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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Hipervitaminose: quando o excesso de vitaminas deixa de proteger e passa a adoecer

Especialistas alertam como o uso indiscriminado de suplementos podem trazer riscos graves à saúde



Nos últimos anos, a suplementação de vitaminas deixou de ser restrita a recomendações médicas e ganhou o status de “moda” no Brasil. Influenciadores digitais, academias e até clínicas estéticas oferecem complexos vitamínicos em cápsulas, injeções e até soros venosos, muitas vezes sem indicação adequada. O tema ganhou repercussão nacional após o Fantástico, da TV Globo, exibir reportagem recente sobre os riscos da chamada hipervitaminose, a intoxicação provocada pelo excesso de vitaminas no organismo. O alerta tem fundamento, já que, dados recentes da Anvisa mostram que, desde o ano passado, foram registradas 240 notificações de problemas relacionados ao uso de suplementos vitamínicos, sendo 28% de efeitos considerados graves. O mercado, por sua vez, não para de crescer: a indústria de suplementos vitamínicos movimenta cerca de R$4 bilhões por ano no Brasil, impulsionada pela busca por saúde, estética e performance.

 

Segundo a endocrinologistada Afya Educação Médica Brasília, Dra. Luciana Corrêa, a maioria das vitaminas necessárias ao corpo pode ser obtida por meio de uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais, cereais integrais, ovos e carnes. A vitamina D, por exemplo, depende ainda da exposição solar regular para ser ativada no organismo. O problema, explica a médica, está na suplementação indiscriminada. “Infelizmente, temos visto a indicação de vitaminas por via intramuscular e venosa, em doses não recomendadas. Isso aumenta muito o risco de intoxicação, especialmente no caso das vitaminas lipossolúveis — A, D, E e K — que ficam armazenadas no corpo”, alerta.


As consequências do excesso variam conforme a vitamina envolvida. A intoxicação por vitamina A pode gerar dores de cabeça, pele seca, queda de cabelo, fadiga e até danos ao fígado. Doses elevadas de vitamina E favorecem hemorragias, sobretudo em pessoas que usam anticoagulantes, enquanto o excesso de vitamina K pode aumentar o risco de trombose. Já a intoxicação por vitamina D é a mais comum, podendo causar cálculos renais, insuficiência renal e, em casos extremos, necessidade de hemodiálise.


O gastroenterologista e professor do Centro Universitário Afya Itaperuna, Raphael Gomes, reforça que a hipervitaminose pode ser aguda, quando ocorre logo após doses muito altas, ou crônica, resultado do uso prolongado de suplementos. “Os sintomas vão desde náuseas, vômitos e dor abdominal até alterações neurológicas, como tontura e irritabilidade, além de manifestações cutâneas, queda de cabelo, dor óssea e alterações visuais”, detalha. Ele explica que o diagnóstico não se limita a uma simples dosagem de vitaminas no sangue. “É preciso cruzar a história clínica, os sintomas e os exames laboratoriais complementares, como cálcio, função renal e enzimas hepáticas. Só assim é possível confirmar o quadro”, acrescenta.


A nutróloga da Afya Educação Médica Goiânia, Marcela Rages, lembra que, embora as vitaminas lipossolúveis ofereçam maior risco de toxicidade por ficarem armazenadas no fígado e no tecido adiposo, até mesmo as hidrossolúveis, como vitamina C e B6, podem causar problemas em doses muito altas. “Muita gente acredita que vitamina não faz mal, mas isso não é verdade. Em excesso, até as hidrossolúveis podem gerar efeitos adversos, como diarreia, cálculos renais e neuropatia”, explica. Segundo a especialista, a única forma segura de saber se há necessidade de suplementação é com avaliação médica e exames. “Uma boa alimentação já é suficiente na maioria dos casos. Mas cada organismo tem particularidades. Suplementar sem necessidade comprovada é um risco totalmente evitável, mas, infelizmente, ainda muito comum”, afirma Marcela.


Os médicos também destacam os grupos mais vulneráveis, como gestantes, idosos e pessoas com doenças renais ou hepáticas. Para eles, o recado é claro: a suplementação só deve ser feita sob acompanhamento profissional e dentro das doses recomendadas. Em casos de toxicidade, a conduta envolve suspender o suplemento, tratar os sintomas e adotar monitoramento periódico para evitar recorrências.


