros. Ou iniciativas que vão além do tradicional,
entre elas, proporcionar ao funcionário oportunidade de autoconhecimento e de
autodesenvolvimento, por meio de ferramentas de avaliação psicológica (assessment)
ou psicossocial, usando, inclusive, a tecnologia como aliada.
Tratar de saúde mental é, ainda, abordar a
contratação de talentos. Afinal de contas, ao recrutar pessoas certas para cada
posição, consegue-se um quadro de funcionários com maior gosto pelo trabalho,
mais realizados e felizes, além de pessoas com perfis mais conectados com o
propósito e com o jeito de ser da empresa. Evidentemente, para que esse processo
ocorra de forma assertiva, exigirá da área de RH e das lideranças não apenas um
conhecimento detalhado da empresa, como o entendimento de quais competências e
habilidades (soft skills) são necessárias.
Enfim, vale salientar que ter foco em uma eficiente
gestão da saúde mental contribui para evitar possíveis rombos futuros no
orçamento da corporação. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS)
comprovam que a perda de produtividade gerada por depressão e ansiedade
representa, para a economia global, um custo estimado de US$ 1 trilhão por ano.
A falta de cuidado com o lado psicológico dos colaboradores aumenta o
absenteísmo, a taxa de adoecimento por fatores emocionais e o número de
afastamentos por transtornos mentais. Isso sem contar a queda do interesse pelas
atividades e do engajamento, que reflete diretamente na alta da rotatividade (turn over)
dos profissionais.
Portanto, diante de um problema tão complexo, os
responsáveis pela gestão de pessoas precisam manter um olhar atento sobre os
colaboradores e assegurar um ambiente humanizado e acolhedor. Mas cada
indivíduo também tem um papel importante na busca por preservar o corpo e a
mente saudáveis. É fundamental estar atento a aspectos simples do cotidiano,
como a qualidade do que comemos, bebemos e do nosso sono, além de manter a
prática de exercícios, bem como atividades de lazer que proporcionem bem-estar.
Aliás, isso deve ser um cuidado constante para todos e não apenas tema a ser
tratado no Setembro Amarelo.
Bárbara Nogueira - Graduada em Psicologia,
Bárbara Nogueira é diretora, career advisor e headhunter da Prime Talent,
empresa de busca e seleção de executivos de média e alta gestão, que atua em
todos os setores da economia na América Latina, com escritórios em São Paulo e
Belo Horizonte. É também embaixadora da ChildFund, eleita, pelo quarto ano
consecutivo, uma das 100 melhores ONGs do Brasil, que apoia crianças e
adolescentes em extrema vulnerabilidade.
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