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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Todas as partes do oceano já sofrem os efeitos da tripla crise planetária, aponta relatório europeu

 No Brasil, águas costeiras aquecem acima da média global, o país lidera emissões de plástico para o oceano nas Américas e ondas de calor marinhas ameaçam pesca e aquicultura

*Ilustração do que a ONU chamou de "tripla crise planetária"
— mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição
— em todo o oceano global. Adaptado de: von Schuckmann et al, 2025.
Copernicus Ocean State Report 9, Capítulo 1.*

Nenhuma região do oceano escapou dos impactos combinados da mudança climática, da perda de biodiversidade e da poluição. A constatação é do nona edição do Copernicus Ocean State Report(Relatório Copernicus sobre o Estado do Oceano, em português), divulgado nesta terça-feira (30) pelo Serviço Marinho Copernicus, da União Europeia. 

Responsável por absorver 90% do calor excedente gerado pelas emissões de gases de efeito estufa, o oceano está se aquecendo em ritmo acelerado. Os impactos são diretos sobre ecossistemas, pesca, cadeias alimentares, culturas costeiras e a própria estabilidade climática do planeta.

O relatório é considerado uma das principais referências globais para a formulação de políticas oceânicas e climáticas. “Estamos perigosamente próximos de ultrapassar os limites planetários: todas as partes do oceano agora são afetadas pela tripla crise planetária”, afirmou Pierre Bahurel, diretor-geral da Mercator Ocean International, responsável pela implementação do serviço.

O levantamento — elaborado por cientistas ligados ao programa europeu de monitoramento da Terra — alerta para o desequilíbrio do sistema climático global e reforça o papel do oceano como indicador e regulador das mudanças em curso.
 

No Brasil, a costa atlântica registra aquecimento acima da média global. O país também lidera o lançamento de plástico no oceano entre as nações das Américas. As ondas de calor marinhas, cada vez mais frequentes, impõem risco crescente à pesca e à aquicultura.

A cientista Karina von Schuckmann, presidente da iniciativa, reforça que a compreensão científica é a chave para orientar decisões públicas. “O oceano está mudando rapidamente. Sabemos o porquê e conhecemos os impactos. Esse conhecimento é um plano de ação para restaurar o equilíbrio entre humanidade e natureza.”

 

Recordes de calor e colapso nos ecossistemas

Desde a década de 1960, o aquecimento oceânico vem ganhando velocidade, indicando que o sistema da Terra está perigosamente desequilibrado devido às mudanças climáticas. Em 2024, a temperatura média da superfície do mar chegou a 21 °C — a mais alta já registrada. Embora variações pareçam pequenas, a elevação térmica tem efeitos devastadores em todo o sistema climático.

Em 2023 e 2024, o oceano passou por ondas de calor que superaram os picos históricos de 2015 e 2016 em 0,25 °C. No Atlântico, houve locais que permaneceram mais de 300 dias sob condição de onda de calor marinha. Os efeitos são visíveis: colapso de estoques pesqueiros, perda de espécies e prejuízos crescentes para comunidades costeiras.
 

No Atlântico Tropical Norte, 2023 registrou a onda de calor marinha mais intensa da história. Ilhas do Caribe enfrentaram mais de 250 dias seguidos de calor extremo. Entre Colômbia e Brasil, foram mais de 180 dias — seis meses — de temperaturas anormalmente elevadas. 

Os efeitos são visíveis: colapso de estoques pesqueiros, perda de espécies e prejuízos crescentes para comunidades costeiras. No Mediterrâneo, a onda de calor de 2023 elevou a temperatura da água em até 4,3 °C acima da média, favorecendo espécies invasoras e dizimando cultivos tradicionais, como as amêijoas no delta do rio Pó, na Itália.



Biodiversidade ameaçada

O relatório mostra que áreas de alta biodiversidade estão acidificando mais rápido que a média global. O fenômeno, somado ao aumento da temperatura e à poluição por plásticos, compromete a sobrevivência de espécies já vulneráveis.

Os recifes de corais são um exemplo da sobreposição de pressões. O estudo destaca que 75% dos países que mais poluem o oceano com plástico — mais de 10 mil toneladas por ano — têm recifes em situação crítica.

A migração de micronekton (pequenos organismos marinhos que sustentam a cadeia alimentar) em direção aos polos evidencia uma transformação silenciosa, mas profunda, dos ecossistemas oceânicos.



Poluição plástica global

Resíduos plásticos oriundos de todos os continentes já atingem todas as bacias oceânicas. No recorte latino-americano, o Brasil aparece como o maior emissor de plástico para o mar. Corais da costa leste da América do Sul e do Caribe estão entre os mais ameaçados.

No Pacífico da América Central e do Sul, zonas altamente produtivas encolheram mais de 25% desde 1998, afetando algumas das pescarias mais ricas do mundo.

 

Degelo polar e aumento do nível do mar

As regiões polares seguem batendo recordes negativos de cobertura de gelo. No Ártico, entre dezembro de 2024 e março de 2025, foram registrados quatro recordes de perda. Em março, havia 1,94 milhão de km² a menos de gelo marinho em relação à média histórica — uma área equivalente a seis vezes a Polônia.

Na Antártida, fevereiro de 2025 marcou o terceiro ano consecutivo de retração da calota, totalizando uma área quase três vezes maior que a da França.

O nível médio do mar já subiu 228 mm desde 1901. A aceleração preocupa autoridades globais: apenas na Europa, 200 milhões de pessoas vivem em áreas costeiras. Sítios históricos tombados pela Unesco também estão sob risco crescente de inundações nos próximos séculos.



