Pelos
padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) — mais de 300 pessoas acometidas
por 100 mil habitantes —, o Brasil está diante de uma epidemia de dengue. Dados
oficiais do governo, referentes ao boletim da 15ª Semana Epidemiológica,
mostram que, até 18 de abril, haviam sido notificados 746 mil casos em todo o
País, com 229 óbitos confirmados.
Há especial preocupação com o Estado de São Paulo, onde,
segundo o mesmo relatório, havia 402 mil indivíduos infectados, com 169 mortes.
É interessante notar que, em 2013, quando o Brasil enfrentou situação ainda
mais grave, registrando, na mesma 15ª Semana Epidemiológica, mais de um milhão
de casos, o número no território paulista foi de 154 mil. Isto significa
incidência de 228,3 por 100 mil habitantes, contra 911 por 100 mil, em 2015. Ou
seja, é notória a alteração na dinâmica da epidemia, exigindo olhares e ações
diferenciados da população e do poder público, na tentativa de conter o
problema.
Outro aspecto preocupante é que, de acordo com os dados da
América do Sul referentes à 12ª Semana Epidemiológica, o Brasil é o país com o
maior número de incidências, com um número de casos notificados 33 vezes maior
em relação ao Paraguai, segundo colocado. Sendo assim, a pergunta premente é:
quais são os fatores que, em 2015, têm levado ao aumento da ocorrência da
doença?
Um dos muitos debates nestes tempos de seca de
reservatórios dá-se em torno do recolhimento e estoque de água de chuva, que
estariam sendo feitos inadequadamente pela população. É possível que isso
tenha contribuído para a proliferação do Aedes
aegypti, transmissor do vírus da dengue, cuja larva se desenvolve
em água parada, especialmente se for limpa.
Outro tema levantado há anos que retorna à pauta é relativo
ao acúmulo de lixo, como foco para a disseminação do mosquito. Resíduos descartados
de maneira inadequada sempre serão veículos de contaminação do ambiente, quando
acumularem água parada. Esse descarte inadequado ocorre principalmente nos
chamados pontos viciados, locais onde moradores vizinhos utilizam muros ou
esquinas para colocar o lixo.
No que diz respeito especificamente ao lixo domiciliar, sua
coleta no município de São Paulo tem frequência diária ou em dias alternados.
Segundo o Instituto Oswaldo Cruz e a Secretaria de Saúde do Município de São
Paulo, o ciclo de desenvolvimento do mosquito até a sua forma adulta ocorre em
10 dias. Assim, considerando a frequência da coleta em São Paulo e o ciclo
reprodutivo do Aedes aegypti, a associação do descarte de
lixo com a proliferação do mosquito não é direta.
Então, temos duas questões importantes. Primeira: como a
população faz o descarte e manejo do seu lixo? Segunda: como é a gestão da
coleta e destinação do lixo coletado? Como cidadãos, devemos cuidar do lixo, de
modo a reduzir o impacto ambiental, buscando separar o que é passível de ser
reciclado. Ao realizarmos o descarte, todo material deve estar acondicionado em
sacolas próprias, fechadas de maneira a evitar que haja espalhamento do
conteúdo no momento da coleta e transporte, dispondo sempre no horário correto.
Na outra ponta, estão a coleta e a destinação. É imperativa
uma ação sempre eficiente do poder público na gestão desses dois serviços e da
limpeza pública, pagos pela população em seus impostos, como o IPTU. Também é
essencial que a prefeitura tome providências para a eficiência e agilidade da
limpeza total dos pontos viciados, adotando frequências curtas de remoção,
similares à dos serviços regulares de coleta domiciliar, realizados diariamente
ou a cada dois dias.
Professor
Jan Carlo Delorenzi - PhD, Doutor em Ciência Biológicas (Biofísica). Professor
de Imunologia e Saúde Pública – Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Pesquisador Sênior em Pesquisa Clínica. Líder do Grupo de Pesquisas em Saúde
Pública da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Conferencista na área de
Doenças Negligenciadas.
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