Como resume a Dra. Luciana Corrêa, a vitamina D,  uma das mais suplementadas,  ilustra bem o dilema. Ela é fundamental para a saúde óssea, muscular e imunológica, mas seu excesso pode ser extremamente perigoso.“Com exposição solar regular de 10 a 30 minutos, algumas vezes por semana, já conseguimos manter níveis adequados na maioria das pessoas. Quando não for suficiente, a suplementação oral e em doses adequadas é a opção mais segura. Aplicações intramusculares devem ser evitadas”, orienta.


Em um cenário em que o mercado de suplementos cresce de forma acelerada e movimenta bilhões todos os anos, a hipervitaminose surge como um alerta: vitaminas são essenciais, mas não são inofensivas. O uso consciente, aliado à orientação médica, é o único caminho para que elas cumpram seu papel de fortalecer o organismo sem colocar a saúde em risco.


 

Afya
http://www.afya.com.br
ir.afya.com.br.

 

9 DE SETEMBRO – DIA MUNDIAL DE PREVENÇÃO DA SÍNDROME ALCOÓLICA FETAL


“No trânsito, álcool traz risco.


Na gravidez, também. Proteja seu bebê”


Álcool e direção causaram mais de 12 mil vítimas de acidentes de trânsito somente em 2023, no Brasil. Já as consequências do álcool na gravidez, menos conhecidas, impactam diretamente o desenvolvimento do feto, trazendo consequências graves para a criança

 

Álcool e direção não combinam e estão relacionadas à redução da precisão visual do motorista, do campo de visão periférica e da concentração. Somente em 2023, foram mais de 12 mil vítimas em todo o país. Já a combinação entre o álcool e a gravidez está relacionada a diversos transtornos do espectro alcoólico fetal e ainda é desconhecida para muitas pessoas.

 

Por este motivo, no dia 9 de setembro, foi instituído o Dia Mundial de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal. A data é lembrada por instituições ao redor do mundo, assim como o Instituto Olinto Marques de Paulo (OMP), entidades médicas e organizações da sociedade civil no Brasil, que reforçam campanhas de conscientização sobre a SAF, ou Síndrome Alcoólica Fetal.

 

A SAF é uma doença pouco conhecida e de difícil diagnóstico, caracterizada por uma série de manifestações físicas, comportamentais, emocionais, sociais e de aprendizagem, diagnosticadas na criança. Trata-se do quadro mais grave e completo dos chamados Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF). Este espectro abrange todas as manifestações físicas, inclusive malformações de diversos órgãos, cognitivas, comportamentais e de desenvolvimento, de leves a severas, que os indivíduos podem apresentar se expostos ao álcool na vida intrauterina.

 

No Brasil, não há dados oficiais, mas estudo realizado na periferia de São Paulo aponta que 38 a cada 1.000 nascidos sofriam de algum transtorno relacionado ao uso de álcool pela mãe. Este número pode ser ainda maior, visto que estimativas indicam que sequer 1% das crianças afetadas são diagnosticadas. 

 

“A única causa da SAF é o consumo de álcool na gravidez. Hoje, sabemos que mais de 450 mil gestantes no Brasil mantêm esse hábito, expondo seus bebês a riscos graves e permanentes, muitas vezes por desconhecimento dos impactos causados. O consumo de álcool na gravidez não é seguro em nenhuma quantidade. A abstinência é o único caminho para prevenir todos os transtornos do espectro alcoólico fetal e proteger a vida e o futuro de milhares de crianças, alerta Sara Assis, gestora da campanha.

 

O nono dia do nono mês

 

O primeiro Dia Mundial de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) ocorreu em 9 de setembro de 1999, pelo empenho do casal canadense Bonnie Buxton e Brian Philcox, que haviam adotado uma criança com a síndrome.

 

A escolha da data, que marca o nono dia do nono mês de cada ano foi escolhido de forma intencional pelo casal, em alusão aos 9 meses de gravidez. É uma forma a mais de lembrar as mulheres sobre a importância de não consumirem álcool durante os nove meses da gestação.

 

Vale lembrar que o álcool pode estar presente em outras apresentações além das bebidas alcoólicas, como por exemplo os sacolés alcoólicos, chás Kombucha, bombons recheados de licores e outras bebidas e até mesmo em algumas cervejas rotuladas como “zero álcool”. Por isso, a divulgação dos riscos da SAF e de todas as variações do TEAF não é fácil e exige a participação de profissionais de várias áreas da saúde para que mais mulheres sejam informadas a tempo.

 

Os riscos da SAF

 

Beber durante a gestação pode elevar o risco de alterações no feto em até 65 vezes e não se estabeleceu até hoje limites seguros para o consumo de bebidas alcoólicas ao longo de toda a gravidez, explica a médica ginecologista e obstetra Dra. Rosiane Mattar, Diretora Científica da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP).