Barômetro Estrela-do-mar

No Dia Mundial dos Oceanos de 2025, durante a UNOC3, a comunidade científica se comprometeu a publicar o Barômetro Estrela-do-mar anualmente. A edição de 2025 agora está incluída no Ocean State Report, complementando seus dados científicos abrangentes, e fará parte de todas as edições futuras, fortalecendo ainda mais o papel do OSR como referência confiável para ciência e política oceânica.

 



Sobre o Ocean State Report

O Copernicus Ocean State Report (OSR) é uma publicação anual emblemática do Serviço Marinho Copernicus e é publicado no periódico científico State of the Planet, após um processo independente de revisão por pares. O relatório apresenta descobertas científicas de ponta, apoiadas por poderosos modelos computacionais, observações por satélite e medições in situ. Abrangendo os mares regionais da Europa e o oceano global, atua como uma referência baseada em evidências para a comunidade científica, organismos nacionais e internacionais, tomadores de decisão, partes interessadas da economia azul e o público em geral. Destaca novos métodos e tecnologias para monitorar e prever o oceano, mostrando como as mudanças oceânicas afetam o planeta, as comunidades e as economias. Essa inteligência científica baseada em evidências nos ajuda a compreender e a nos adaptar a um oceano em transformação, orientando políticas para protegê-lo no futuro.
Saiba mais sobre o Ocean State Report e leia edições anteriores, neste link.

 

Sobre o Serviço Marinho Copernicus

O Serviço Marinho Copernicus é um dos seis serviços do Copernicus, o Programa de Observação da Terra da União Europeia. O serviço opera análises e previsões oceânicas e é financiado pela União Europeia. O Serviço Marinho Copernicus fornece informações de referência regulares e sistemáticas sobre o oceano Azul (físico), Branco (gelo marinho) e Verde (biogeoquímico e biológico), tanto em escala global quanto europeia. Seus dados e produtos apoiam políticas-chave da UE e internacionais, contribuindo para esforços em redução da poluição, proteção marinha, segurança e navegação marítima, gestão sustentável de recursos, energia marinha renovável, crescimento azul, monitoramento climático e previsão do tempo. O serviço também busca aumentar a conscientização pública, fornecendo aos cidadãos da Europa e do mundo informações acessíveis sobre questões oceânicas.

 



Sobre a Mercator Ocean International

A Mercator Ocean International é líder global em oceanografia digital e previsão oceânica. Desde 2014, foi encarregada pela Comissão Europeia de operar o Serviço Marinho Copernicus, fornecendo dados e previsões oceânicas gratuitos e confiáveis para o oceano global. Sua equipe de especialistas científicos projeta, desenvolve e mantém sistemas numéricos de modelagem de ponta que oferecem representações oceânicas 4D abrangentes — incluindo reanálises, simulações retrospectivas (hindcasts), análises em tempo quase real e previsões — nos domínios Azul (físico), Branco (gelo marinho) e Verde (geoquímico e biológico).

A Mercator Ocean lidera o desenvolvimento do European Digital Twin Ocean, em parceria com instituições de toda a Europa, para apoiar a tomada de decisões oceânicas por meio da exploração avançada de cenários preditivos. Atualmente em processo de transformação em uma nova organização intergovernamental, a Mercator Ocean vem fortalecendo ainda mais sua colaboração com parceiros europeus e globais para avançar sistemas e serviços digitais oceânicos em prol de um oceano sustentável.

Mais informações sobre o programa Copernicus, aqui

 

Dia do Empreendedor: por que e como ensinar empreendedorismo na escola?

Educação empreendedora estimula criatividade e prepara jovens para os desafios do século XXI
 

O empreendedorismo é considerado um dos motores mais importantes da economia brasileira, impulsionando inovação, gerando empregos e movimentando setores inteiros com a criação de novos negócios. Não por acaso, em 5 de outubro é celebrado o Dia do Empreendedor, data que marca a regulamentação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (2006), um marco para quem decide investir em suas próprias ideias e transformá-las em oportunidades. 

Segundo o Global Entrepreneurship Monitor, elaborado no Brasil pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em parceria com a Anegepe (Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo), o Brasil possui mais de 47 milhões de empreendedores em negócios formais e informais. Além disso, o Sebrae e a Anegepe também apontam que 6 em cada 10 brasileiros têm o sonho de empreender.

Mas, para fomentar o empreendedorismo, ele precisa ser ensinado desde cedo.

Por isso, diretrizes dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas), e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), incentivam que as escolas promovam experiências que estimulem o protagonismo, a autonomia e a capacidade de resolver problemas de forma criativa. Assim, o empreendedorismo deixa de ser apenas uma competência de mercado e passa a ser entendido como um aprendizado essencial para a formação integral do estudante.


Por que as escolas devem investir no ensino do empreendedorismo?

Na opinião do professor da Escola Internacional de Alphaville (Barueri/SP), Rodrigo Araújo Ferreira, o papel da escola é criar um ambiente onde os alunos possam experimentar, errar, inovar e aprender com cada processo. Incentivar essa mentalidade desde cedo significa preparar jovens para lidar com desafios complexos, tomar decisões conscientes e atuar como agentes de transformação.

“O ensino de empreendedorismo deve estar no centro da formação do jovem do século XXI. A escola precisa ir além do conteúdo acadêmico e preparar os estudantes para um mundo em constante transformação. Investir em empreendedorismo é investir em protagonismo, autonomia e visão de futuro”, afirma o docente.


