Estudantes representam 8% dos clientes de empresa de Self Storage em
Curitiba |
42% dos estudantes matriculados no ensino superior privado afirmam que há um risco de abandonar estudos, de acordo com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)
Para muitos jovens em todo o mundo, o sonho de
deixar a casa dos pais em busca da formação acadêmica precisou ser adiado - ou
repensado - neste ano. Com a chegada da pandemia da Covid-19, a migração das
universidades para o modelo de aulas online e as recomendações de isolamento
social fizeram com que diversos estudantes buscassem novamente a casa dos pais
para, mais tarde, recomeçarem a trajetória de independência.
Esse foi o caso dos estudantes Pedro Wilson Silva,
de 23 anos, e Lorrayne Moraes Borges, de 21, que retornaram de Curitiba (PR)
para João Pessoa, na Paraíba, e Paranavaí, no interior do estado, para aguardar
a normalização das aulas na capital paranaense. “No começo da pandemia ainda
era muito incerto quanto tempo a situação ia durar. Voltar para a casa dos meus
pais foi uma forma de ter mais segurança, poder ajudar a família e ser ajudado
por ela também. Além disso, ficar em Curitiba não fazia tanto sentido com a
universidade sem previsão de retorno às aulas e a empresa em que trabalho
estabelecendo regime de trabalho remoto”, conta Pedro, estudante de Sistemas de
Informação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Com o movimento, um dos setores que sentiu a
mudança foi o de self storages. Os jovens têm a opção de deixar os imóveis que
alugam, mas precisam de um local para guardar os móveis e pertences até que a
situação se normalize. “Além de não ter que me preocupar com todos os afazeres
gerais da casa, economizar o valor do aluguel é com certeza um ponto positivo
dessa mudança. Depois de esvaziar o quarto que eu alugava, surgiu a ideia do
self storage, já que eu precisava de um lugar para deixar meus pertences
enquanto estivesse fora da cidade. Tinha como referência a série Dexter, então,
pesquisei na internet e encontrei algumas empresas que oferecem o serviço no
Brasil”, diz Lorrayne, estudante de Direito da Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
Na Espaço A+ Self Storage, empresa escolhida por
Pedro e Lorrayne para armazenar seus pertences até o retorno, os estudantes
representam 8% dos clientes da empresa. Além disso, registrou um aumento de
procura significativo de demandas pelo mesmo motivo, com aproximadamente 30
buscas desde março, mês em que a pandemia chegou ao Brasil. "Temos
percebido esse aumento e a tendência é que em 2021 isso se intensifique ainda
mais", projeta a gerente de operações da Espaço A+ Self Storage, Rousy
Mary Rojas.
Com esse aumento, surge a preocupação com o
desempenho acadêmico dos estudantes e a permanência na faculdade. De acordo com
a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), 42% dos
estudantes matriculados no ensino superior privado afirmam que há um risco de
abandonar os estudos.
Para Daniel Medeiros, doutor em Educação Histórica
e professor do Curso Positivo, a longa e indeterminada duração da pandemia pode
interferir no desempenho dos alunos e até na sua permanência no curso. “Quando
o processo começou, em março, havia uma expectativa de semanas, um mês, no
máximo. Lembro que a interrupção das aulas, naquele momento, até não chegou a
ser pensada como um problema, mas um adiantamento de férias ou semanas de
descanso. Mas logo o quadro gravíssimo se concretizou e o cenário foi de
interrupção, rompimento. Muitos jovens simplesmente não suportaram a nova
rotina e desistiram. Nosso desafio agora é reconectá-los. A volta às aulas
presenciais terá um tanto de estranhamento e de adaptação, como uma espécie de
fisioterapia. Não podemos ignorar essa dificuldade e precisamos pensar em
formas de torná-la mais suave e positiva”, afirma.
Pedro conta que no início, pensou em desistir do
curso, mas o apoio presencial da família tem sido um fator positivo no meio de
tudo. “Quando a universidade estava sem previsão de retorno, em meados de
julho, eu pensei em desistir. Mas decidi persistir e vou terminar meu curso em
Curitiba. E mesmo com esses problemas, estar com a família é algo bom,
principalmente porque durante um ano normal costumo passar em torno de duas
semanas na minha cidade natal, e agora pude passar quase um ano, isso é muito
bom, não pensei que teria a oportunidade novamente de passar tanto tempo com
minha família”, diz o estudante.
E o apoio familiar é a dica chave para que os
estudantes possam passar por esse período de forma sutil e com menos impactos.
Segundo Daniel, os pais têm papel essencial ao oferecer conforto e afeto para
os filhos, independente se são crianças estudando na sala de estar ou
acadêmicos voltando para casa. “Aqui a dica é fundamental: paciência, conforto
e companhia. Seus filhos estavam acostumados com a presença dos amigos, com a
rotina da escola, com as brincadeiras nas aulas, com o contato com os
professores, etc e, de repente, tudo mudou. E eles são tão jovens! O conforto
afetivo, principalmente afetivo, é muito importante nessas horas. E não os
deixem sós por muito tempo. Sempre que possível, entrem no quarto deles,
ofereçam algo ou simplesmente deem um beijinho em suas cabeças”, orienta o
professor.
Espaço A+
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