Vamos pensar juntos: o que seria dos mercados financeiros nesse ano difícil se ainda estivéssemos com o modelo operacional e a tecnologia que as instituições financeiras usavam na crise econômica de 2008?
Estou no mercado há 50 anos, acompanhei aquela fase
e outras, de planos econômicos que mudaram os rumos do mercado. Portanto, posso
afirmar que seria ainda mais difícil, um verdadeiro caos.
A crise iniciada em 2008, sem dúvida, lançou vários
desafios para modernização dos mercados financeiro e de capitais, que foram
evoluindo até a chegada das nossas disruptivas startups, fintechs e seus
empreendedores, além de um mundo potencialmente digital. Este mundo foi criado
com o objetivo de encontrar caminhos para as soluções de vários problemas, como
possibilitar o acesso de todos aos serviços e produtos bancários e financeiros
com segurança e baixos custos. Esses serviços, até então, eram prestados
somente pelo sistema financeiro tradicional, notadamente os Bancos.
Graças à agenda de inovação, o PIX já está em
funcionamento e o Open Banking e o Sandbox caminham para proporcionar
experiências cada vez melhores para os consumidores e para a sociedade como um
todo. Hoje, todos têm muito mais acesso a serviços e produtos financeiros,
de forma ágil e a custos muito menores. Podemos enviar e receber documentos,
assinar, comprar produtos, fazer operações de investimento, pagar contas, transferir
dinheiro, mas infelizmente, temos ainda dificuldade de ter acesso ao dinheiro
em espécie, algo totalmente tradicional quando se trata de inovação.
Fizemos muito em tecnologia, mas não cuidamos de
coisas simples como a interoperabilidade das redes de ATMs. Imaginem se
estivessem operando de maneira interligada, com outros players se posicionando
em lugares onde o acesso ainda é problemático. Dentre vários benefícios,
teríamos como pagar em apenas algumas horas o auxílio emergêncial para todos.
Estou falando de inovação em um país onde o
dinheiro em espécie ainda é o meio de pagamento de 60% das despesas de menos de
50 reais. Em um país com dimensões continentais, onde centenas de municípios
não possuem sequer uma agência bancária, o que dirá ferramentas e conhecimentos
para uma operação 100% digital.
Então este é o momento de propor e discutir
soluções diante dos impactos da pandemia - e aqui volto a lembrar que sem a
evolução normativa que tivemos nesses últimos 10, 12 anos para viabilizar a
entrada desses novos players e para dar robustez e segurança ao sistema
financeiro por meio de uma supervisão primorosa, hoje certamente estaríamos
tratando do caos.
E o momento também é de repensar, rever, atualizar
e avaliar se a agenda na qual estamos trabalhando é realmente dinâmica e
produtiva, se está atendendo as demandas da população em geral frente às
necessidades diante da crise, e tentar corrigir possíveis entraves.
Neste cenário, deparamo-nos com a certeza de que
todos nós, sem exceção, somos frágeis, vivemos à mercê do inesperado e do
desconhecido. Qual analista econômico ou analista de risco de crédito ou de
produção incluiu algo sequer parecido com a pandemia do coronavírus como risco
iminente para o ano de 2020?
Fica, portanto, a missão de inserir situações como
essa que estamos vivendo no rol dos desafios para os quais precisamos estar
prontos para enfrentar agora e no futuro, pois certamente outras virão - sem
esquecer do tradicional e do que atente a massa da população brasileira.
José Luiz Rodrigues - especialista em regulação do
mercado financeiro e sócio da JL
Rodrigues & Consultores Associados.
JL Rodrigues & Consultores Associados
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