 

“A SAF pode acarretar vários tipos de malformações congênitas e não há nível seguro para o consumo de bebidas alcoólicas na gestação. Por isso, a recomendação é evitar qualquer tipo e quantidade de bebida alcóolica”, alerta.

 

A exposição do feto ao álcool ingerido pela mãe ao longo da gravidez, explica a Dra. Rosiane, pode trazer malformações faciais, neurológicas, cardíacas e renais, acarretando problemas físicos, como deformidades na face, dedos e juntas, restrição de desenvolvimento em crânio e cérebro, crescimento lento, problemas de visão e audição, malformações em rins, coração e ossos.

 

“O diagnóstico precoce da doença e a instituição de tratamento ainda na primeira infância pode abrandar as manifestações da SAF, mas não há como reverter os efeitos da ingestão materna de bebidas alcoólicas durante a gestação, pois a SAF não tem cura. Uma vez diagnosticados, alguns destes problemas são irreversíveis”, explica. 

 

Prevenção

 

A abstinência é a única forma de prevenção da SAF. Por este motivo, desde 2023, o Instituto OMP realiza a campanha de conscientização sobre a doença, atuando em prol da saúde de crianças desde o ventre materno.

“Em pouco mais de um ano, mais de 3 milhões de pessoas foram alcançadas com a campanha, que reproduziu vídeos informativos mais de 500 mil vezes”, revela Sara.

 

Este ano, a campanha continua e será reforçada até as festas de final de ano. Para saber mais sobre a campanha e a SAF, acesse as redes sociais do Instituto OMP e das entidades parceiras. 


A campanha conta com o apoio de diversas entidades médicas, instituições da sociedade civil e organizações não governamentais. Para saber mais, acesse https://www.instituto-omp.org.br/gravidezsemalcool.

 

Suicídio em Adultos Autistas: Um Alerta Urgente e Necessário

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos, frequentemente subdiagnosticado e incompreendido, carrega um risco alarmante e pouco discutido: o de suicídio.

 

Segundo o Dr. Matheus Trilico, neurologista referência em TEA e TDAH em adultos, embora dados brasileiros específicos sejam escassos, a recorrência do tema em sua prática clínica reflete uma preocupante tendência global. Esta realidade ressalta a necessidade premente de uma compreensão mais aprofundada das complexidades enfrentadas por indivíduos autistas na vida adulta, um grupo historicamente negligenciado tanto na pesquisa quanto na provisão de serviços de saúde.

 

A Realidade dos Números: Uma Crise Silenciosa 

Os dados mais recentes do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) revelam que adultos autistas apresentam taxas de suicídio até três vezes maiores que a população neurotípica. 

Essa estatística é corroborada pelo Global Burden of Disease Study de 2019, que já apontava o suicídio como uma das principais causas de morte prematura em pessoas com TEA. É crucial notar que esses números podem ser ainda maiores, dada a subnotificação e a dificuldade em classificar mortes por suicídio em indivíduos autistas, muitas vezes atribuídas a outras causas. 

"Esses dados representam muito mais que estatísticas, são vidas que poderiam ter sido preservadas com intervenção adequada e oportuna", alerta o Dr. Trilico, sublinhando a urgência de reconhecer essa disparidade como uma emergência de saúde pública que exige atenção imediata e estratégias de prevenção robustas.

 

Fatores de Risco: Por Que a Vulnerabilidade Aumenta? 

A maior vulnerabilidade de adultos autistas ao suicídio é multifatorial, envolvendo aspectos neurobiológicos, psicológicos e sociais que interagem de forma complexa e muitas vezes exaustiva. 