Quais habilidades os jovens podem adquirir com o ensino do empreendedorismo?

De acordo com a diretora pedagógica da Escola Bilíngue Aubrick (São Paulo/SP), Teca Antunes, o aprendizado empreendedor desenvolve competências socioemocionais fundamentais, como liderança, criatividade, comunicação e resiliência. “Ao lidar com projetos práticos, eles aprendem, por exemplo, a trabalhar em equipe e a tomar decisões responsáveis. São habilidades que ajudam o jovem a lidar com incertezas e a encontrar soluções inovadoras para problemas reais. O grande ganho é formar jovens que não apenas sonham, mas que sabem colocar suas ideias em prática de maneira ética, colaborativa e sustentável”, explica.
 

Como a cultura maker pode ajudar?

A cultura maker, fortemente associada à metodologia STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), que estimula o “aprender fazendo”, é um recurso poderoso para aproximar os alunos da prática empreendedora, transformando a sala de aula em um verdadeiro laboratório de criatividade e inovação.

No BIS, a Cultura Maker vai muito além de construir criações com as próprias mãos: é uma forma de aprender a pensar, testar ideias e solucionar desafios de verdade. Nossos alunos vivenciam isso tanto nas atividades pedagógicas propostas no dia a dia quanto em programas como o The Masters, uma olimpíada internacional realizada na Inglaterra com foco em empreendedorismo, inovação e liderança, onde transformam conceitos em projetos concretos.

É incrível ver como essas experiências fortalecem a autoconfiança, despertam a criatividade e preparam cada estudante para enfrentar desafios com uma mentalidade inovadora.” — Alessandra Pellegrino, Diretora Executiva do BIS.


Dicas de como trabalhar o assunto em sala de aula

O empreendedorismo não está distante da realidade escolar: pelo contrário, pode nascer e ser explorado a partir de experiências simples e práticas em sala de aula. Segundo Rodrigo Morais, gestor do colégio Progresso Bilíngue (Unidade Taquaral Campinas/SP), uma das estratégias práticas para abordar o tema é promover feiras e bazares, em que os alunos criam produtos e vivenciam todas as etapas de um negócio, da concepção à venda. Outra possibilidade é incentivar que identifiquem problemas reais da comunidade escolar e proponham soluções criativas, exercitando visão crítica e responsabilidade social.

A simulação de empresas fictícias também é um recurso eficiente para despertar o espírito empreendedor, já que os estudantes assumem diferentes papéis e compreendem a dinâmica de gestão de um negócio. Os jovens podem ainda ser estimulados a apresentar suas ideias de negócio em formato de pitch, desenvolvendo assim a clareza de comunicação e a capacidade de convencimento. “Projetos interdisciplinares, feiras de inovação, resolução de problemas do cotidiano e simulações de negócios são estratégias eficazes para despertar o olhar empreendedor ainda na escola. Com iniciativas como essas, mostramos que empreender é um exercício de criatividade, colaboração e propósito, acessível a qualquer estudante”, finaliza.




Rodrigo Araújo Ferreira - economista, mestre em economia e possui doutorado em administração pela USP. Atua há mais de 15 anos em faculdades de negócios e é professor de economia e administração de negócios na Escola Internacional de Alphaville. É pesquisador na área de empreendedorismo e impacto social e atuou em projetos no Brasil e no exterior.


Teca Antunes - pedagoga, Mestre em Educação Especial e pós graduada nas áreas de Didática para Educação Bilíngue e Alfabetização. Tem experiência em sala de aula e na gestão de escolas bilíngues, além de atuar como formadora de professores em diversas áreas. Na Aubrick, atua na direção pedagógica promovendo o alinhamento de práticas frente ao projeto pedagógico da instituição, acompanhando o desenvolvimento profissional dos colaboradores e buscando construir uma experiência de excelência e relevância para todos os estudantes.


Alessandra Pellegrino - fundadora e Diretora Executiva do Brazilian International School. Desde a sua fundação, em 1999, ela se dedica à comunidade escolar com o mesmo amor e comprometimento. Sua missão profissional é colaborar com o desenvolvimento global de seus alunos, tendo as competências socioemocionais como prioridade. Alessandra é formada em Educação, com oito especializações, e possui pós-graduação em Psicopedagogia e Bilinguismo. Trabalha na área da educação há quase 40 anos. Alessandra também é autora colaboradora do livro “Soft-Skills Kids”.


Rodrigo Morais - gestor escolar, com 28 anos de experiência no setor educacional, com atuação em diversas áreas e instituições de renome. Possui graduação em Química pela USP/RP e MBAs em Gestão Empresarial pela FGV e em Gestão Escolar pela USP. Ao longo da carreira, ocupou posições de liderança, como Diretor Escolar, Coordenador de Curso de EAD e professor universitário em diferentes níveis. Tem experiência consolidada no desenvolvimento e implementação de projetos educacionais inovadores. Atualmente é Diretor Pedagógico no Colégio Progresso, Unidade Taquaral, em Campinas/SP.



Demissões, retorno ao presencial e crise dos modelos híbrido e remoto: o que está acontecendo no mercado de trabalho?


Nos últimos meses, notícias sobre o futuro do trabalho têm chamado atenção: grandes empresas anunciam o retorno integral ao presencial, outras reduzem os dias em home office, e casos de demissões de colaboradores remotos, como o do Itaú, alimentam debates sobre produtividade e engajamento. Ao mesmo tempo, histórias de funcionários que adotam estratégias para “burlar” sistemas de monitoramento ou que dividem seu tempo em múltiplas atividades revelam um ponto central: os modelos que prometiam transformar a forma como trabalhamos estão enfrentando uma crise inesperada. 

