Muitas são as mudanças que a pandemia tem causado no comportamento das pessoas. Hoje, o já clichê ‘novo normal’ reverbera na mídia e nas conversas informais que ouvimos por aí. Mas essas transformações não se limitam apenas a um comportamento de distanciamento social ou ao aumento das compras via internet. No varejo, a crise sanitária e econômica deu lugar a um crescimento que talvez não seja muito patente: o das marcas próprias.
É fato que as
marcas próprias crescem em momentos de crise, mas a pandemia de Covid-19 tem
ratificado isso. No país, só no primeiro semestre de 2020, as MPs cresceram
substancialmente: atraíram 2,2 milhões de novos consumidores, de acordo com
pesquisa realizada pela Kantar. E a expectativa é que o setor cresça ao
menos 21% até o final deste ano.
Na Europa, as
marcas próprias têm se mostrado um aliado para as lojas físicas, pois
incentivam o cliente a se deslocar até elas para comprar produtos com uma boa relação
custo-benefício.
No Brasil, um
exemplo do qual sempre me recordo é o de quando, há uns anos, foram testadas
marcas de azeites extravirgens para verificar a autenticidade e a qualidade dos
produtos. E, para a surpresa de muitos, rótulos consagrados foram reprovados
por sequer venderem produtos realmente extravirgens. Dentre as poucas que
passaram pelo crivo dos especialistas, a do Carrefour se sobressaiu por ser a
melhor em termos de custo-benefício - além de não ter propaganda enganosa na
embalagem.
Há também produtos
que se destacam não só pelo bom preço e pela qualidade superior, mas também
pela origem, como é o caso da marca Taeq, do grupo Pão de Açúcar. Disponível
nas prateleiras de todas as unidades da rede, seu sucesso é justificado pelo
apelo que tem junto aos consumidores ‘fitness’, cada vez mais numerosos nos
dias de hoje. Com produtos voltados para a alimentação saudável, a marca, que
aposta em ingredientes naturais e orgânicos, é a grande pedida para aqueles que
fazem - ou tentam fazer - uma dieta mais balanceada, mas preferem não consumir
produtos de marcas mais famosas, por custarem mais caro, em geral.
Recentemente, o grupo também lançou a linha Nous de cuidados pessoais,
para competir no segmento, com a promessa de preços competitivos aliados
à qualidade.
No mundo, o
mercado de marcas próprias só faz crescer. Apenas no Brasil, já alcançou 32,8
milhões de lares em 2017, o que representa um crescimento 40% maior em relação
às outras marcas. Além disso, o país responde por 36% do setor em toda a
América Latina.
O que o mercado de
marcas próprias nos ensina é que, especialmente em momentos de crise, deixar
nas prateleiras os produtos dos grandes conglomerados internacionais e optar
por MPs pode ser uma maneira de economizar, obter produtos de melhor
procedência e mostrar ao consumidor que é possível levar para casa um produto
de qualidade, que custe, em média, 25% menos.
E quem sabe, ao
deixar as famosas marcas internacionais de lado, possamos consumir cada vez
mais produtos locais, beneficiando pequenos produtores e aquecendo ainda mais o
nosso mercado interno. Momentos de crise fazem com que olhemos para o que está
mais próximo e, talvez, o consumo das marcas próprias nos leve a valorizar mais
a produção local e ‘deixar o dinheiro no bairro’.
Neide
Montesano - presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias e
Terceirização - ABMAPRO
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