  1. Alexitimia: Presente em até 85% dos autistas, a dificuldade em identificar e expressar emoções (alexitimia) não significa ausência de sentimentos, mas sim uma barreira na sua percepção e comunicação. Isso impede o reconhecimento precoce do próprio sofrimento e a comunicação eficaz de angústia a outros, atrasando a busca por ajuda e levando a sentimentos de sobrecarga e incompreensão. O indivíduo pode sentir uma angústia intensa, mas não conseguir nomeá-la ou expressá-la de forma que seja compreendida pelos outros.
  1. Comorbidades Psiquiátricas: Cerca de 70% dos adultos autistas têm pelo menos uma comorbidade, como depressão, ansiedade, TOC e TDAH. Essas condições, muitas vezes atípicas em autistas (por exemplo, depressão manifestada como irritabilidade ou shutdown em vez de tristeza clássica; ansiedade exacerbada por sobrecarga sensorial), amplificam o risco suicida. O diagnóstico e tratamento dessas comorbidades são frequentemente desafiadores devido à apresentação atípica e à falta de profissionais familiarizados com o perfil autista. 
  1. Desafios Sensoriais e de Função Executiva: A hipersensibilidade ou hipossensibilidade sensorial (a sons, luzes, texturas) e as dificuldades em planejamento, organização e flexibilidade (função executiva) geram estresse crônico e uma sensação constante de sobrecarga. Isso pode levar a frustração, isolamento social (para evitar gatilhos sensoriais), e desesperança, contribuindo significativamente para pensamentos suicidas. A dificuldade em iniciar tarefas ou gerenciar o dia a dia pode criar um ciclo vicioso de falha e autocrítica. 
  1. Isolamento Social e Falta de Pertença: Muitos autistas enfrentam dificuldades em formar e manter conexões sociais significativas devido a diferenças na comunicação e interação, histórico de bullying ou rejeição. A solidão crônica e a sensação de não pertencer são fatores de risco universais para o suicídio, e são exacerbados na população autista. 
  1. Experiências de Trauma e Vitimização: Indivíduos autistas são desproporcionalmente mais propensos a serem vítimas de bullying, abuso e outras formas de trauma. Essas experiências podem levar a transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), baixa autoestima e uma visão negativa do mundo, aumentando a vulnerabilidade ao suicídio. 
  1. Impacto do Diagnóstico Tardio: Viver anos sem um diagnóstico pode levar a sentimentos de "ser quebrado" ou "errado", resultando em anos de autocrítica, tentativas frustradas de se encaixar e sofrimento silencioso, culminando em esgotamento e desesperança.

 

O Impacto do Masking e do Burnout Autista 

Um dos maiores contribuintes para o sofrimento autista é o "masking" (camuflagem social), onde o indivíduo suprime suas características autistas para se adaptar às expectativas sociais neurotípicas. 

"É como manter uma performance teatral constante e exaustiva, onde a pessoa autista tenta imitar comportamentos neurotípicos, suprimir stimming ou forçar contato visual, mesmo que isso cause grande desconforto", explica o Dr. Trilico. 

O custo psicológico do masking é imenso, levando à exaustão, confusão de identidade, e uma sensação de inautenticidade. 

Esse esforço contínuo e a sobrecarga sensorial e social levam ao "burnout autista", um estado de exaustão física, mental e emocional profunda, distinto de uma depressão clínica, mas que pode desencadeá-la ou agravá-la. O burnout autista se manifesta como: 

  • Perda de habilidades funcionais: Dificuldade em realizar tarefas diárias básicas, como higiene pessoal, alimentação, ou manter o emprego/estudos.
  • Intensificação de stimming ou meltdowns: Aumento de comportamentos repetitivos (autoestimulação) como forma de coping, ou episódios de desregulação emocional intensa (meltdowns) ou desligamento (shutdowns).
  • Aumento da sensibilidade sensorial: O ambiente se torna ainda mais intolerável, com sons, luzes ou texturas que antes eram manejáveis, agora causando dor ou sobrecarga extrema.
  • Isolamento extremo: Retirada completa de interações sociais, mesmo com pessoas próximas, e dificuldade em sair de casa. 

O burnout autista, se não tratado, pode precipitar crises de saúde mental severas e aumentar drasticamente o risco suicida, pois a pessoa se sente completamente esgotada e sem recursos para continuar.

 

Sinais de Alerta: O Que Observar? 

O reconhecimento precoce exige um olhar especializado, pois os sinais podem ser atípicos e não se manifestar da mesma forma que em indivíduos neurotípicos.

 

Comportamentais:        

    • Isolamento social extremo: Retirada de atividades ou pessoas que antes eram importantes, mesmo que em pequena escala.
    • Mudanças drásticas em interesses especiais: Perda de interesse em paixões que antes eram fontes de alegria e rotina, o que é um sinal de alerta significativo para autistas.
    • Regressão funcional: Perda de habilidades diárias anteriormente dominadas, como dificuldade em se vestir, cozinhar ou ir ao trabalho/escola.
    • Aumento de comportamentos repetitivos ou autolesivos: Intensificação de stimming como forma de coping desadaptativo, ou o início/aumento de autolesões como forma de lidar com a dor emocional.