Para Tatiana Gonçalves, CEO da Moema Medicina do Trabalho, a explicação não é simples. “Por mais que os modelos híbrido e remoto sejam atrativos, tanto empresas quanto trabalhadores não estavam preparados para uma mudança tão abrupta. O que vemos hoje é a consequência de falta de planejamento, orientação e adaptação. Não existe um único culpado — é uma falha sistêmica de preparo”, afirma.

 

Monitoramento e produtividade: a realidade por trás do home office

Uma das grandes polêmicas envolvendo o trabalho remoto é a forma como a produtividade é avaliada. Algumas empresas utilizam métricas digitais detalhadas: monitoramento da memória e do uso do computador, quantidade de cliques, abertura de abas, inclusão de tarefas em sistemas internos e registro de chamados. Para muitos colaboradores, a amplitude desse acompanhamento é surpreendente. “Nem todos percebem que existem ferramentas capazes de medir cada movimento, mesmo fora do escritório. Isso gera desconforto e desconfiança”, explica Tatiana Gonçalves. 

Esses episódios reacendem um debate antigo: o home office e o trabalho híbrido estão realmente em crise ou é apenas uma fase de ajuste?


Home office e híbrido: o desejo versus a prática

Mas, se é um anseio dos trabalhadores, por que as empresas relutam em adotar esse modelo? Ocorre que a transição para o modelo híbrido enfrenta diversos desafios, tanto do ponto de vista estrutural quanto organizacional. A resistência de muitos empregadores é um dos principais obstáculos. Após a pandemia, quando as empresas foram obrigadas a adotar o home office, muitas começaram a experimentar o trabalho híbrido. Contudo, a implementação efetiva desse modelo exige adaptações significativas nas políticas internas, infraestrutura tecnológica e na organização dos contratos de trabalho. 

Segundo Mourival Boaventura Ribeiro, sócio da Boaventura Ribeiro Advogados Associados, "depois da pandemia, as empresas passaram do trabalho remoto para o híbrido, e agora precisam adaptar-se às novas regras legais". A sanção da Lei nº 14.442/22, que regulamenta o trabalho híbrido e remoto, trouxe mudanças importantes, mas a adaptação a essas novas regras tem sido lenta para muitas empresas, que enfrentam dificuldades em ajustar suas estruturas para garantir a eficiência do modelo híbrido.
 

Infraestrutura e segurança: desafios essenciais

Entre os principais desafios da implementação do trabalho híbrido e home office, destaca-se a questão da infraestrutura. Para garantir esses modelos funcionais, é necessário revisar políticas de trabalho, oferecer tecnologia adequada para a comunicação remota e presencial, e garantir que contratos de trabalho estejam adaptados às novas exigências legais. A segurança da informação também é uma preocupação central, especialmente quando os colaboradores trabalham remotamente e acessam sistemas corporativos de casa. A empresa precisa garantir que as ferramentas e os dispositivos usados pelos colaboradores estejam protegidos contra riscos cibernéticos. 

Carol Lagoa, co-founder da Witec, alerta: "Quando um colaborador trabalha remotamente, a empresa precisa garantir que seu equipamento esteja protegido contra vírus e outros riscos. Caso contrário, o risco de ataques cibernéticos pode comprometer a segurança da companhia."
 

Resistência dos empregadores e reconfiguração da gestão

Muitos líderes de empresas ainda não se sentem confortáveis com a ideia de não estarem fisicamente presentes para supervisionar suas equipes. Além disso, a falta de contato constante pode gerar uma sensação de desconexão, dificultando o engajamento e a colaboração entre os membros da equipe. 

Tatiana Gonçalves, CEO da Moema Medicina do Trabalho, afirma que a escolha de quem vai para o modelo híbrido ou home office de trabalho deve ser feita pelos gestores diretos de cada equipe, avaliando as condições do ambiente de trabalho de cada colaborador. A adoção do trabalho híbrido exige autonomia, responsabilidade e uma compreensão detalhada das condições em que cada colaborador se encontra.
 

A importância de adaptar-se às novas normativas

Além das questões estruturais e culturais, as empresas também precisam adaptar-se a novas normativas legais. A Lei nº 14.442/22, que regulamenta o trabalho híbrido e remoto, trouxe mudanças que flexibilizam o controle de jornada para trabalhadores remotos. No entanto, a implementação dessas mudanças tem sido um processo lento e difícil para muitas empresas, que precisam garantir que seus contratos de trabalho e suas políticas internas estejam em conformidade com as novas exigências. 

Tatiana Gonçalves também destaca a importância de cumprir as Normas Regulamentadoras (NR), especialmente a NR 17, que trata de ergonomia no ambiente de trabalho. "Laudos com a NR 17 e o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) são fundamentais para garantir a segurança dos colaboradores, minimizando os riscos de acidente de trabalho ou doenças ocupacionais", explica.
 

O futuro do trabalho: um equilíbrio entre presencial e híbrido

Apesar dos desafios, o trabalho híbrido e o home office continuam a ser opções promissora para muitas empresas que buscam reter talentos e melhorar a satisfação de seus colaboradores. Contudo, é claro que a adoção exige paciência, adaptação e aprendizado contínuo por parte das organizações. 

O futuro do trabalho está sendo redesenhado, no entanto, o caminho para uma transição efetiva ainda está repleto de desafios. Adaptar-se às novas normas legais, garantir infraestrutura adequada e criar políticas internas que atendam tanto às necessidades da empresa quanto às dos colaboradores são passos essenciais para o sucesso de qualquer modelo de trabalho. 

