De acordo com a Organização Mundial
de Saúde (OMS), o povo brasileiro é considerado como o mais ansioso do mundo.
Trata-se de uma afirmação que, em um primeiro momento, pode originar profunda
estranheza, haja vista que a partir de determinado imaginário cultural, somos
reconhecidos como um povo cordial, acolhedor e afeito às mais diversas
festividades.
Não somos o país que só começa a
trabalhar após o Carnaval, afinal?
Segundo o Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa, dentre diferentes acepções, ansiedade pode ser definida como
um “estado afetivo penoso, caracterizado pela expectativa de algum perigo que
se revela indeterminado e impreciso, e diante do qual o indivíduo se julga
indefeso”.
Nesse sentido, há alguns aspectos
presentes nesta definição que merecem nossa atenção. Nota-se que a ansiedade,
enquanto estado afetivo penoso, é decorrente da expectativa de um perigo
indeterminado e impreciso. Quando refletimos e atuamos diante deste perigo
indeterminado e impreciso no campo da Psicologia Clínica, por exemplo, é mister
que se procure construir com o sujeito que temos sob nossos cuidados
representações que simbolizem este perigo até então indeterminado.
O que o sujeito teme? O que lhe
acontecerá de mau no futuro? Conseguindo construir ou desvelar os objetos que
originam a expectativa de perigo, o sujeito poderá organizar estratégias para
se defender e se reposicionar diante daquilo que, até então, causava-lhe
mal-estar e desconforto.
Destacamos, portanto, um importante
aspecto da ansiedade que muitas vezes é relegado ao segundo plano, a saber: seu
potencial de convocar o sujeito a se reposicionar e atuar ativamente diante
daquilo que lhe gera sofrimento.
Em que pesem as considerações
elencadas acima, a pesquisa da OMS apresenta seus resultados em caráter
coletivo, isto é, de acordo com os resultados divulgados, é a população
brasileira que se revelou como a mais ansiosa do mundo.
Neste sentido, poderíamos estabelecer
uma generalização entre aquilo que possivelmente mobiliza um sujeito e aquilo que
mobiliza uma população? Quais os objetos ou fenômenos que tornaram a população
brasileira a mais ansiosa do globo?
Devemos, então, utilizar toda a nossa
suposta ‘cordialidade’ para acolher e dar as boas-vindas a esta ansiedade e que
- enquanto estado afetivo penoso caracterizado pela expectativa de algum perigo
que se revela indeterminado e impreciso - possamos refletir e atuar diante
desta indeterminação, encontrando os objetos de perigo e, a partir deste
encontro, promover conscientização política e mobilização social diante daquilo
que, até então, parecia nos deixar completamente indefesos.
De acordo com esta perspectiva, a
ansiedade mais do que revelar um mal-estar, pode também representar um
importante catalisador para transformação da realidade brasileira. Bem-vinda,
ansiedade!
Eduardo
Fraga - professor de
psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e está disponível para
entrevistas. Caso precise de foto do especialista, por favor, entre e
contato.
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