 

Emocionais/Cognitivos:       

    • Expressões indiretas de desesperança: Frases como "não vejo sentido em continuar", "eu sou um fardo", "as coisas nunca vão melhorar", ou a expressão de um desejo passivo de não acordar.
    • Somatização: Queixas de dores físicas inexplicáveis (dores de cabeça, estômago) que são manifestações de angústia emocional não verbalizada.
    • Aumento de meltdowns ou shutdowns: Episódios mais frequentes ou intensos de desregulação emocional (explosões de raiva, choro incontrolável) ou de "desligamento" (perda de fala, imobilidade, retirada total).
    • Pensamentos rígidos e catastróficos: Dificuldade em ver alternativas ou soluções para problemas, com uma tendência a pensar em termos de "tudo ou nada" e a prever os piores cenários.

"Não esperem por uma verbalização explícita de 'quero morrer’. Se há suspeita de risco, a avaliação profissional deve ser buscada imediatamente. É sempre melhor errar pelo excesso de cuidado quando vidas estão em risco". A observação de uma mudança significativa no comportamento habitual do indivíduo autista é um forte indicador de que algo não está bem”,  adverte o Dr. Trilico.

 

A Importância da Ajuda Especializada e Neurodiversa 

A intervenção precoce salva vidas. É crucial buscar profissionais com experiência em autismo adulto, que adotem uma perspectiva neurodiversa. Isso significa que o profissional compreende que as características autistas não são "sintomas" a serem curados, mas sim diferenças neurológicas que exigem acomodação e validação. Situações que exigem ajuda imediata incluem expressões de ideação suicida (direta ou indireta), planos de autolesão, comportamentos de despedida (como doação de bens ou isolamento extremo) ou mudanças súbitas e drásticas no comportamento que indiquem um nível severo de sofrimento. 

A prevenção eficaz do suicídio em autistas requer uma abordagem multifacetada, que abranja o indivíduo, sua família e o ambiente social. "Não se trata de 'curar' o autismo, mas de desenvolver ferramentas que permitam ao indivíduo autista navegar o mundo de forma mais confortável, autêntica e segura", afirma o Dr. Trilico.

 

Conclusão: Um Chamado à Ação 

De acordo com o neurologista, a alta taxa de suicídio em adultos autistas não é inevitável. É um problema de saúde pública que pode e deve ser abordado com estratégias baseadas em evidências, empatia e uma profunda compreensão da neurodiversidade. A sociedade, os profissionais de saúde, as famílias e os próprios indivíduos autistas têm um papel a desempenhar na criação de um ambiente mais seguro e acolhedor. 

O Dr. Trilico conclui: "Cada vida perdida por suicídio representa uma falha coletiva em compreender e apoiar adequadamente a experiência autista adulta. Temos o conhecimento e as ferramentas necessárias para mudar essa realidade e o que precisamos agora é da vontade de agir de forma colaborativa, reduzindo o estigma e aumentando o acesso a cuidados especializados", finaliza o neurologista. 

O momento de agir é agora. Busquem ajuda especializada, mantenham-se informados e lembrem-se de que, com o suporte adequado e uma abordagem neurodiversa, a vida autista pode ser plena, significativa e segura.

 

Mais artigos sobre TEA e TDAH em adultos podem ser vistos no portal do neurologista: https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/


Ancestralidade e variantes genéticas influenciam risco de câncer colorretal

Cerca de 5% a 10% dos casos têm origem hereditária clara.
Já os demais 90% são considerados esporádicos, relacionados
majoritariamente a fatores ambientais e ao estilo de vida
(
imagem: Brgfx/Freepik)
Doença ocupa a 3ª posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil, desconsiderando os tumores de pele não melanoma. De 5% a 10% dos casos têm origem hereditária

 

 

Um dos maiores estudos brasileiros sobre câncer colorretal trouxe descobertas sobre como variações genéticas e a ancestralidade genética podem influenciar o risco de desenvolver a doença. Conduzido por pesquisadores do Hospital de Amor (antigo Hospital de Câncer de Barretos) e outras instituições – e financiado pela FAPESP –, o trabalho, publicado na revista Global Oncology, contribui para a compreensão da realidade genética complexa de uma população altamente miscigenada como a brasileira.

Cada vez mais comum entre adultos jovens, o câncer colorretal deve atingir cerca de 46 mil brasileiros entre 2023 e 2025, de acordo com as estimativas mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Desconsiderando os tumores de pele não melanoma, a doença ocupa a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes no país, motivo pelo qual os pesquisadores têm concentrado esforços em entender melhor os fatores que modulam sua ocorrência.

