Os altos índices de mortalidade em casos de intubação por Covid-19 preocupam a sociedade brasileira. Uma pesquisa realizada pela BBC News Brasil revela que 80% dos procedimentos realizados por causa da doença em 2020 resultaram em morte.
Os
motivos nem sempre são explicados somente pelo vírus. Há casos em que o quadro
clínico é agravado por algum outro fator com potencial de levar a óbito,
principalmente uma infecção não dimensionada. Neste caso, o perigo pode já
estar morando na boca do paciente.
O
alerta é feito pelo cirurgião-dentista André Luiz Pataro, doutor (PhD) e mestre
em Odontologia e especialista em Periodontia. “A boca é a porta de entrada de
muitas bactérias e vírus, inclusive a Covid-19. No processo de ventilação
mecânica, o tubo é introduzido exatamente a partir dessa via. Se houver
qualquer infecção no local, a chance de ela ser transportada pelo tubo até o
pulmão é enorme, e isso pode ser fatal”, explica.
A
Academia Americana de Periodontia (AAP) também já comprovou por meio de estudos
que problemas gengivais podem estar associados a complicações mais graves da
Covid-19. Pataro esclarece que o problema não está na decisão de intubação
nessas circunstâncias, mas, antes de tudo, no cuidado do paciente com a própria
saúde bucal.
“Nós,
brasileiros, temos o hábito de evitar as idas periódicas ao dentista para a
prevenção bucal, e esse comportamento pode influenciar na expressão de casos
mais graves de Covid-19, incluindo a necessidade de intubações. Agora, mais que
nunca, a prevenção bucal é um passo importante para diminuir complicações
causadas pela Covid-19”, salienta o cirurgião-dentista.
Outra
medida necessária para conter os óbitos provocados por infecção deve partir dos
hospitais públicos e privados. Segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO),
existem hoje em todo o país cerca de apenas 2 mil dentistas hospitalares,
número muito aquém da demanda diante da quantidade de internações nas UTIs por
causa do novo Coronavírus.
“O
atendimento na UTI é feito por uma equipe multidisciplinar, mas são poucos os
hospitais que dispõem de um dentista nessas equipes. É ele que pode avaliar o
quadro infeccioso da boca do paciente e, juntamente com a equipe de saúde
multidisciplinar, avaliar os menores riscos de agravamento do paciente, ou vir
a cuidar do mesmo após uma intubação de emergência”, conclui André Luiz Pataro.
Sendo
assim, pensando-se em manutenção da saúde como um todo, com ou sem infecção por
Covid-19, a prevenção da saúde bucal é fundamental para o equilíbrio e saúde
sistêmica.
Fonte: André Luiz Pataro - doutor (PhD), mestre e graduado em Odontologia pela
UFMG. Também é professor adjunto pela Faculdade Arnaldo e autor de artigos
publicados em revistas internacionais de impacto. É membro da Sociedade
Brasileira de Periodontia e autor do livro “Guia do Dentista – os caminhos para
a realização profissional”.
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