Estudantes de todo o Brasil, além do Governo, estão apreensivos
com a notícia recente de que a gráfica que imprimiria as folhas de prova do
Exame Nacional do Ensino Médio de 2019, o Enem, decretou falência — na mesma
data em que a empresa teve o contrato renovado para a prestação do serviço.
Estrategicamente, autoridades confirmam que a prova não será postergada (se
mantendo em 3 e 10 de novembro) e, ainda que sob um véu de informações,
explicam aos alunos que estão buscando “alternativas seguras”para lidar com o
transtorno.
Fato é que a insegurança gerada pelo incidente na impressão das
provas põe em jogo o futuro educacional de milhões de estudantes (em 2018,
foram 5,5 milhões de inscritos confirmados), o que poderia ser resolvido com a
avaliação feita por meios digitais.
Não é segredo nenhum que a Educação no século 21 perpassa pela
oferta de conteúdos on-line. Pesquisa da Faculdade Latino-Americana de Ciências
Sociais, organismo autônomo e intergovernamental, de 2015, levantou que 70% dos
alunos brasileiros usam internet como auxiliar nos estudos. É razoável, então,
que passamos a explorar a possibilidade de os exames que cobram esses
conhecimentos também possam ser realizados na web.
Prova on-line
Usar a tecnologia para a aplicação do Enem equilibra pratos que há
tempos estão deixando a Educação “cambaleando”: sem a impressão das provas, o
Governo reduz custos de contrato com gráfica (o mais recente foi de mais de R$
120 milhões), de treinamento de aplicadores e coordenadores, além de deixar
para trás todo o aparato que se monta para a execução das provas como é feita
hoje, em dois finais de semana, em todo o País.
Um formato interessante na concepção do Enem on-line seria o de um
extenso banco de perguntas elaborado por uma junta de professores elencados
pela pasta da Educação. Esse é o sistema usado no teste de aptidão escolar
norte-americano, o SAT, para o ingresso de alunos nas universidades.
Apesar de o acesso digital no Brasil ainda ser um desafio, penso
que a definição de locais credenciados para a realização da prova, com
computadores e rede de internet disponíveis, não só garantiria que qualquer
aluno tivesse as mesmas chances de fazer o Enem, como seria um importante
aliado nas regulações técnicas para que fraudes sejam evitadas.
Cabe aqui, ainda, destacar algumas reclamações comuns dos
estudantes, ano a ano. O fato de o Enem contar como critério para a graduação
desperta ansiedade e sentimentos de preocupação entre eles. Esse peso poderia
ser eliminado caso o banco de perguntas fosse algo público (com muitas questões
referentes a cada área do conhecimento), e que seria a base para diferentes
provas entregues a cada aluno. A Redação, grande vilã para boa parte dos
alunos, continuaria tendo o mesmo valor na somatória da prova, com a diferença
de que seria digital.
Já existem diversas tecnologias disponíveis e eficazes para exames
on-line, os setores de tecnologia e de proficiência em idiomas já aplicam
testes on-line em centros monitorados por câmeras e monitores com grande
segurança. Isso sem contar com os benefícios logísticos de impressão, correção,
armazenamento de milhões de provas. Os ganhos do sistema de avaliação on-line
são inúmeros, mas seguimos na idade da pedra, ou do papel.
Temos que pensar em estratégias inteligentes que explorem as
tecnologias no ensino e nos testes, considerando os percalços que o formato
impresso pode trazer para nós, especialmente em larga escala, como acontece em
um exame nacional desta proporção.
Luiz Alexandre Castanha - diretor geral da Telefônica Educação Digital –
Brasil e especialista em Gestão de Conhecimento e Tecnologias Educacionais.
Mais informações em https://alexandrecastanha.wordpress.com
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