É extremamente importante que a
linguagem passada pelos rótulos dos alimentos seja compreendida pela população,
que na sua grande maioria não consegue entendê-los e ainda desconhece as normas
da Anvisa que padronizam essa comunicação. Para que que essa linguagem seja
facilitada e mais acessível, recorrer a novos modelos mais ilustrativos é uma boa
estratégia para incentivar e conscientizar a população a respeito da manutenção
de hábitos alimentares mais saudáveis.
Segundo a pesquisa “A mesa dos Brasileiros”,
publicada pela FIESP em abril de 2018, oito em cada dez brasileiros afirmam se
esforçar para ter uma alimentação saudável, mas apresentam dificuldades para
saber quais alimentos são mais saudáveis no momento da escolha. O ato de comer
vai além de simplesmente ingerir um alimento por conta da sua composição
nutricional, também é necessário levar em consideração que o ser humano é o
único animal no planeta para o qual o momento da alimentação é também um ritual
que envolve aspectos sociais, psicológicos, regionais e afetivos.
Os alimentos carregam significados e são
símbolos individuais e/ou coletivos para as pessoas. Toda vez que um alimento
se torna proibido, restrito e taxado ou julgado como ruim devido a um único
ingrediente (mensagem que será transmitida com advertências como “alto em
açúcar”, “alto em sal” e “alto em gordura”), sem considerar o contexto e a
quantidade consumida, o produto passa a gerar curiosidade e angústia, que podem
despertar uma relação negativa com o alimento, acarretando, em alguns casos até
mesmo o hábito de comer compulsivamente, sem controle e sem consciência. Além disso,
nada garante que um alimento que não seja reconhecido ou não possua as
quantidades determinadas para ser considerado com alto teor de açúcar, sal e
gordura seja necessariamente mais saudável do que os taxados como “Alto em”.
No Chile, há um novo modelo de rotulagem,
pelo qual produtos com grandes quantidades de açúcar, sal e gordura por porção
recebem um selo preto frontal de alerta. Essa nova proposta tem forçado
a indústria a diminuir a quantidade dos nutrientes citados e compensá-los ou
substituí-los por elementos químicos para garantir sabor e textura. Segundo a
nutricionista chilena Andrea Rubio, da Escola Acadêmica de Nutrição e Dietética
na Universidade Bernardo O'Higgins, o novo rótulo não contribui de forma
efetiva para uma mudança nos hábitos alimentares do país, pois apenas três em
cada dez chilenos preferem comer produtos sem os selos pretos de advertência.
A melhor forma de direcionar o consumidor
para uma alimentação saudável e equilibrada é por meio de iniciativas de
educação nutricional, em escolas, campanhas do governo, que podem ser apoiadas
pela implementação de rótulos claramente informativos que ajudem o consumidor a
escolher, conscientemente, os produtos, bem como entender as quantidades ideais
para serem ingeridas de cada grupo de alimentos.
Em suma, não deve haver o julgamento de
ingredientes como proibidos ou permitidos, bons ou ruins, vilões ou mocinhos,
pois o contexto alimentar é algo para ser avaliado de forma única, respeitando
a individualidade biológica e social de cada ser humano.
Bianca
Naves
- nutricionista especialista em Nutrição em Cardiologia e Nutrição Esportiva
pela USP. Sócia proprietária da Clínica NutriOffice em SP; colaboradora do
programa jornalístico “Hoje em Dia” transmitido pela Record.
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