Cerca de 5% a 10% dos casos têm origem hereditária clara, causados por mutações germinativas herdadas dos pais. Já os demais 90% são considerados esporádicos, relacionados majoritariamente a fatores ambientais e ao estilo de vida, embora a constituição genética também exerça influência. A partir disso, os pesquisadores buscaram responder se, entre esses casos não hereditários, a genética individual exerce um papel como fator de risco ou de proteção no desenvolvimento da doença.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram 45 polimorfismos (ou variantes genéticas, os chamados SNPs) relatados na literatura científica como os mais importantes e associados ao desenvolvimento do câncer colorretal. Eles buscaram compreender se essas mesmas variantes do genoma também estariam associadas ao risco de câncer colorretal no Brasil. “As variantes foram anteriormente identificadas em estudos com populações europeias e asiáticas. Nós fomos estudá-las especificamente em nossa população”, diz Rui Manuel Reis, diretor científico do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital de Amor e autor do estudo.

O trabalho envolveu 990 pacientes com câncer colorretal e 1.027 pessoas sem histórico da doença. Além de genotipar as 45 variantes genéticas em amostras de sangue dos participantes, a equipe também avaliou a ancestralidade genética dos participantes, utilizando um painel de 46 marcadores informativos capazes de identificar com precisão a proporção ancestral de componentes europeus, africanos, asiáticos e indígenas em cada pessoa.

“O IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] pergunta a cor da pele, mas esse é um critério muito subjetivo. Nós usamos marcadores muito mais objetivos e precisos para identificar a proporção de ancestralidade étnica de cada pessoa participante do estudo”, explica Reis.


Variantes que se destacam

Das 45 variantes analisadas, nove apresentaram associação significativa com o risco da doença e quatro se destacaram por manterem sua relevância mesmo após análises multivariadas ajustadas por fatores clínicos e epidemiológicos. Duas variantes foram associadas ao aumento do risco de câncer colorretal, enquanto outras duas foram associadas ao risco diminuído, ou seja, mostraram efeito protetor.

Essas variantes estão localizadas em regiões do genoma ligadas à regulação de processos inflamatórios e crescimento celular. “Nosso estudo demonstrou que esses quatro marcadores, por si só, são independentes de todas as outras variáveis estudadas e sozinhos contribuem para o risco ou proteção da doença”, afirma Reis. “É importante destacar que essas não são mutações genéticas somáticas [que acometem somente o tumor], mas sim variações genéticas normais, que contribuem com as nossas características e nos tornam únicos, como a cor da pele. Nascemos com elas”, diz.

Papel da ancestralidade

Outro achado inovador do trabalho foi identificar o papel da ancestralidade genética no risco de desenvolver a doença. Os pesquisadores descobriram que indivíduos com menores proporções de ancestralidade africana e asiática tinham maior risco de desenvolver câncer colorretal. Esse dado reforça a hipótese de que certos componentes genéticos herdados dessas populações possam exercer um efeito protetor.

“Observamos que a população com maior ascendência genética asiática ou africana tinha um risco menor de câncer colorretal. Isso é algo que já se observa em estudos internacionais, e nossa análise confirmou que esse padrão também se repete na população brasileira”, destaca Reis.

A associação, diz o pesquisador, pode ter múltiplas explicações e uma delas é que o fator genético pode estar entrelaçado com determinantes socioeconômicos e culturais. “É possível que pessoas com ancestralidade asiática, por exemplo, tenham hábitos alimentares diferentes – com mais legumes, mais peixe, menos carne vermelha – e isso é um fator protetor”, diz. “O que estamos vendo pode ser um reflexo não apenas da genética, mas de um conjunto de fatores”, avalia.

Segundo o pesquisador, o grande diferencial do trabalho está no tamanho da amostra – uma das maiores já usadas em um estudo desse tipo no Brasil – e na representatividade da população analisada. “A maior parte dos estudos anteriores foi feita com grupos pequenos, com poder estatístico limitado. Nós trabalhamos com quase 2 mil pessoas de todas as regiões do Brasil, o que garante uma diversidade étnica maior”, destaca.


Personalização no futuro

Outro ponto fundamental destacado por Reis é o potencial de uso dos achados na medicina personalizada. Embora as variantes genéticas identificadas não possam ser modificadas – afinal elas são herdadas dos nossos pais –, o conhecimento sobre elas pode, no futuro, ajudar a personalizar estratégias de rastreamento e prevenção.

“O risco genético não é tudo. A obesidade, por exemplo, pode aumentar o risco de câncer colorretal em até duas vezes. Mas se uma pessoa tem uma dessas variantes associadas ao risco, somada ao estilo de vida inadequado, o risco total aumenta”, alerta. “Nosso objetivo futuro é combinar esses dados genéticos com fatores ambientais para criar uma estratégia de rastreamento mais eficaz e personalizada. Talvez a pessoa que tenha essas variantes deva ter prioridade nos programas de rastreamento e deva ficar mais atenta aos fatores de risco modificáveis.”

