Dia Internacional da Educação, comemorado nesse domingo, dia 28 de abril.
As incertezas sobre o futuro do mercado
de trabalho, vindas do advento tecnológico e de suas constantes mudanças de
paradigmas, atingem em cheio a sociedade global. Enquanto carreiras
tradicionais deixam de existir todos os dias, novos empregos que ainda nem
imaginamos como serão começam a ser desenvolvidos dentro de pequenas empresas
que se tornarão, em um futuro próximo, gigantescas corporações. Isso torna o
trabalho de professores e formuladores de políticas públicas educacionais cada
vez mais difícil, além de, em última instância, afetar uma geração inteira de
jovens sonhadores ávidos para entrarem no mercado de trabalho.
Se o cenário descrito acima já é
complexo e de difícil solução para as grandes potências mundiais, há uma
preocupação ainda maior em relação aos países em desenvolvimento. A apreensão é
relativa ao abismo que se cria entre países “emergentes” e aqueles já
desenvolvidos, cujos sistemas educacionais estão consolidados e disparam em
todo tipo de ranking voltado para a análise das capacidades tecnológicas e de
inovação de suas sociedades. Enquanto países ricos da América do Norte, Ásia e
Europa investem na preparação de seus jovens para o futuro do planeta, na
América Latina os baixos índices de avaliação da educação em países como México
e Brasil, que são os dois focos de atuação da organização Educando, desafiam
educadores a criar políticas eficientes com baixo nível de investimento.
Alguns exemplos globais, no entanto,
nos mostram que a criatividade é uma das formas de sair dessa armadilha. Entre
eles, está o professor queniano Peter Tabichi, que venceu recentemente o Global
Teacher Prize (“Prêmio Professor Global) de 2019. Conhecida como o "Nobel
da Educação", a premiação de US$ 1 milhão avalia e reconhece professores
que realizaram grandes contribuições à profissão durante o ano.
Peter, que leciona para estudantes de
diversas culturas e religiões que enfrentam percalços para continuarem
estudando – como fome, drogas e gravidez na adolescência – doa 80% de seu
salário para ajudar alunos com uniformes e material escolar na Escola
Secundária Keriko Mixed Day, no vilarejo de Pwani, no Vale do Rift, no Quênia.
E não é só: ele ainda fundou um grupo de formação de talentos e expandiu o
Clube de Ciências local. Ao plantar a semente da curiosidade na cabeça dos
estudantes, colheu resultados práticos: 60% deles são qualificados para
competições nacionais e já faturaram vários prêmios, entre eles o da Royal
Society of Chemistry, após aproveitar plantas locais para gerar eletricidade.
O início para uma reinvenção da
educação e também da própria sociedade que irá dominar o “novo” mercado de
trabalho em um futuro cada vez mais próximo pode estar justamente em um
“círculo vicioso do bem”. Vejamos o Brasil como exemplo: dados do Índice de
Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB), principal indicador da qualidade da
educação básica no Brasil, divulgados pelo MEC no final de 2018, mostram que
nenhum dos estados atingiu a nota estabelecida para o Ensino Médio, ficando em
3,8 em uma escala de 10, quando a meta seria 4,7. Além disso, dentre 46 países
onde a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) realiza
estudos, o país é apenas o antepenúltimo em geração de profissionais aptos a
atuar em mercados de trabalho como animação, arquitetura, design, tecnologia,
biomedicina, computação, engenharia e tantos outros somando apenas 17%.
A causa de tais números pode ser
observada no início do ano, quando as notas médias do mais recente Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio), realizado em 2018, foram anunciadas. Os estudantes
brasileiros estão em retração no que tange os estudos das Ciências da Natureza.
A nota média em física, química e biologia caiu de 510,6 para 493 pontos.
Apenas algumas semanas depois, o
ranking anual Bloomberg Innovation Index, que analisa a capacidade de inovação
de 200 países, mostra mais um dado que corrobora com o Enem, mas em estado mais
avançado, já na esfera profissional: o Brasil aparece somente na 45ª posição.