Em última análise, a flexibilidade e a adaptação serão fundamentais para que as empresas consigam equilibrar o trabalho híbrido, home office ou presencial, garantindo produtividade, segurança e bem-estar para todos.

 


Bebidas adulteradas com metanol: 10 dicas de como identificar e proteger seu estabelecimento


Os casos de intoxicação e mortes ligadas ao consumo de bebidas adulteradas com metanol voltou a impactar o país. Em São Paulo, a Secretaria de Saúde confirmou recentemente nove casos de intoxicação, enquanto operações de fiscalização apreenderam mais de 100 garrafas sem procedência em bares da capital. Estimativas apontam que até 36% do mercado de destilados no Brasil pode conter falsificações, colocando consumidores em risco e ameaçando a reputação de bares, restaurantes, cafeterias e outros negócios de alimentação. 

Para Rafael Fraga, Chef e Supervisor de Gastronomia da Prática, líder brasileira em equipamentos para o mercado de foodservice, a segurança deve ser prioridade máxima. “O gestor precisa entender que segurança alimentar não é detalhe, é pilar do negócio. Uma garrafa adulterada pode comprometer a saúde do cliente e destruir anos de reputação em um dia. Mesmo uma bebida aparentemente sofisticada pode estar adulterada se vier de canais informais e a prevenção é simples: verificar, treinar e ser transparente. Isso protege o consumidor e fortalece a marca”. 

No cenário atual, adotar rigor na escolha de fornecedores, manter a rastreabilidade e comunicar suspeitas às autoridades são medidas indispensáveis. Rafael Fraga sugere 10 dicas para identificar bebidas adulteradas e proteger seu negócio.

  1. Desconfie de preços muito baixos: produtos até 60% mais baratos que o mercado devem acender o alerta.
  2. Compre de fornecedores confiáveis: opte por distribuidores e atacadistas reconhecidos.
  3. Exija nota fiscal: garante rastreabilidade e comprova legalidade da compra.
  4. Cheque embalagem e rótulo: erros de ortografia, lacres violados ou informações ausentes indicam risco.
  5. Verifique o selo fiscal (IPI): obrigatório em destilados, deve estar intacto no gargalo da garrafa.
  6. Analise o líquido: cor, odor e transparência devem ser uniformes; odores químicos ou partículas são suspeitos.
  7. Confira o registro no MAPA: o número deve constar no rótulo e pode ser consultado online.
  8. Treine sua equipe: garçons e bartenders devem checar lacres e nunca servir doses de recipientes sem rótulo.
  9. Armazene corretamente: bebidas refrigeradas em temperatura adequada e vinhos protegidos da luz excessiva.
  10. Seja transparente com o cliente: sirva sempre da garrafa original, à vista, reforçando credibilidade.


Prática - empresa brasileira líder na fabricação de equipamentos para food service.


O preço da vulnerabilidade: por que a saúde não pode ignorar a cibersegurança

 

O quanto custa uma falha de segurança? Para uma empresa do Reino Unido, foram 158 anos de história. Recentemente vi um artigo que noticiava a falência da organização britânica de logística KPN Logistics Group. O motivo foi um ataque de ransomware causado pelo grupo criminoso Akira, e que causou um prejuízo irreparável. Com base nesse exemplo, podemos refletir: a nossa saúde ainda não está preparada para esse tipo de investida, mesmo que muitos achem que estão protegidos.

O caso da KPN foi algo que se tornou comum: um acesso de um dos funcionários que não exigia autenticação de múltiplos fatores e com uma senha fraca acabou sendo a porta de entrada para a infraestrutura da empresa, o que resultou na destruição de backups e sistemas de recuperação.

Mesmo com estrutura de compliance de TI compatível com a indústria e com as leis inglesas, a investida na ponta frágil da organização deixou a situação irreversível, resultando em caminhões parados, dados comerciais inacessíveis e dívidas acumuladas.

A situação no campo da logística nos traz uma visão também para o campo da saúde. Imagine um hospital parado, dados dos pacientes roubados e toda a operação travada. Tudo isso impacta na vida dos pacientes e gera um dano imensurável.

Na situação atual que temos na saúde brasileira, de acordo com a pesquisa TIC Saúde 2024, apenas 22% dos estabelecimentos de saúde do Brasil possuem duplo fator de autenticação e apenas 47% desses estabelecimentos realizaram algum treinamento sobre segurança de informação para os funcionários. Mesmo com a grande maioria apostando em senhas, firewalls e antivírus, ouso dizer que o nosso setor ainda não sabe lidar com a cibersegurança da maneira correta.

Óbvio: toda regra tem a sua exceção, e nesse caso, vemos alguns movimentos de hospitais brasileiros em prol da segurança dos dados e de uma verdadeira mudança cultural, de ponta a ponta.

Mas o que acontece na maioria das vezes é uma falsa sensação de segurança. Não adianta a organização apostar em um sistema que atende a todos os critérios da LGPD, normas nacionais e internacionais de segurança, se não há uma cultura de proteção de dados por parte de todos os membros da empresa. 

É preciso olhar no todo. No software e na cultura da organização, com treinamentos e políticas essenciais para evitar qualquer incursão - ou ao menos retomar a operação. Temos o exemplo da Bidhealth, empresa do Ecossistema MV e que foi criada pensando no diagnóstico de vulnerabilidades, maturidade digital, resposta a incidentes e capacitação de equipes.

