O câncer coloca a pessoa em situação limite, pois
carrega o estigma da morte e do sofrimento. Mesmo na atualidade, em que a
oncologia vem trazendo avanços no diagnóstico e tratamento da doença,
aumentando a sobrevida e cura dos pacientes, a máxima de que o câncer mata
ainda rodeia a mente das pessoas.
Existe muita especulação sobre a influência do
estado emocional no surgimento de tumores, mas não é claro afirmar que qualquer
tristeza ou raiva levará ao surgimento do câncer. Sabemos, contudo, que o
estado emocional afeta profundamente o ser humano em todos os sentidos, uma vez
que as reações emocionais disparam uma série de substâncias que podem abalar a
eficiência do sistema imune.
Recentemente, uma nova área da medicina, a
psiconeuroimunologia, ganhou força ao demonstrar interação entre estados
emocionais e a reação física disparada por eles, podendo levar a alterações
orgânicas. Inclusive, alguns pesquisadores sugerem que a ação do estresse sobre
o organismo humano pode provocar modificações das células, diminuição de
linfócitos e da imunidade, atuando na redução das defesas do corpo.
Hoje, sabemos que a maioria das doenças é
multifatorial, havendo confluência de fatores (genéticos, biológicos,
psicológicos, ambientais, alimentos, entre outros) envolvidos em seu
surgimento.
Da mesma forma, percebo na vida prática ao longo
dos anos que, sim, os pacientes que enfrentam um câncer habitualmente mudam seu
modo de ver a vida, o mundo à sua volta. A grande maioria vê a vivência como
uma forma de transformação. O enfrentamento com a iminência da finitude nos
traz isso - é a possibilidade de exercermos o melhor de nós mesmos. Os valores
são revisitados, reavaliados e, muitas vezes, modificados.
Da mesma forma que as emoções negativas podem
interferir no desenvolvimento de doenças, a maneira que lidamos com elas, a
presença e a busca por emoções positivas, que incluem a espiritualidade (que
nada tem a ver com religião e, sim, com alguma fé em algo maior) também
auxiliam na evolução do tratamento e seguimento desses pacientes, que muitas
vezes entram em remissão da doença.
Com meus pacientes, costumo afirmar que não estamos
lutando contra a morte, que virá em algum momento para todos e, sim, lutando
pela vida. Sempre desejo que ela seja a melhor em todos os momentos, mesmo nos
difíceis.
Christianne Guilhon Martelotta Amalfi -
Oncologista Clínica e Presidente da Fundação Ilumina.
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