Problema já afeta 150 milhões de jovens no mundo
Segundo a psicóloga da Clínica Maia, Aline Grou, é considerado bullying a prática de atos violentos e intencionais, seja verbal ou fisicamente, que acontece de modo repetitivo e persistente, sem aparente razão ou motivação clara, com intuito de intimidar, humilhar e maltratar qualquer pessoa que se mostre indefesa. O ato pode ocorrer em diversos ambientes, porém, atualmente, é visto mais comumente em colégios.
"Além dos pais ficarem atentos a machucados e hematomas sem explicação, é importante entender que o problema interfere diretamente no comportamento e no emocional da criança/adolescente, que passa a apresentar isolamento, irritabilidade, agressividade, alterações no sono e no apetite, choro sem motivo aparente e desinteresse pela escola. A vítima do ato pode criar até mesmo meios para não ir ao colégio, inventando dores de cabeça constantes e mal-estar, por exemplo", alerta Aline, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
As consequências do bullying, além de físicas, são também psicológicas, afetando seriamente o emocional e o cognitivo. O problema pode ser determinante para o estabelecimento da autoestima e pode influenciar de maneira negativa no desenvolvimento e constituição da personalidade, além de provocar queda no rendimento escolar, evasão da escola, dificuldades de aprendizagem e socialização, e, em casos mais graves, desenvolvimento de depressão, ansiedade e pensamentos autodestrutivos como o suicídio.
"É essencial que os pais se atentem às mudanças de comportamento do filho.
Por isso, esta é uma fase que exige um vínculo forte com a criança/adolescente, mantendo um diálogo aberto, frequente e sem julgamentos. Caso se confirme a suspeita do ato, é fundamental procurar a escola para alertar sobre o que está acontecendo, a fim de exigir que as devidas providências sejam tomadas para evitar que este tipo de situação perdure", comenta a psicóloga.
Aline ressalta, ainda, que o bullying praticado por meninos é feito de maneira mais expansiva e agressiva com chutes e socos, por exemplo, sendo mais fácil de identificar. Já o bullying praticado por meninas acontece de maneira mais velada, através de fofocas, humilhações e comentários negativos. A vítima é isolada, excluída do convívio, ignorada na realização de trabalhos ou atividades em grupo.
"Nesse tipo de situação, a escola precisa ficar atenta e intervir rapidamente, comunicando aos pais e encaminhando o agressor para um tratamento psicológico, pois é bem possível que a criança que comete o ato também esteja em sofrimento psíquico. É necessário promover também medidas de conscientização e combate a todos os tipos de violência dentro do ambiente escolar. É importante ter um olhar cuidadoso sobre o assunto - nem tudo pode ser considerado como brincadeira típica da idade", destaca a especialista. O bullying tornou-se um "fenômeno" tão sério que motivou a regulamentação de novas leis para coibir esse tipo de ação, principalmente no ambiente escolar (lei 13185/2015 e a lei 13.663/2018).
Para a psicóloga, a família é o primeiro grupo social do qual a criança faz parte, portanto é importante os pais observarem os tipos de brincadeira e verbalização que ela apresenta em casa, e chamar sua atenção para atitudes que possam ofender ou constranger o outro, esclarecendo que aquilo não é uma brincadeira. "As escolas, por sua vez, podem promover com frequência palestras preventivas sobre o tema, com uma abordagem colaborativa e pacificadora para resolução de conflitos".
A Clínica Maia está implementando, inclusive, o programa intitulado Saudável Mente, cujo intuito é abrir um canal especializado de informação nas escolas para que o jovem, o educador e a família possam enxergar a saúde mental sem tabus ou paradigmas, bem como possibilitar a busca da ajuda profissional sempre que necessário. O projeto visa realizar palestras no ambiente escolar, sendo o primeiro contato feito com os educadores, para que eles possam identificar casos, oferecer ajuda aos estudantes e para que saibam também agir em casos de conflito.
O tratamento das vítimas de bullying é realizado através de psicoterapia individual e envolve treinamento de habilidades sociais, promoção de resiliência e psicoeducação. Como as vítimas do problema apresentam insegurança, baixa autoestima e dificuldades para se expressar e se comunicar, essas técnicas visam trabalhar e modificar esse comportamento, contribuindo para que ela crie habilidades de enfrentamento frente ao agressor ou situações de constrangimento. E a família é extremamente importante neste processo.
"O agressor, por sua vez, também deve passar por tratamento psicológico, pois muitas vezes possui uma autoestima tão baixa quanto a das vítimas, assim como um alto nível de sofrimento emocional, que deve ser acolhido e tratado. Também é importante promover a empatia, criando possibilidades de sensibilização e envolvimento de forma positiva com o grupo/vítima", completa Aline.
Nenhum comentário:
Postar um comentário