Desde 1967, o Dia Internacional da Alfabetização é comemorado em todo o mundo para lembrar às pessoas sobre a importância da alfabetização como um fator de dignidade e direitos humanos. A data também tem o objetivo de alavancar as ações voltadas à alfabetização visando à construção de uma sociedade mais instruída e sustentável.
Apesar de todas as
conquistas nesse sentido, os desafios persistem, já que, segundo dados da ONU,
mais de 700 milhões de adultos em todo o mundo não desenvolveram habilidades
básicas de compreensão do código escrito.
No âmbito escolar, os
olhos se voltam para a alfabetização quando a criança ingressa no 1º ano do
Ensino Fundamental. Espera-se que, durante o período desse ano letivo, todos os
alunos - independentemente da bagagem cognitiva e emocional que trazem consigo
- cheguem ao final do ano lendo com desenvoltura e escrevendo com coerência.
Quando isso não acontece, e o fim do ano se aproxima, uma grande aflição começa
a tomar conta de parte dos pais, professores, e até mesmo das próprias
crianças.
Por esse motivo,
aproveitamos este Dia Internacional da Alfabetização para esclarecer dois
pontos:
• A alfabetização não
começa no 1º ano.
Aprender a ler e a
escrever é um longo processo que começa quando a criança é ainda bem pequena e
aprende a nomear as letras, a identificar seu próprio nome, a diferenciar
letras de outros símbolos, a manusear livros e a entender a diferença entre
escrita e ilustração. Chamamos essas práticas de "literacia
emergente", isto é, conhecimentos prévios que a criança vai adquirindo aos
poucos, quase sempre de maneira lúdica, muitas vezes em casa, sem qualquer
pretensão, e que formam um conjunto de pré-requisitos que ela vai precisar para
se alfabetizar.
Na Educação Infantil,
desenvolvemos com intencionalidade uma série de atividades de literacia
emergente visando instrumentalizar a criança para que ela, aos poucos, se
aproprie da língua escrita. Desse modo, quando chega ao 1º ano, cada aluno tem
suas próprias experiências com a leitura e a escrita: alguns já chegam lendo;
outros, recitam o alfabeto, fazem escrita espontânea ou correspondência entre
palavra e letra inicial. Uma parte dos alunos, no entanto, ainda não manifesta
interesse ou mesmo disposição para ler e escrever.
É papel do professor
de 1º ano despertar esse interesse e sistematizar tudo o que as crianças já
sabem, levando-as a novos conhecimentos e ao desenvolvimento de outras
habilidades. Por exemplo, a criança que já chega ao 1º ano lendo vai ser
estimulada a ler com mais desenvoltura, a entender a pontuação e praticar a
entonação e a leitura expressiva. Enquanto isso, o aluno que ainda não consegue
juntar as letras para ler uma palavra será incentivado a perceber a relação
entre fonema (som) e grafema (escrita), e fazer associações, tanto para ler,
como para escrever. Ao final do ano, todos terão avançado em suas habilidades
de leitura e escrita, porém isso não quer dizer que todos estarão alfabetizados
ou prontos a decifrar qualquer tipo de texto. Aí vem o segundo ponto a
esclarecer:
• A alfabetização não
termina no 1º ano.
Do mesmo modo que a
alfabetização não começa no 1º ano, ela também não termina ao final do ano,
pois da mesma forma que recebemos a crianças com diferentes níveis de
conhecimento sobre a leitura e a escrita, também recebemos no 2º ano crianças
com diferentes níveis de alfabetização. Há crianças que chegam já lendo e
escrevendo com desenvoltura, porém há uma boa parcela de alunos que leem ainda
com muito esforço, necessitando de ajuda para compreender o que leram. O mesmo
ocorre com a escrita. Há crianças que chegam ao 2º ano escrevendo textos, e
outras que ainda mal conseguem fazer uma lista de palavras. Isso não é um
problema; e não quer dizer que a criança que ainda não lê ou não escreve com
eficiência está "atrasada". Podemos comparar a alfabetização ao
aprendizado da fala. Nem todas as crianças desenvolvem uma fala perfeita no
mesmo tempo; porém, com incentivo e ajuda, não havendo empecilhos de ordem
física ou emocional, todas chegarão ao mesmo lugar.
No 2º ano, a alfabetização
é lapidada. As crianças aprendem a escrever com letra cursiva - o que também
demanda bastante esforço - e começam a ficar mais atentas à ortografia, ao
espaçamento entre palavras e à pontuação. E o processo continua ainda nos anos
iniciais do Ensino Fundamental. É esperado que, ao final do 5º ano, tenhamos
leitores fluentes e crianças que escrevem com coerência e desenvoltura.
Tendo em vista esses
dois pontos importantes, podemos voltar as atenções agora para as crianças com
um olhar mais afetuoso e sereno sobre os enormes progressos e as constantes
descobertas que elas fazem diariamente nessa marcante e fundamental etapa do
conhecimento humano, que é a alfabetização.
Laís de Almeida
Cardoso -
Orientadora Pedagógica do Colégio Presbiteriano Mackenzie Tamboré.
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