É algo que precisa ser visto pelos gestores como seriedade. E visto não como um custo, mas como um investimento. Afinal, pelo que pudemos ver recentemente, uma extensa história pode ser apagada em apenas um movimento errôneo.



Jeferson Sadocci - Diretor Corporativo de Mercado e Cliente da MV

 

Transição de carreira em alta: 4 em cada 10 profissionais cogitam mudar, mas as mulheres ainda enfrentam barreiras invisíveis

A tendência mostra que a transição de carreira está menos associada
 à instabilidade e muito mais ao autoconhecimento
e à busca por qualidade de vida.
 Envato
Enquanto muitos veem a transição como coragem e inovação, as mulheres ainda esbarram em barreiras invisíveis que dificultam esse recomeço


Um estudo recente da McKinsey revelou que quatro em cada dez pessoas cogitam trocar de carreira. O dado chama a atenção para um movimento global: profissionais de diferentes áreas estão reavaliando seus caminhos não apenas por questões financeiras, mas sobretudo em busca de propósito, equilíbrio e bem-estar. 

No entanto, essa tendência revela diferenças marcantes entre homens e mulheres. Enquanto homens tendem a priorizar ascensão salarial e networking mais acessível, as mulheres enfrentam desafios adicionais, como viés de gênero no recrutamento, conciliar responsabilidades familiares com a transição e uma menor representação em cargos de liderança, o que pode prolongar o período de busca por novas oportunidades. A transição de carreira está menos associada à instabilidade e muito mais ao autoconhecimento e à busca por qualidade de vida. 

Luciane Rabello, psicóloga, especialista em Recursos Humanos e CEO da TalentSphere, explica que os RHs precisam se adaptar para acolher talentos em transição, integrando diferentes trajetórias profissionais às equipes, especialmente considerando as barreiras de gênero. “O mercado precisa abandonar a visão de que trocar de carreira é sinal de indecisão. Pelo contrário, trata-se de um processo de amadurecimento e realinhamento de valores. As organizações que souberem valorizar essa diversidade de experiências vão sair na frente”, afirma Luciane. Ela também destaca mitos e verdades comuns sobre o tema para mulheres:

  • Mito: Mulheres mudam de emprego mais por impulsividade emocional.
  • Verdade: Estudos realizados pela Maturi, plataforma voltada para o mercado 50+, mostram que as transições femininas são frequentemente motivadas por uma busca estratégica por equilíbrio entre vida profissional e pessoal, impulsionada por fatores como maternidade e desigualdades salariais.
     
  • Mito: Trocar de carreira é mais arriscado para mulheres devido à falta de suporte.
  • Verdade: Com planejamento, as mulheres podem transformar essa mudança em uma oportunidade de empoderamento, acessando mentorias específicas e redes de apoio que aceleram o progresso.
     
  • Mito: Homens se adaptam melhor a novas áreas por terem mais experiência técnica.
  • Verdade: Mulheres frequentemente trazem habilidades transferíveis únicas, como resiliência e multitarefa, desenvolvidas em contextos de maior escrutínio, o que enriquece equipes diversas.

Para os profissionais que desejam dar esse passo, e especialmente para as mulheres, que podem precisar de estratégias extras para superar esses obstáculos, a especialista recomenda cinco pontos essenciais para conduzir a mudança de forma responsável, tanto do ponto de vista mental quanto financeiro:
 

Autoconhecimento: 

Entender seus valores, motivações e expectativas.

Planejamento financeiro: 

Criar uma reserva que permita enfrentar o período de transição.

Capacitação contínua: 

Investir em cursos e formações que abram portas na nova área.

Networking estratégico: 

Aproximar-se de profissionais que já atuam no setor desejado.

Saúde mental em primeiro lugar: 

Buscar apoio terapêutico ou de mentoria para lidar com inseguranças.
 

O estudo da McKinsey reforça uma tendência já observada após a pandemia: os profissionais não querem apenas um emprego, mas sim um projeto de vida que faça sentido. Nesse cenário, empresas e RHs que criarem espaços de acolhimento e incentivo à transição, com foco em equidade de gênero, terão equipes mais engajadas e alinhadas às transformações do mundo do trabalho.



TalentSphere – Impulsionando Talentos e Negócios para além das fronteiras


Roche Farma Brasil abre inscrições para programa de estágio


A Roche Farma Brasil anuncia a abertura de inscrições para seu programa de estágio, iniciativa estratégica voltada a fortalecer o time de talentos da companhia e ampliar a diversidade de ideias, experiências e perspectivas dentro da organização. 

As inscrições podem ser feitas neste link até 26 de outubro de 2025. 

O programa conta com uma jornada estruturada de desenvolvimento, que inclui trilhas de treinamentos, atividades de integração e iniciativas que proporcionam uma vivência completa do universo Roche. Além disso, cada estagiário será acompanhado por um “buddy”, um colaborador mais experiente que oferece suporte durante a adaptação, reforçando o compromisso da empresa com uma experiência acolhedora, enriquecedora e de aprendizado contínuo. 

As oportunidades estão distribuídas em diferentes áreas:

  • Contabilidade e Finanças
  • Farmácia e Área Médica
  • Administração
  • Legal, Tax & Data Privacy
  • Marketing, Eventos e Comunicação / Omnichannel
  • Engenharia e Dados
  •  

O processo seletivo tem as seguintes etapas:

  • Divulgação das vagas
  • Recepção de candidaturas e triagem inicial (com vídeo assessments)
  • Avaliação do time de recrutamento, dinâmica em grupo e entrevista presencial. 

