Diferença entre
inflação e custo da energia está cada vez mais elevada devido à complexidade da
composição do valor da tarifa, que depende da quantidade de chuvas, câmbio,
carga tributária e subsídios
O consumidor se tornou uma espécie de fiador do
setor elétrico brasileiro. É ele quem sustenta os aumentos constantes da
energia elétrica em um ritmo mais alto que o da inflação. De janeiro a julho
deste ano, o preço da energia subiu 13,79% frente aos 2,94% de acúmulo pelo
Índice de Preços ao Consumidor (IPCA). Essa lógica perversa pode ser vista
também em um período mais longo: de 1995 a 2017, a tarifa média residencial
cresceu 50% acima do IPCA - para as fábricas, chegou a ser 130% maior, segundo
dados do Instituto Ilumina.
“A energia sobe acima da inflação devido à forma
como o setor elétrico contrata. O serviço está segmentado basicamente em
geração (as usinas que produzem energia), transmissão (o sistema que transmite
a energia entre as usinas e os centros de consumo) e distribuição (que consegue
realizar a entrega da energia ao consumidor). Para cada concessionária de
geração, transmissão e distribuição existem contratos diversos, com cláusulas
particulares e valores diferentes, os quais precisam ser liquidados junto a
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). No caso do Ambiente de
Contratação Regulado (ACR), ao qual a maioria dos consumidores está vinculada,
a composição do preço final ao consumidor é complexa, pois envolve todos os
contratos vinculados à geração, transmissão e distribuição e, eventualmente, o
Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), além de encargos setoriais e
impostos ”, explica o professor dos cursos de Engenharia de Energia e
Engenharia Elétrica da Universidade Positivo (UP), Fabrizio Nicolai Mancini.
O especialista esclarece que diversos fatores
incidem sobre esses custos, tais como escassez de chuva, peso dos subsídios,
incidência de encargos e tributos, assim como garantias de pagamento dadas aos
players do setor. Entre esses fatores que oneram a taxa mensal, encontram-se os
impostos (PIS/Pasep, Cofins e ICMS), perdas de energia e os complexos custos
relativos à geração, transmissão e distribuição. Dados da Agência Nacional De
Energia Elétrica (Aneel) apontam que os encargos subiram de 6% para 16% no peso
da tarifa de energia. Um estudo da Associação Brasileira dos Distribuidores de
Energia Elétrica (Abradee) mostrou a divisão da composição da tarifa de energia
para o consumidor do mercado cativo (que adquire energia das distribuidoras
tradicionais): 39,7% se referem a compra, 42,1% a encargos e tributos, 15,6% a
distribuição e 2,7% a transmissão.
Refém desse ambiente, o consumidor pode
tomar algumas medidas para sentir menos o baque do custo da energia em sua
residência. Segundo Mancini, o primeiro passo é entender o conceito de educação
energética, controlando o quanto se consome, assim como já se faz com
smartphones e notebooks. “Sabendo quanto o equipamento consome, é fácil
determinar quanto ele custa ao fim do mês e identificar onde e como fazer essa
redução”, explica o professor.
Faça as contas
Nesse contexto, Mancini ensina como
determinar os gastos médios de cada equipamento da casa: (1) verifique a
potência em watts do equipamento; (2) determine quantas horas por dia ele é
usado; (3) faça uma conta matemática simples para encontrar a energia em kWh: a
potência multiplicada pelo número de horas usadas por dia e, na sequência, pelo
número de dias do mês de utilização, dividindo tudo por mil; (4) por fim, use o
valor obtido pelo custo do KWh encontrado na fatura de energia. “Para
economizar, é preciso conhecer. Só assim, saberemos onde teremos a maior
economia”, diz Mancini.
Para ilustrar o raciocínio, imagine um
chuveiro elétrico de 5500w, utilizado por 15 minutos por dia (o equivalente a
0,25 de hora) ao longo de 30 dias: ((5500 X 0,25 x 30)/1000), o que equivale a
20,25 kWh por mês. Multiplicado pelo valor do KWh (0,77) encontrado na tarifa
de energia do Paraná, chega-se à conclusão de que o preço de um banho diário de
15 minutos, por 30 dias, é de R$ 15,59 ao mês. Com isso, o consumidor consegue
fazer contas e determinar os equipamentos relevantes em seu dia a dia e como
evitar as altas contas de energia.
Para Mancini, esse raciocínio também
deve orientar o comportamento do consumidor na hora de comprar equipamentos.
Ele ilustra o exemplo com as televisões: as de LED consomem menos do que as LCD
e, no médio e longo prazo, um investimento maior pode se reverter em economia
de energia e de dinheiro. Para quem quiser saber mais, os alunos do curso de
Engenharia de Energia da Universidade Positivo gravaram um vídeo, com dicas de
economia: https://www.youtube.com/watch?v=CM3HuLul68o&t=91s.
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