Dores abdominais,
cefaleia e crises de ansiedade estão entre os sintomas do problema, alerta
Hospital São Camilo de São Paulo
Com o prolongamento do isolamento social,
especialistas alertam para o agravamento de um problema que têm impactado a
saúde física e mental das crianças: o estresse. A procura por atendimentos nos
prontos-socorros infantis da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo tem
aumentado para casos de dores no peito, abdominais, cefaleia e crises de ansiedade,
sintomas que estão relacionados às manifestações do chamado “estresse tóxico”.
O termo utilizado entre os especialistas é designado para casos mais
frequentes, em níveis mais altos, exigindo uma resposta do organismo por tempo
prolongado, o que pode ser muito prejudicial à saúde de maneira geral. “Se a
criança não encontra, no seu ambiente, os recursos de adaptação suficientes
para vivenciar uma situação nova, o estresse se torna nocivo”, explica a
pediatra da Rede Dra. Vivian Oliveira.
Quando pensamos neste conceito, aplicado à pandemia, em que não apenas as
crianças, mas também os adultos precisaram se adaptar a um novo cenário cercado
de incertezas, o problema fica ainda mais evidente.
A psiquiatra do Hospital São Camilo Dra. Aline Sabino destaca que a mudança
drástica na rotina e, em muitos casos, o impacto econômico decorrente da
pandemia afetaram a saúde mental de todos, deixando a criança mais vulnerável.
Para eles, a falta da escola, do convívio com amigos, as brincadeiras
coletivas, tudo isso foi suspenso sem uma data definitiva para terminar. “Até
mesmo os mais velhos, que são capazes de entender melhor o que acontece no
mundo, ainda assim suas vidas foram diretamente impactadas”, afirma a
psiquiatra, destacando a importância da socialização para o desenvolvimento
saudável das crianças.
Dra. Vivian complementa ainda que “cada criança é única e pode ser afetada em
determinado momento, ou seja, independentemente da idade, o isolamento,
confinamento e/ou distanciamento social vão impactar os pequenos de alguma
maneira”.
Sinais de alerta
Como identificar se isso está acontecendo na sua família? A pediatra destaca
alguns dos principais sinais de alerta:
1- Alteração no apetite, quando a
criança perde o interesse pela comida preferida, ou quer comer muito mais do
que o habitual.
2- Regressão, quando hábitos e
comportamentos já aprendidos passam a se manifestar de novo, como xixi na cama,
por exemplo.
3- Alterações gastrointestinais,
quando a criança passa a ter episódios de constipação.
4- Variações de humor e inquietação,
com momentos de tristeza e raiva.
5- Dependência maior dos pais e cuidadores, quando a criança sente mais necessidade de atenção do que o habitual.
Uso excessivo de telas
Para a Dra. Aline, o maior desafio para as famílias é encontrar meios de
estabelecer uma rotina saudável no contexto atual. “Percebemos, por exemplo,
que as crianças ficaram mais expostas aos dispositivos tecnológicos de telas e
mídias, o que pode gerar uma série de problemas secundários à saúde dos pequenos”,
complementa a pediatra.
Adriana Saavedra, fonoaudióloga da Rede São Camilo, destaca, por sua vez,
que, embora as tecnologias sejam extremamente importantes e positivas, o uso
imoderado pode favorecer dificuldades de comunicação, já que a criança não
precisa expressar-se verbalmente para conseguir o que deseja ou o que está
sentindo.
A especialista ressalta os reflexos deste excesso, que podem impactar até
mesmo a qualidade do sono.
“As expectativas de receber mensagens, checar a atualização de redes
sociais ou terminar a fase de um jogo de videogame, por exemplo, têm sido
citadas como prejudiciais para o sono, ainda mais em decorrência da luz azul,
que irradia dos equipamentos eletrônicos e interferem na produção de hormônios
que nos ajudam a relaxar e nos deixar sonolentos para dormir”, frisa.
Além disso, conforme destaca a Dra. Vivian, passar muito tempo utilizando
eletrônicos eleva os riscos do sedentarismo e, consequentemente, à obesidade,
bem como pode potencializar atrasos no desenvolvimento cognitivo e alterações
sociais, com redução da interação direta entre a criança e seus familiares e/ou
cuidadores.
No entanto, compreendendo que o momento requer medidas de adaptação, as
especialistas entendem que se torna mais difícil estabelecer limites saudáveis
em relação ao uso das tecnologias.
“Um período não pode ser rotulado ou estipulado de maneira geral. O ideal é
que quanto menos melhor, e de acordo com a rotina da criança e da família”,
explica a fonoaudióloga.
A pediatra reforça a importância desse cuidado, já que, usadas de forma
inadequada e abusiva, as tecnologias podem ocupar o espaço de atividades
importantes para o desenvolvimento infantil, como a interação face a face, o
tempo familiar de qualidade, brincadeiras ao ar livre, exercícios físicos e,
até mesmo, tempo de inatividade e ócio criativo.
Saúde auditiva
Quando pensamos em eletrônicos, não podemos desconsiderar a importância do
cuidado com o uso de fones de ouvidos.
A recomendação da fonoaudióloga é de que os fones sejam usados com moderação,
além de manter o volume total dos equipamentos do ambiente abaixo da metade,
evitando uma exposição auditiva prolongada.
Ela lembra que os pais devem estar atentos para sinais como falta de atenção,
irritação e inquietação, que podem estar relacionados a uma dificuldade
auditiva. “Problemas na fala também podem se apresentar, correlacionados a uma
dificuldade auditiva, o que afeta a aprendizagem e o desenvolvimento da leitura
e escrita, fatores que podem se destacar durante este período de aulas
virtuais”, completa.
Hospital São Camilo
Redes sociais: @hospitalsaocamilosp
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