Os candidatos selecionados para oferta e processo admissional devem ser informados entre 17 e 28 de novembro de 2025.

 

Serviço – Programa de Estágio da Roche Farma Brasil

 Período de inscrição: até 26 de outubro de 2025

Início do estágio: 2 de março de 2026

Inscrições: Link



Estado de São Paulo intensifica vigilância contra praga em Palmeiras

Besouro invasor já afeta mais de 50 países e ameaça culturas produtivas e ornamentais

 

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo alerta os produtores sobre a presença no Brasil do besouro Rhynchophorus ferrugineus, conhecido como bicudo-vermelho-das-palmeiras. Trata-se de uma praga quarentenária de origem africana, que ataca tanto espécies ornamentais quanto produtivas, representando risco significativo para cadeias como as de coco, palmito e dendê.

 

Primeira Detecção no País

A praga foi identificada em janeiro de 2022, no interior paulista, por equipe liderada pelo pesquisador científico Dr.Francisco José Zorzenon, do Instituto Biológico. A análise taxonômica e molecular (DNA) confirmou a espécie, e a ocorrência foi prontamente notificada ao MAPA. O inseto teria ingressado no Brasil pelo Rio Grande do Sul, proveniente do Uruguai, junto a palmeiras que entraram provavelmente de forma clandestina. Desde então, novas amostras têm sido recebidas, inicialmente do RS e mais recentemente até de Minas Gerais, indicando possível expansão territorial.

 

Potencial de Impacto

As fêmeas do bicudo perfuram as palmeiras para oviposição; as larvas alimentam-se da região do palmito, comprometendo o crescimento da planta até sua morte. O histórico em outros países mostra consequências devastadoras. Segundo o Dr. Zorzenon, é imprescindível que o Brasil adote ações coordenadas de monitoramento e controle, sob liderança governamental.
 

Pesquisa Paulista a Serviço do Brasil

O Instituto Biológico atua como referência nacional no monitoramento da praga e no mapeamento de sua dispersão. Essa etapa é considerada fundamental para viabilizar, posteriormente, as estratégias de combate mais eficazes.


Fortalecimento da Vigilância Fitossanitária

Para ampliar a capacidade de resposta, o Instituto Biológico e a Defesa Agropecuária preparam um programa de atualização técnica para engenheiros agrônomos, técnicos e fiscais estaduais. O treinamento abrangerá:

  • Identificação da praga em todos os estágios (ovo, larva, pupa e adulto);
  • Sintomas de infestação em plantas;
  • Protocolos de monitoramento, incluindo uso de armadilhas de feromônio, inspeções visuais e amostragem de campo.

A Defesa Agropecuária já mantém rotinas permanentes de inspeção em viveiros e pontos de comercialização de mudas, com foco na detecção de sinais de infestação e na verificação da documentação fitossanitária obrigatória (PTV, CFO e CFOC). Essas medidas têm como objetivo a prevenção e a detecção precoce da praga, reduzindo riscos de disseminação.

 

Cooperação Federativa 

As ações do Estado de São Paulo estão alinhadas ao MAPA, garantindo resposta rápida e padronizada para organismos quarentenários.Segundo o engenheiro agrônomo Alexandre Paloschi, chefe do Departamento de Defesa Sanitária Vegetal da CDA, essa integração demonstra o compromisso de proteger as cadeias produtivas e assegurar a competitividade da agricultura paulista e brasileira.

 

Como a vida digital molda nossas relações e aprendizados

Cibercultura e sociabilidade levantam debates sobre conectividade, presença social, experiências imersivas e interação com a inteligência artificial

 

A vida contemporânea já não se separa mais do digital. Se antes “entrávamos” na internet, hoje é a rede que sai para colonizar o nosso mundo, atravessando relações pessoais, espaços de convivência, práticas profissionais e até a forma como aprendemos. Essa transformação permanente é o que chamamos de cibercultura, um campo que abre novas possibilidades de sociabilidade, mas também traz dilemas sobre privacidade, pertencimento e até a interação entre humanos e máquinas. 

“Os conceitos de cibercultura e sociedade em rede foram se transformando à medida que a própria tecnologia avançava. Isso nos obriga a repensar não apenas as teorias, mas também as práticas sociais e educacionais”, explica a professora da American Global Tech University (AGTU), Patrícia Bassani, doutora em Informática na Educação. Entre os fenômenos que ganham cada vez mais espaço estão a chamada cultura da conectividade, marcada pela internet dos dados, das coisas e até dos corpos, e os ambientes de interação e colaboração em rede, que hoje funcionam como verdadeiros espaços de aprendizagem e de sociabilidade. 

“Muitas vezes não entendemos por que preferimos um ambiente digital a outro. Isso tem a ver com aspectos ligados à presença social, quanto esses espaços nos acolhem e nos estimulam a participar”, destaca Patrícia. A pesquisadora reitera que a discussão sobre o assunto ultrapassa os muros da academia e se mostra essencial para profissionais de diferentes áreas. “Em um mundo onde redes sociais, plataformas digitais e IA moldam práticas e comportamentos, refletir sobre esses fenômenos significa compreender melhor não só o presente, mas também os caminhos futuros da sociedade”, ressalta.

 

Experiências imersivas 

Realidade virtual, aumentada e metaverso já não são apenas recursos de entretenimento, mas ambientes de encontro e de produção de conhecimento. Patrícia afirma que essas tecnologias criam novos espaços de convivência e aprendizagem, o que amplia o horizonte da sociabilidade digital. “Não há como falar de cibercultura sem discutir inteligência artificial. A interação entre humanos e não humanos, tema cada vez mais presente no cotidiano, traz tanto desafios quanto oportunidades. Não é uma disputa entre nós e as máquinas, mas uma construção conjunta. O ponto central é entender como podemos criar com elas, e não contra elas”, completa a especialista. 