Atualmente, a equipe já trabalha em uma nova fase do estudo: enquanto nesse trabalho foram analisadas as 45 variantes previamente conhecidas da literatura científica internacional, o próximo passo do grupo é realizar um mapeamento de até 3 milhões de variações genéticas em brasileiros. “Queremos fazer um escore de risco específico para nossa população, que leve em conta nossas características únicas. Isso pode representar um avanço significativo no combate à doença no Brasil”, afirma.

Ao reunir dados inéditos e representativos da diversidade genética brasileira, o estudo reforça a importância de se ter no Brasil respostas mais adequadas à realidade local. “Muitos trabalhos são feitos em populações norte-americanas ou europeias, com baixa diversidade genética. O nosso estudo traz uma nova perspectiva. Mostra que a genética da nossa população pode nos ajudar a entender melhor as doenças que nos afetam”, afirma o pesquisador.

O artigo Association of genetic ancestry and colorectal cancer risk in a large Brazilian cohort: replication of single-nucleotide polymorphisms identified by genome-wide association studies pode ser lido em: https://ascopubs.org/doi/10.1200/GO-24-00512.

 


Fernanda Bassette

Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/ancestralidade-e-variantes-geneticas-influenciam-risco-de-cancer-colorretal/55714

 

Conheça as rotas que contam a história da Independência do Brasi

 

FuMTran 
 Divulgação


Fundação Memória do Transporte resgata os caminhos logísticos que moldaram a economia e ajudaram a definir o rumo político do país 

 

O processo de independência do Brasil não foi marcado apenas por batalhas e decisões políticas, mas também pelas rotas que garantiram a circulação de riquezas, pessoas e ideias pelo território. Em comemoração ao mês da Independência do Brasil, a Fundação Memória do Transporte (FuMTran) destaca caminhos estratégicos que tiveram papel decisivo na formação do país, ligando economia, sociedade e mobilidade em um período fundamental da história brasileira. 

Antonio Luiz Leite, presidente da FuMTran, destaca que as rotas não transportavam apenas mercadorias, mas também ideias, pessoas e estratégias que contribuíram para moldar o Brasil. “A independência não pode ser entendida apenas pelo ato simbólico de Dom Pedro I às margens do Ipiranga. Ela foi sustentada por uma rede de caminhos que permitiu a integração entre regiões, o escoamento das principais riquezas e a consolidação do poder político e econômico. O transporte foi um dos protagonistas desse processo”. 

A Rota Rio-São Paulo tem relação direta com Dom Pedro. Foi por esse caminho que ele se deslocou do Rio de Janeiro até São Paulo antes do ato simbólico da Independência às margens do rio Ipiranga, em 7 de Setembro de 1822. O caminho era a principal ligação entre a capital do Império e o interior paulista, permitindo o transporte rápido de pessoas, mensagens e tropas. “Dom Pedro I precisou transitar por regiões estratégicas para garantir apoio de líderes locais, coordenar forças e comunicar suas decisões, mostrando que a independência não foi apenas um gesto isolado, mas resultado de uma logística cuidadosa que envolvia essa rota”, diz Antonio. 

Durante o auge do Ciclo do Ouro, entre os séculos XVII e XVIII, a Rota do Ouro ligava as minas de Minas Gerais e Centro Oeste ao litoral, permitindo o escoamento da principal riqueza do Período Colonial. Grandes quantidades de ouro e diamante eram movimentadas pelo trajeto, que possibilitava a circulação de pessoas, ideias e produtos essenciais para a manutenção da Colônia. “Sem essa rota, seria impossível sustentar economicamente o Brasil e consolidar sua presença no cenário internacional da época”, reforça o presidente. 

Entre os séculos XVIII e XIX, o Caminho das Tropas desempenhou papel fundamental no transporte de gado, alimentos e mercadorias do Sul até o Sudeste, abastecendo cidades e regiões em desenvolvimento. “O Caminho das Tropas sustentava a economia e o crescimento populacional, além de garantir que diferentes regiões do território estivessem conectadas. Era fundamental na integração política e social do país durante o Período Colonial tardio e o Império”, afirma. 

Também no Período Colonial, a Rota do Açúcar foi central na economia do Brasil, com forte atuação no Nordeste, onde se concentravam os principais engenhos e áreas produtoras de cana-de-açúcar, especialmente em Pernambuco e Bahia. A rota ligava essas regiões aos portos de exportação, como Recife, Salvador e Rio de Janeiro, garantindo a circulação de mercadorias essenciais para o comércio com Portugal e outros mercados internacionais. 

