Pessoas que foram separadas de seus
familiares durante a fase de isolamento compulsório de pacientes com hanseníase
reivindicam medidas reparatórias
O maior caso de alienação parental da
História do Brasil – ocorrido entre as décadas de 1920 e 1980, durante a
vigência do isolamento compulsório de pacientes com hanseníase – aguarda
decisão histórica do Governo Federal. Caso seja aprovada medida provisória para
estender a indenização concedida às pessoas internadas nos antigos leprosários
também aos seus filhos, o Brasil será o primeiro país do mundo a indenizar as
famílias separadas pelo preconceito associado à hanseníase. São Paulo participa
desta luta e recebe nesta sexta-feira, 12 de junho, o encontro do Movimento de
Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). O evento, que
reunirá filhos que foram separados de seus pais ao nascer, representantes do
Morhan e do poder público, será realizado a partir das 13h30 no Hospital Dr.
Arnaldo Pezzuti Cavalcanti, no distrito de Jundiapeba, em Mogi das
Cruzes, na Grande São Paulo, onde funcionava o hospital colônia Santo
Ângelo, fundado em 1928.
“A mobilização é fundamental para que o mecanismo legal
que venha a garantir a indenização das pessoas que foram separadas de suas
famílias realmente atenda as necessidades destes cidadãos. Por isso, o Morhan
vem promovendo encontros locais em todo o Brasil e, também, reuniões decisivas
com o poder público”, aponta Artur Custódio, coordenador nacional do
Morhan. Na semana passada, dia 02 de junho, o ministro de Direitos Humanos
Pepe Vargas recebeu membros da entidade para discutir a viabilidade de um
anteprojeto de lei, atualmente em estudo na secretaria geral da Presidência da
República, para indenização das pessoas que sofreram a alienação parental
imposta pelo Estado brasileiro. Além deste, mais quatro projetos de lei sobre o
tema tramitam no país.
Isolamento compulsório e alienação parental
No Brasil, até a década de 1980, a lei federal nº 610 de 13 de janeiro de 1949 recomendava o isolamento compulsório dos pacientes com hanseníase em colônias, chamadas à época de leprosários. A mesma lei ordenava a entrega dos bebês de pais com hanseníase à adoção, o que levou à separação de milhares de famílias. Esta situação perdurou até 1986, quando os antigos hospitais colônias foram transformados em hospitais gerais. “Os muros foram derrubados, os portões abertos, mas a luta pelo reencontro destas famílias ainda continua”, revela o coordenador nacional do Morhan, Artur Custódio.
Desde 2007 o
Governo Federal concede pensão especial às pessoas que foram submetidas ao
isolamento compulsório. A indenização prevista pela lei corresponde
à pensão vitalícia de um salário mínimo e meio, garantia de fornecimento
de próteses e realização de intervenções cirúrgicas e assistência à saúde
por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, as medidas não se estendem aos
seus filhos. “Por isso, o Conselho Nacional de Saúde e a Comissão de Direitos
Humanos das Nações Unidas recomendam a aprovação de medida provisória que
estenda a indenização concedida às pessoas que foram isoladas nos antigos
leprosários também aos seus filhos, entregues compulsoriamente à adoção ao
nascer”, aponta Artur.
Hanseníase no
Brasil
A
hanseníase tem cura e o tratamento está disponível no Sistema Único de
Saúde (SUS), gratuitamente. Como a transmissão da doença é interrompida 48
horas após o início do tratamento, o Brasil teria todas as condições para
eliminar a hanseníase. No entanto, o país concentra o maior número de casos da
doença em todo o mundo. Segundo o Ministério da Saúde, em
2014, 24.612 casos novos de hanseníase foram identificados em todo o país,
o que corresponde a um coeficiente de prevalência
de 12,14 novos casos da doença por cada 100 mil habitantes. De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS),
este índice não deve ser superior a 10.
Encontro do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan): debate sobre indenização das pessoas separadas de suas famílias durante a política de isolamento compulsório de pacientes com hanseníase
Sexta-feira, 12 de junho, a
partir das 13h30
Hospital Dr. Arnaldo Pezzuti Cavalcanti
Hospital Dr. Arnaldo Pezzuti Cavalcanti
Cândido Rego Chaves,
Eng, Rod, N° 0, Km 3,5, Barroso, Mogi das Cruzes - SP
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