 

Abuso de Poder: a Face Oculta da Admiração – quando o agressor é alguém em quem confiamos

  

Há violências que ferem o corpo e silenciam a alma — e nenhuma é tão corrosiva quanto aquela praticada por quem ocupa lugares de admiração e poder simbólico: professores, mentores, chefes, líderes religiosos. O abuso, sexual ou moral, aproveita-se do crédito social do agressor e da confiança da vítima. O resultado costuma ser um ciclo de silêncio, vergonha e descrença, com impactos psíquicos e profissionais profundos. 

O Brasil construiu um arcabouço legal relevante para enfrentar esse problema. A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) criou mecanismos para prevenir e punir a violência doméstica e familiar, reconhecendo cinco formas de violência: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Ainda que voltada ao contexto doméstico, sua influência cultural é imensa e inspirou redes de proteção e medidas protetivas de urgência que salvaram vidas. 

No plano internacional, a Convenção de Belém do Pará (1994), ratificada pelo Brasil, impôs aos Estados o dever de prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, reforçando o direito de viver livre de violência em todos os espaços — inclusive no trabalho e em ambientes educacionais. É um marco civilizatório que ancora políticas públicas e decisões judiciais. 

O ordenamento também avançou na tipificação de condutas frequentes quando o agressor detém ascendência hierárquica. O assédio sexual é crime desde 2001 (art. 216-A do Código Penal), justamente quando alguém se prevalece da posição de superior para obter vantagem sexual. Em 2018, a Lei 13.718 tipificou a importunação sexual (art. 215-A), respondendo a situações de atos libidinosos sem consentimento, comuns em transportes e ambientes coletivos. Em 2021, a Lei 14.132 criminalizou o stalking (art. 147-A), reconhecendo a perseguição reiterada — digital ou presencial — como violência que restringe a liberdade da vítima. E, também em 2021, a Lei 14.188 incluiu no Código Penal a violência psicológica contra a mulher, além de institucionalizar o programa Sinal Vermelho. Esses instrumentos ampliam a proteção para além da agressão física, alcançando táticas de controle e intimidação muito comuns em relações assimétricas. 

Casos emblemáticos mostram a dinâmica do abuso praticado por figuras reverenciadas. O ex-médico Roger Abdelmassih foi condenado a penas que somam mais de cem anos por estuprar pacientes — mulheres que o buscavam em situação de extrema vulnerabilidade. A gravidade do caso expôs como prestígio profissional pode ser instrumentalizado para calar denúncias por décadas. 

No campo religioso, o médium João de Deus acumulou sucessivas condenações por estupro e violações sexuais cometidas durante atendimentos espirituais. A narrativa pública de “cura” e “fé” funcionou como escudo simbólico que retardou o reconhecimento das violências, até que a avalanche de relatos rompeu o silêncio. 

Globalmente, o caso Harvey Weinstein catalisou o #MeToo e mostrou que o abuso prospera em ambientes em que carreiras dependem do aval de homens poderosos. Mesmo com reviravoltas processuais em Nova York, o ex-produtor carrega condenação de 16 anos em Los Angeles — um lembrete de que a responsabilização é possível, ainda que longa e complexa. 

Os números reforçam a dimensão estrutural do problema. Pesquisas nacionais indicam que mais da metade da população presenciou ou ouviu episódios de violência contra meninas e mulheres no último ano, incluindo assédio e violência psicológica; relatórios anuais apontam crescimento de ameaças, agressões e perseguição (stalking). O trabalho segue sendo um espaço crítico de assédio moral e sexual — justamente onde relações hierárquicas são mais assimétricas.

Historicamente, o país passou de uma cultura de naturalização da violência para o reconhecimento jurídico de suas múltiplas formas — um percurso que vai da condenação internacional do Brasil no caso Maria da Penha, que impulsionou a lei de 2006, à posterior tipificação de condutas antes invisibilizadas, como a importunação sexual, o stalking e a violência psicológica. A mudança não é apenas normativa; é também simbólica, pois desloca o foco da “honra” da vítima para a autonomia e o consentimento como centrais nas relações. 

O que fazer quando o agressor é alguém admirado? Primeiro, acreditar nas vítimas e garantir acolhimento qualificado, com preservação de provas e orientação jurídica. Segundo, responsabilizar instituições — escolas, universidades, empresas, templos — pela criação de canais seguros, independentes e com fluxo claro de apuração, incluindo medidas cautelares para proteger as denunciantes. Terceiro, formar gestores e lideranças sobre poder, consentimento e retaliação, com políticas explícitas contra assédio e violência psicológica. Por fim, informar: a cidadania cresce quando entendemos que abuso não é “mal-entendido”, mas violação de direitos com previsão penal e civil. 

Quando o agressor veste a toga do prestígio, a conta do silêncio recai sobre mulheres que perdem anos de carreira, saúde mental e, às vezes, a própria vida. O direito já dá respostas importantes; cabe às instituições e à sociedade, especialmente aos ambientes de ensino e de trabalho, fazer com que essas respostas cheguem antes do trauma. O respeito não é uma virtude de ocasião — é um dever legal e ético, sobretudo para quem ensina, lidera e guia.



Marcelo Santoro Almeida - professor de Direito de Família da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio


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