“Além de gerar riqueza, a rota financiava parte da estrutura administrativa que ajudou a organizar a Colônia, contribuindo de forma indireta para os movimentos políticos que culminariam na Independência. Sua relevância estava tanto no aspecto econômico quanto cultural, representando um período de intensa circulação e troca de conhecimentos, especialmente entre o Nordeste e o litoral”, complementa o executivo. 

Desenvolvida durante o Ciclo do Café, quando a cafeicultura se firmou como a principal atividade econômica do Brasil nos séculos XIX e início do XX, a Rota do Café foi decisiva para consolidar a riqueza do interior paulista e impulsionar a economia nacional após a Independência. O trajeto facilitava o transporte do café até o porto de Santos, garantindo a inserção do Brasil no comércio internacional e fortalecendo politicamente o país. “O café, mais do que um produto, tornou-se símbolo da expansão econômica e da modernização das rotas de transporte nacionais”, completa o presidente. 

“Resgatar a importância dessas rotas nos permite ver como o transporte foi decisivo para a formação do Brasil, ligando regiões, pessoas e culturas. Ao permitir o fluxo de mercadorias, riquezas e recursos, as rotas contribuíram diretamente para a independência do nosso país”, conclui.

 

 FuMTran – Fundação Memória do Transporte

 

Tradicional desfile de 7 de Setembro ocorre neste domingo, no Sambódromo do Anhembi

O evento, aberto ao público, comemora os 203 anos de independência do Brasil

 

No dia 7 de Setembro, o Brasil chega ao marco de 203 anos de independência, e para comemorar a Prefeitura de São Paulo, em parceria com a São Paulo Turismo e apoio do Governo do Estado, Marinha do Brasil, Exército Brasileiro, Força Aérea Brasileira, forças de segurança estadual e municipal e entidades civis, realizará o tradicional desfile Cívico-Militar, no Sambódromo do Anhembi. 

A apresentação contará com desfiles a pé, motorizado e a cavalo e será antecedido pela revista às tropas, com presença de autoridades na Avenida Olavo Fontoura. 

O público terá a oportunidade de prestigiar a apresentação de escolas estaduais e municipais, entidades civis, associações de veteranos e escolas militares. A segunda parte é com a parada militar, formada por integrantes da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro, da Força Aérea Brasileira e órgãos como Polícia Militar do Estado de São Paulo, Polícia Civil e Guarda Civil Metropolitana, entre outros. O festejo é gratuito. 

Neste ano, o desfile contará com cerca de 151 viaturas, 150 motocicletas e um grupamento hipomóvel com 100 cavalos. Haverá a participação de aproximadamente 2.545 pessoas de escolas da rede pública e associações civis, além de outros quase 2.800 membros da tropa militar, somando em torno de 5.800 participantes.

Os portões serão abertos ao público a partir das 8 da manhã e o desfile terá início às 9h.


Trânsito

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) fará uma operação especial para trânsito e acesso à região do entorno do Sambódromo do Anhembi. Não será permitido o estacionamento de veículos nas vias próximas ao Sambódromo e o acesso será autorizado somente para veículos credenciados/ adesivados.
 

Transporte público: É recomendável usar transporte público. A São Paulo Transportes (SPTrans) e o serviço Atende+ oferecem transporte para o local.
 

Estacionamento: Há um estacionamento disponível na área, com acesso pago.
 

Acessos e abertura dos portões

O público poderá entrar no Sambódromo a partir das 7h pelos portões 13, 14 e 16 do lado da Marginal Tietê, além do 21 e 28 na Avenida Olavo Fontoura. A capacidade das arquibancadas do Sambódromo é de 30 mil pessoas e, ao atingir esse limite, os portões de entrada serão fechados.

O portão de acesso para escolas e associações que participarão do desfile será o de número 12. O acesso de autoridades de convidados do palanque será nos portões 25 e 29, e profissionais da imprensa pelo portão 24.
 

Transporte

A linha 179A-10 Metrô Tietê – Anhembi operará em sistema circular para facilitar o acesso do público ao Evento da Independência do Brasil – Desfile de 7 de setembro. Lembrando que domingo é dia de tarifa zero.
 

Serviço Desfile Cívico-Militar

Data: 7 de setembro

Horário (sujeito a mudanças): Das 9h às 12h (entrada até às 8h30)

Endereço: Sambódromo do Anhembi, Av. Olavo Fontoura, 1209 – Santana



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