Médico
revela como pais e professores podem ajudar a corrigir o problema
De acordo com a SBED (Sociedade Brasileira
para Estudo da Dor), três em cada dez brasileiros se queixam de dor. Estudos
sobre dor crônica no Brasil mostram que a prevalência varia de 30% a 50% –
informação que tem cada vez mais chamado atenção de profissionais de saúde
dispostos a atenuar o problema e contribuir para melhorar a qualidade de vida
desses milhares de pessoas. Na opinião do médico ortopedista Lafayette Lage,
especialista em joelho e quadril, as queixas mais comuns são dor nas costas e
no pescoço, mas há também um determinado tipo de dor de cabeça que está
associado a problemas de postura.
O médico alerta que muitas queixas de dor
crônica na fase adulta estão diretamente ligadas a maus hábitos posturais na
infância. Sendo assim, quando a gente ouve um adulto relativizar o fato de que
uma criança tem mania de “sentar em W”, está na hora de saber o que isso pode
acarretar quando estiver mais velha. Afinal, enquanto é pouco comum ouvir um
jovem reclamar de dor (com exceção dos atletas, claro), depois dos 50 anos essa
é a lamentação mais frequente.
“Os problemas de má postura em criança
começam cedo. Antes mesmo de ir para a escola, os adultos acham graça quando a
menininha ou o menininho senta-se em forma de W, desconhecendo os riscos que a
repetição desse hábito acarreta para a fase adulta. A criança aprende a andar
quase ao mesmo tempo em que aprende a brincar, a se desafiar do ponto de vista
da motricidade. Ao sentar-se em forma de W ela busca maior equilíbrio do tronco
e estabilização do quadril. Quando os pais não interferem nesse padrão, ela não
desenvolve recursos de movimento mais maduros – necessários para outras
habilidades”, afirma Lage.
Segundo o especialista, esse tipo de padrão
pode causar um desvio rotacional do fêmur ou da tíbia, levando ao
desalinhamento da articulação da patela do joelho (articulação femoropatelar) –
que, por consequência, leva à condropatia e provoca muita dor no joelho de
jovens e adultos. “Essa é, inclusive, uma das causas da condromalácia patelar –
que é o amolecimento da cartilagem que envolve a patela (rótula). A melhor
coisa a se fazer é desestimular a criança a sentar-se desse jeito logo de
início, propondo variações de forma natural. A postura ideal é em ‘posição de
índio’, com as pernas cruzadas à frente do corpo”.
No caso de crianças e adolescentes em fase
escolar, Lage chama atenção para a quantidade de horas que os alunos passam
sentados nas carteiras ou cadeiras universitárias em sala de aula, geralmente
com o tronco e o pescoço inclinados para frente ou, pior ainda, com o corpo
quase que deitado no assento e o pescoço apoiado no encosto. “É grande o número
de crianças que se queixam de dores no corpo durante as aulas. O problema é que
os adultos não levam isso tão a sério quanto deveriam. E um dos motivos é que a
queixa acaba assim que o jovem se levanta e vai praticar atividades esportivas
ou recreativas. Mas, imagine o que um problema postural que se arrasta por mais
de 15 anos de vida acadêmica não é capaz de fazer quando a criança se torna um
adulto sedentário e acima do peso ideal”, avalia o médico – chamando atenção,
também, para o peso excessivo que os jovens carregam em suas mochilas e que
pode comprometer a coluna no médio ou longo prazo.
Lafayette Lage faz um alerta, por fim, sobre
problemas de postura na hora de dormir – e que precisam ser corrigidos a tempo
de não se transformarem em dor crônica. “A pior posição para pegar no
sono é a de bruços, com o pescoço voltado para um dos lados. Imagine passar
horas durante a noite – principalmente quem pouco se mexe – com a espinha
dorsal fazendo um S. Com o passar dos anos, é praticamente impossível que essa
pessoa não venha se queixar de problemas musculares, compressão nos nervos, e
até mesmo de dor de cabeça. A posição mais comum, que é a fetal – em que a
pessoa se deita de lado e flexiona os joelhos – pode ser boa para quem tem
problemas de ronco, mas não deixa de forçar o pescoço no travesseiro. Sendo
assim, o paciente deve pelo menos encontrar um travesseiro que tenha a altura exata
da largura do seu ombro, permitindo que a cabeça fique bem apoiada e o pescoço
possa descansar enquanto dorme. Já a posição de barriga para cima é ideal para
quem sofre de dores no pescoço e nas costas. Ela também contribui para reduzir
o refluxo gastresofágico e prevenir rugas. O único problema é que induz ao
ronco. Mas, como isso se transforma realmente num incômodo somente depois dos
30 ou 40 anos, o ideal é acostumar a criança a dormir de barriguinha para cima
mesmo, enquanto pode”.
Fonte:
Prof. Dr. Lafayette Lage
- médico ortopedista, especialista em Joelho e Quadril – www.clinicalage.com.br
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