Muito se discute a
respeito da maioridade penal do Brasil. Por conta disso, pelo clamor popular, a
Câmara dos Deputados deve votar nos próximos dias a nova lei sobre a redução da
maioridade penal.
Entendo,
com a devida vênia, que tal matéria deveria estar decidida há muito tempo e não
somente agora ir a plenário.
O
mundo mudou, tudo evoluiu. Se compararmos os costumes antes da década de 20 com
os de agora, não existe semelhança. A história nos mostra que um garoto naquele
tempo era verdadeiramente uma criança, não tinha o discernimento, o conhecimento e a vivacidade das crianças
atuais, não exercia as funções sociais e nem tinha responsabilidade, portanto,
não era cobrado como hoje.
O
adolescente mudou muito. Hoje tem tanto ou mais conhecimento que um maior de
idade, pratica crimes hediondos, chefia quadrilha de criminosos, tanto na venda
de drogas, quanto em assaltos ou sequestros. Tem mais periculosidade e
inteligência para o crime que muitos criminosos com mais idade.
Se
o menor hoje é considerado capaz para tantos atos da vida civil, destacando-se,
inclusive, para votar e eleger
governadores e presidente da República, por que o absurdo de ser isento da
responsabilidade penal pelos crimes
bárbaros que praticam?
Ora,
se assim fosse, mostrariam fragilidade e não arrogância e prepotência quando
presos. Outro dia, conversando com um amigo, membro do Poder Judiciário que
defende a não redução da menoridade penal, lhe falei: "Se o menor é tão
bonzinho, porque você não o leva para sua casa?”, confesso, não obtive
resposta.
Como
advogado criminalista há mais de 30 anos, diuturnamente presenciamos nas
delegacias a polícia se desdobrar para descobrir o criminoso e, quando
prende, ouve a célebre fase "não me
toque sou ‘di’ menor". Às vezes, infelizmente, o menor criminoso sai da
delegacia antes das testemunhas e da vítima, pois a polícia pouco ou nada pode
fazer.
A
sociedade não pode continuar calada, não pode permitir esse descaso legal,
verdadeiro absurdo. É necessário pressão em cima dos nossos legisladores, em
movimento nacional, semelhante a de um Impeachment, para
que se opere mudanças e a sociedade possa dar um passo à frente, buscando um
pouco de paz.
Se nada fizermos e
continuarmos somente reclamando para nos mesmos, vamos continuar a conviver com
esse estado de coisas, com os crimes violentos praticados, perda de entes
queridos e importantes em nossas vidas, sabendo de antemão que o menor não é
inocente, mas sim delinquente, e o que é pior, será solto sumariamente, dando
risadas de nossa caras. E a polícia, mais uma vez, será desmoralizada e
ridicularizada, com a palavra mágica “sou ‘di’ menor".
Bernardo Campos Carvalho -
advogado criminalista há mais de 30 anos. Especialista em tribunal do juri,
participou de muitos casos emblemáticos, entre eles o caso “Celso Daniel” e
“Champinha”.
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