Há mais de 35 anos como especialista
em educação, nunca havia enfrentado um momento tão difícil quanto o que vivemos
agora. A dificuldade não se resume apenas ao fato de que toda a população
precisa ficar em casa ou por que as aulas, agora, acontecerem por meio de
plataformas digitais. O desafio como educadora é ver em nossa sociedade a
quantidade de manifestações a respeito da pouca importância de manter crianças
de até cinco ou seis anos de idade na escola e insinuações de que aulas à
distância não são efetivas. Diante desse cenário, gostaria de fazer uma
reflexão!
Para começar, acho importante
falarmos sobre o significado da palavra “educar”. No sentido mais básico,
educar é dar a alguém todos os cuidados necessários para o pleno
desenvolvimento da sua personalidade. De acordo com o mais célebre educador do
nosso país, Paulo Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno,
fazer com que eles possam desenvolver o poder de criticidade.
Se analisarmos apenas esses dois
conceitos, podemos facilmente concluir que o processo de educação tem início
desde o nascimento da criança – ou até antes - mas vamos avaliar apenas o
período pós-nascimento. Ainda em seu primeiro dia de vida, a mãe e os
profissionais de saúde ensinam ao bebê a forma correta de se alimentar. A
criança precisa aprender e se adaptar à forma correta de fazer a “pega”. Não
muito tempo depois, é preciso ensinar a eles os sabores dos alimentos. Na
sequência, chega a hora de ensiná-los a andar, pronunciar as primeiras
palavras, reconhecer as cores, etc. Em um determinado momento, as famílias
recorrem às creches e escolas a fim de dar sequência no processo de
aprendizagem.
Durante a Educação Infantil, também
conhecida como Ensino Infantil, temos a primeira etapa da educação básica.
Crianças de zero até os cinco anos de idade são atendidas e têm seus primeiros
contatos com a escola. O objetivo principal dos educadores, nesse período, é
promover nos pequenos o desenvolvimento dos aspectos físicos, motores,
cognitivos, sociais e emocionais. Também se fomenta neles a exploração dos
ambientes, das descobertas e da experimentação. Claro, além de tudo isso, as
crianças também são estimuladas a interagir com pessoas de fora do convívio
familiar, começam a entender a dinâmica dos jogos e atividades lúdicos.
Isso tudo significa que na Educação
Infantil permitimos e incentivamos o brincar! É por meio das brincadeiras, das
músicas, das pinturas, da dança e de tantas outras atividades, que as crianças
são introduzidas ao desenvolvimento global. É por meio dessas ações,
consideradas lúdicas, por mais simples que possam parecer, que as crianças
começam a tomar consciência de si e do mundo, passam a pensar em suas ações e
compreender de que forma devem agir para conseguir algo que almejam.
Obviamente a criança precisa estar em
um ambiente favorável para que se envolva de maneira espontânea com o que lhe é
proposto. Em um momento como o que vivemos, em que os governos determinam que
as escolas estejam fechadas, totalmente atípico para os adultos, inclusive, é
justo e importante para esses pequenos cidadãos que se busquem formas
alternativas de seguir estimulando seu desenvolvimento e aperfeiçoando suas
habilidades. Se pararmos por alguns minutos e observarmos alguns instantes das
suas rotinas em casa, perceberemos que a tecnologia e as plataformas digitais
são itens com os quais eles estão totalmente familiarizados.
As crianças de até cinco ou seis anos
de idade já nasceram na Era da Informação. Estão incrivelmente acostumadas a
ter em suas mãos e efetivamente manusear gadgets como celulares e tablets.
Eles brincam de trabalhar em notebooks, como veem seus pais, tios e avós
fazendo. Ou seja, não é um absurdo para eles encarar o amiguinho e as
professoras por meio de uma tela e interagir por ali, mostrando seus desenhos,
cantando juntos, fazendo danças e manifestando suas ideias.
Para eles, é uma experiência marcante
receber uma atividade proposta pela professora por meio de um vídeo na tela do
computador e executar com alguém da família. E é notável, mesmo com pouco tempo
de ensino à distância para crianças tão pequenas, que é possível que eles se
desenvolvam e que a educação aconteça quando a escola e a família estão,
efetivamente, de mãos dadas, caminhando juntas e atuando em parceria. Observe
você também!
Sueli
Bravi Conte - especialista em educação, mestre em neurociências, psicopedagoga,
diretora e mantenedora do Colégio Renovação, instituição com mais de 35 anos de
atividades do Ensino Infantil ao Médio, com unidades nas cidades de São Paulo e
Indaiatuba.
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