Vírus como o da herpes, catapora, caxumba e mononucleose são exemplos de transmissores que também usam a saliva como forma de contágio
Créditos: Envato Imagens
Pesquisadores
pretendem avaliar se boca pode ser uma porta de entrada direta da Covid-19;
outras doenças virais já têm a cavidade bucal e saliva como canais de contágio
Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade
de Medicina da USP (FMUSP) mostrou que o Sars-CoV-2, vírus responsável pela
covid-19, infecta e se replica em células das glândulas salivares, responsáveis
pela produção e liberação de saliva na cavidade bucal. A pesquisa ajuda a
explicar o motivo pelo qual o coronavírus se faz presente em grandes
quantidades na saliva de pacientes infectados, possibilitando, inclusive, a
realização de testes a partir desse material.
Nos últimos meses, várias pesquisas têm revelado a
presença e recorrência do coronavírus na boca de pessoas infectadas e também a
prevalência de complicações da Covid-19 em pacientes com problemas bucais. Um
estudo publicado no Journal of Clinical Periodontology, a
revista da Federação Europeia de Periodontologia (FEP), analisou 500 pacientes
que foram infectados pelo coronavírus e concluiu que aqueles com problemas
gengivais tinham 3,5 vezes mais possibilidade de serem internados por
complicações da covid-19 e a probabilidade 4,5 vezes maior de precisarem de um
ventilador mecânico. Outra pesquisa, realizada por profissionais da Residência
em Periodontia no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), revelou ainda
que o biofilme - placas de bactérias que se acumulam sobre os dentes - pode ser
um reservatório de SARS-CoV-2.
Além disso, a importância do cuidado com a saúde
bucal já era demonstrada na prevenção de outras doenças. “Por ser uma abertura
ampla do corpo, e que tem muito contato com objetos externos, como a comida, as
mãos, talheres e copos, a cavidade bucal se torna um caminho fácil para a
entrada de vírus. E, mais do que isso, por ser um espaço de absorção de
nutrientes e canal direto para o interior do corpo, ela também é um local
sensível, vulnerável para o acometimento de doenças”, explica o dentista e
especialista em Saúde Coletiva na Neodent, João Piscinini.
Boca como porta de entrada
Muito antes da chegada da covid-19, outras
patologias já tinham acesso ao corpo humano pela boca. Vírus como o da herpes,
catapora, caxumba e mononucleose são exemplos de transmissores que usam a
saliva como forma de contágio. “Já está claro para a sociedade que até
mesmo a gripe comum pode ser transmitida pela cavidade bucal. Porém, o que
esperamos com as descobertas feitas com relação à covid-19 é poder evidenciar,
ainda mais, o quanto é importante olharmos para a boca, e também para a saúde
bucal, como parte do cuidado do corpo como um todo”, ressalta Piscinini.
Além das doenças virais, diversas outras
complicações podem indicar alertas pela boca. A sífilis, leucemia, anemia,
diabetes, cirrose e até diabetes são exemplos de enfermidades que podem dar
sinais por meio da boca. De acordo com Piscinini, além de porta de entrada, a
boca também é um espelho do corpo. “Em uma análise da cavidade bucal,
profissionais da odontologia conseguem identificar anormalidades que podem
revelar a presença de muitos outros problemas de saúde, isso a partir de
sintomas como mudança de coloração na mucosa, textura da língua, sangramento
nas gengivas, enfraquecimento dos dentes, entre outros”, conta.
Por isso, além da necessidade de manter a saúde
bucal em dia, o acompanhamento com profissionais da odontologia também pode
garantir a descoberta precoce de doenças mais graves. “Estudos como esse da
USP, que investigam o papel da boca como transmissora e local de proliferação
de vírus e bactérias, nos ajudam a conscientizar ainda mais sobre a importância
de a população manter as consultas frequentes ao dentista”, reforça
Piscinini
A próxima etapa da pesquisa dos profissionais da
USP pretende identificar se os tecidos presentes na boca, como mucosas e
gengivas, podem também facilitar a entrada do vírus para o corpo. “A boca é uma
cavidade muito maior que a nasal e, caso os tecidos internos sejam uma abertura
direta do vírus para o organismo, as medidas de cuidados devem ser ainda mais
relevantes”, ressalta o especialista em Saúde Coletiva na Neodent.
No estudo da Universidade de São Paulo, as células
das glândulas salivares foram descobertas como local de replicação do vírus da
covid-19. Realizada por meio da análise de amostras de três tipos de glândulas
salivares de pacientes que morreram em decorrência de complicações causadas
pelo coronavírus, a pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp) e os resultados foram publicados no Journal of
Pathology.
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