Nos últimos dias, foi noticiado um significativo aumento das candidaturas de policiais e/ou militares em relação às eleições anteriores. São sargentos, delegados, coronéis que fazem da segurança pública sua principal bandeira, muitos dos quais se aproveitando do “efeito Bolsonaro” para concorrer a uma vaga nas prefeituras e câmaras de vereadores por todo o país. No entanto, erra quem se apressa em condenar ou menosprezar esse fenômeno de forma generalizada, vendo-o necessariamente como um sinal dos retrocessos que o Brasil está vivendo.
Em primeiro lugar, o fato de que tantos candidatos
dão tamanha atenção à segurança pública mostra que essa é uma preocupação real
da população – afinal, o Brasil é um país com altíssimos índices de
criminalidade e violência. Os discursos populistas e violentos (que conhecemos
da já consolidada “bancada da bala” e dos discípulos do bolsonarismo) de muitos
desses candidatos devem ser repudiados, é claro, mas é importante lembrar que,
se chegamos a esse ponto, é porque a segurança pública foi um tema
negligenciado ou sucateado por vários governos anteriores, que inclusive
adotaram medidas bem parecidas ao modelo militarista, punitivista e ineficaz
defendido por partidos de direita.
Entretanto, não é somente por meio desses partidos
que são lançadas candidaturas de policiais e/ou militares: também há, na área
da segurança pública, candidatos com propostas progressistas que enfrentam o
modelo vigente. Se queremos combater o autoritarismo que toma conta da política
e da polícia no Brasil, não podemos entregar à direita punitivista o monopólio
do debate sobre segurança pública. Por isso, a existência de candidaturas que
disputam essa narrativa e apresentam alternativas viáveis e democráticas é algo
a ser visto com bons olhos.
O Brasil é um país extremamente violento e
autoritário. Por isso, em vez de condenarmos a priori a presença de policiais nas
eleições, é essencial que levemos a sério as preocupações da população e nos
informemos acerca dos candidatos. A vitória de um modelo alternativo de segurança
pública não pode depender de discursos fáceis e promessas vazias, mas de
planejamento, propostas concretas e resultados.
Francisco Arid - estudante de Ciência Política na Universidade de Marburg, na Alemanha, e articulista da Saíra Editorial.
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