E este número pode subir para até 90% em
casos de pacientes com câncer. No Dia Mundial de Combate a Dor, especialistas e
pacientes defendem que ter dor não é ‘normal’.
Definida como ‘dor que persiste por tempo igual ou superior a 3 meses’, a dor crônica é uma condição que atinge cerca de 60
milhões de pessoas no Brasil. Já em pacientes com câncer, que apenas em 2016
serão 600 mil novos casos diagnosticados no país, estima-se que 50% deles
sofram da condição1 – índice que sobe
para até 90% dentre os casos avançados. Visando
chamar atenção para esta doença negligenciada, especialistas, pacientes e
sociedades médicas se unem para ampliar a
conscientização sobre o tema, no dia 17 de outubro, Dia Mundial de Combate a
Dor.
Segundo Dr. João Marcos Rizzo, médico do Instituto Hodie (PortoAlegre/RS) é fundamental que as pessoas saibam que sentir dor não é normal. “Há vários tipos de dor, cada uma com
suas características, e existem diversas formas de amenizá-las. Médicos e pacientes tendem a não colocar a dor como prioridade, afetando de maneira
negativa o tratamento. Por isso a importância de se conversar sobre o tema para
buscar sempre a melhora na qualidade de vida”, defende o especialista. Estudos recentes apontam que 40%
dos pacientes acreditam que sua dor foi subtratada[i] em
algum momento, reiterando a necessidade de promover o debate do tema.
Para pacientes que têm câncer a dor é intensa
e frequente, seja causada pelo tumor ou pelo tratamento. Outro levantamento
recente[ii] identificou que a dor crônica afeta a
disposição de 89% dos pacientes oncológicos,
fazendo com que eles passassem mais tempo em casa. Quando questionados sobre
qual palavra descreveria melhor a convivência com esse sintoma os resultados
foram: desânimo (40,4%), angústia (35,6%) e desespero (17,5%). A solução para este tormento
abrange diversas terapias, dentre elas o uso de analgésicos opióides como opção para casos de dor
moderada e intensa[iii], conforme a indicação da Organização
Mundial da Saúde (OMS). De acordo com organizações internacionais, o Brasil
está entre os 10 países com menor prescrição deste tipo de substância em todo o
mundo, o que reforça o quadro de subtratamento da dor no país.
Apesar do cenário desanimador, há inúmeras histórias de superação. O engenheiro Lécio Reis, 49 anos, foi diagnosticado com câncer de pulmão há 3 anos e relata o que significa lidar
e conviver com a dor: “A
esperança é que essa dor passe o mais rápido
possível, os dias e noites passavam e as dores continuavam. Eu também era uma pessoa extremamente resistente
a estes medicamentos, mas hoje percebo que estão aí para ajudar com o tratamento. Eu quero
viver o que eu tenho para viver da melhor forma possível. Depois de tudo que eu
vivi, viver um dia sem dor hoje tem um valor imensurável”.
Ainda sobre tratamento, os especialistas
chamam atenção para a disponibilidade destes medicamentos no Sistema Único de
Saúde (SUS) e no sistema de saúde suplementar. “O paciente que sofre com dor, hoje no
Brasil, enfrenta uma série de
obstáculos
até vencer o problema: a falta de
comunicação com o médico,
preconceito com os analgésicos opióides e, ainda, barreiras de acesso. Por
exemplo: estamos aguardando parecer do Ministério da Saúde sobre a revisão do
documento que padroniza o tratamento da dor crônica na rede pública – o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT). No início do ano,
foi realizada uma enquete pública que possibilitou o envio de sugestões para
ampliar a diversos tipos de analgésicos
opióides, como a oxicodona de liberação lenta,o fentanil transdérmico, a buprenorfina
transdérmica, o tramadol, fármacos essenciais em situações específicas mas
bastante frequentes,
destaca Rizzo.
Já para os pacientes que possuem convênio, há a Lei da Quimioterapia Oral, vigente desde 2014, que não é amplamente divulgada. De acordo com a
medida, as operadoras de planos de saúde devem fornecer aos pacientes com
câncer, medicamentos para o tratamento quimioterápico em casa – incluindo
terapias para dor. Segundo o próprio
especialista, “apesar de ser uma grande vitória do paciente, esta lei poderia estar
beneficiando um número muito maior de pessoas”.
Dr. João Rizzo conclui que “a expectativa é que a data do dia 17 contribua para a
ampliação destas discussões, levando informação ao maior número de pacientes e
buscando a melhoria na qualidade de vida de milhares de brasileiros. Quem sabe,
num futuro próximo,
possamos ter uma legião de ‘Lécios’, de pessoas que superaram a condição e
hoje vivem sem dor? É para isso que estamos trabalhando”.
[i] ACHEON Working
Group, Kim YC, Ahn JS, Calimag MM, Chao TC, Ho KY, Tho LM, Xia ZJ, Ward L, Moon
H, Bhagat A. Current practices in cancer pain management in Asia: a survey of
patients and physicians across 10 countries. Cancer Med. 2015 Aug;4(8):1196-204
[ii] Pesquisa online conduzida pelo
Instituto Oncoguia em parceria com a Mundipharma. Realização: julho a outubro
de 2015, com 344 pacientes oncológicos de todo o Brasil e que sofrem com dor.
[iii] WHO Pain Relief
(OMS). Disponível
em: http://www.who.int/cancer/palliative/painladder/en/. Acesso em: 26/04/2016.
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