Projeto acompanhou mais de 4 mil voluntários por quatro anos e foi divulgado recentemente em publicação internacional
Uma pesquisa desenvolvida na
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) comprovou que existe relação entre
a deficiência de vitamina D e o risco de incapacidade funcional em atividades
básicas de vida diária (ABVD) em pessoas com mais de 50 anos de idade. O estudo
é fruto do mestrado de Mariane Marques Luiz, fisioterapeuta e atual doutoranda
em Fisioterapia pela UFSCar, e teve a orientação de Tiago da Silva Alexandre,
docente do Departamento de Gerontologia (DGero) da Instituição. A pesquisa
contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp -Processo N. 18/13917-3).
A capacidade funcional é a habilidade que idosos apresentam para realizar as
tarefas do dia a dia de forma independente. A incapacidade, portanto, se
caracteriza pela dificuldade ou a impossibilidade de desempenhar atividades
cotidianas como comer, se vestir, tomar banho, levantar, ir ao banheiro e andar.
Apesar de alguns trabalhos já terem demonstrado uma associação entre baixos
níveis de vitamina D com o comprometimento da capacidade funcional de idosos,
nenhum havia verificado se a deficiência de vitamina D é um fator de risco para
o desenvolvimento da incapacidade. "Assim, nossa pesquisa teve como
objetivo analisar se a deficiência de vitamina D era um fator de risco para
desenvolver incapacidade em ABVD, além de verificar se esse risco se dava de
forma distinta entre homens e mulheres com 50 anos ou mais", destaca
Alexandre.
O projeto acompanhou uma amostra de 4.814 participantes provenientes de uma
base de dados do Elsa (English
Longitudinal Study of Ageing), da Inglaterra, que integra, junto a
outros estudos, o International Collaboration
of Longitudinal Studies of Aging (InterCoLAging), coordenado pelo
professor Tiago Alexandre. Para conduzir a pesquisa, foram selecionados somente
indivíduos que não relataram dificuldade para realizar tarefas cotidianas. Os
selecionados foram classificados quanto aos níveis de vitamina D no sangue,
como suficiente, insuficiente ou deficiente, e também foram coletados dados
socioeconômicos e as condições clínicas dos participantes. Após dois e quatro
anos, esses indivíduos foram novamente avaliados para verificar se houve o
desenvolvimento de dificuldade para realizar uma ou mais das ABVD.
De acordo com o docente da UFSCar, no final dos quatro anos de acompanhamento,
os homens com deficiência de vitamina D tiveram um risco 44% maior de
desenvolver incapacidade, quando comparados aos homens com níveis suficientes
de vitamina D. Por sua vez, as mulheres com deficiência de vitamina D tiveram
um risco 53% maior de desenvolver incapacidade, quando comparadas às mulheres
com níveis suficientes de vitamina D.
Alexandre explica que o envelhecimento é, frequentemente, acompanhado de uma
redução nos níveis de vitamina D no sangue e acrescenta: "Devido à
vitamina D possuir uma importante participação na manutenção da saúde dos ossos
e músculos, a sua deficiência pode levar a prejuízos musculares como a fraqueza
e a atrofia muscular. Consequentemente, pode haver o comprometimento da
funcionalidade dos indivíduos mais velhos, repercutindo em dificuldade ou
impossibilidade de realizar as ABVD".
O professor também indica que, apesar do risco de desenvolver incapacidade ser
numericamente maior nas mulheres com deficiência de vitamina D quando
comparadas aos homens com a mesma deficiência, não houve diferença estatística
entre esses valores. "Dessa forma, não é possível afirmar que existe
diferença entre sexos na deficiência de vitamina D como fator de risco para
incapacidade em ABVD", esclarece Alexandre.
Como resultado, o professor destaca que a relação entre "deficiência de
vitamina D e incapacidade é clinicamente relevante, pois os níveis de vitamina
D podem representar um indicador precoce do comprometimento funcional, que
representa um importante agravo para a saúde dos idosos". Assim, segundo
ele, o adequado monitoramento dos níveis de vitamina D é uma estratégia para
prevenir o desenvolvimento de incapacidade em idosos. A principal fonte de
vitamina D é a exposição ao sol, mas, em alguns casos, pode ser indicada a
suplementação.
O estudo também teve a participação de pesquisadores da University College
London, do Reino Unido, e foi publicado recentemente no Journal of Nutrition (https://bit.ly/33drU3k). O projeto utilizou
os bancos de dados do Elsa, que teve sua aprovação ética concedida pelo Comitê
de Ética em Pesquisa Multicêntrica de Londres (MREC 2/1/91).
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