No caso do México, a situação é ainda pior: 59º colocação entre os 60 países do
ranking. Cada uma das economias presentes no ranqueamento foi pontuada em uma
escala de 0 a 100 com base em sete categorias igualmente ponderadas, tais como
investimentos em pesquisa e desenvolvimento e capacidade de fabricação e
concentração de empresas de capital fechado com tecnologia de ponta.
Embora vejamos causa/consequência, o
ciclo não se encerra por aí. As deficiências em educação básica e inovação são
dois problemas que devem ser encarados com seriedade e planejamento estratégico
de longo prazo.
Na Educação Básica, que compreende os
Ensinos Fundamental 1 e 2, além do Ensino Médio, é necessário investir na
qualidade para criar uma base sólida para o aprendizado desde cedo. Se levamos
em conta apenas o Ensino Médio, o essencial é manter o interesse dos alunos por
meio de aulas dinâmicas, professores inspiradores e conteúdo prático que
estimule a criatividade e inovação, duas características que podem abrir as
portas para esse novo mercado de trabalho.
Tanto no Brasil quanto no México,
acreditamos que um caminho para esse ciclo virtuoso se baseia no ensino de um
método que é tendência mundial nos países desenvolvidos: o STEM (acrônimo em
inglês usado para designar Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática –
Science, Technology, Engineering, and Mathematics), campo eficiente na formação
daqueles que podem transformar qualquer área de inovação. É isso que
pretendemos estimular por meio de nossos programas STEM Brasil, criado em 2009,
e STEM México, recém-lançado em 2018. Com pequenas adequações aos currículos
específicos de cada país, ambos são projetos com foco na capacitação de
professores de escolas públicas. Apenas com a melhoria da qualidade desses
professores seremos capazes de realizar uma mudança sistêmica capaz de atingir
o maior número possível de alunos.
A revolução tecnológica está caminhando
de maneira tão rápida que chegamos a um momento decisivo. A melhoria da
educação nunca foi tão necessária quanto agora. Quando alunos mexicanos e
brasileiros ganham a oportunidade de mostrar seus talentos, vemos como eles são
criativos. Um bom exemplo disso é a Febrace, Feira Brasileira de Ciências e
Engenharia. Na edição deste ano, foram selecionados vários projetos de alunos
que estudam em escolas participantes do programa STEM Brasil.
O nível de complexidade dos projetos
mostra que o programa está no caminho certo. Apenas como exemplo, podemos citar
o projeto ‘BioCanudo’, apresentado pela estudante Maria Pennachin, do Colégio
Estadual Culto à Ciência, de Campinas, São Paulo. O canudo biodegradável é
feito à base de inhame e, além de poder ser descartado na natureza sem causar
prejuízos para a fauna e a flora, é maleável e comestível. O BioCanudo é um
projeto tão incrível que Maria Pennahcin foi convidada para apresentá-lo na
Feira Internacional de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, em
setembro deste ano. Inspirada pelos professores que participaram de capacitação
do programa STEM Brasil, a estudante conta que criou o BioCanudo para reduzir a
poluição de resíduos plásticos nos oceanos e que quer seguir na carreira de
pesquisadora.
O Brasil tem outros exemplos que nos
dão esperança e motivam a seguir com os programas da Educando. Um deles é o
Sírius, situado na Unicamp, também em Campinas. O laboratório é uma das
estruturas científicas mais modernas do mundo, com capacidade para analisar
diferentes materiais em escalas de átomos e moléculas e, assim, revolucionar a
pesquisa brasileira e internacional em áreas como saúde, agricultura e
exploração do petróleo.
A missão da Educando é oferecer
capacitação de altíssima qualidade e apoio contínuo a professores e diretores
de escolas públicas no México e no Brasil com o objetivo de impactar a educação
de maneira sistêmica. Investir na formação dos professores é a maior garantia
de que esse conhecimento vai se espalhar pelas novas gerações. A educação é a
grande ferramenta para que países como México e Brasil deixem os
problemas para trás e encarem um novo ciclo de desenvolvimento econômico.
Precisamos preparar hoje os estudantes para o amanhã. Um grande futuro começa
com grandes professores.
Kelly Maurice - Diretora
Executiva da Educando by Worldfund (educando.org)
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