Especialistas alertam como o uso indiscriminado de suplementos podem trazer riscos graves à saúde
Nos últimos anos, a suplementação de
vitaminas deixou de ser restrita a recomendações médicas e ganhou o status de
“moda” no Brasil. Influenciadores digitais, academias e até clínicas estéticas
oferecem complexos vitamínicos em cápsulas, injeções e até soros venosos,
muitas vezes sem indicação adequada. O tema ganhou repercussão nacional após o Fantástico,
da TV Globo, exibir reportagem recente sobre os riscos da chamada
hipervitaminose, a intoxicação provocada pelo excesso de vitaminas no
organismo. O alerta tem fundamento, já que, dados recentes da Anvisa mostram
que, desde o ano passado, foram registradas 240 notificações de problemas
relacionados ao uso de suplementos vitamínicos, sendo 28% de efeitos
considerados graves. O mercado, por sua vez, não para de crescer: a indústria
de suplementos vitamínicos movimenta cerca de R$4 bilhões por ano no Brasil,
impulsionada pela busca por saúde, estética e performance.
Segundo a endocrinologistada Afya Educação
Médica Brasília, Dra. Luciana Corrêa, a maioria das vitaminas necessárias ao
corpo pode ser obtida por meio de uma alimentação equilibrada, rica em frutas,
vegetais, cereais integrais, ovos e carnes. A vitamina D, por exemplo, depende
ainda da exposição solar regular para ser ativada no organismo. O problema, explica
a médica, está na suplementação indiscriminada. “Infelizmente, temos visto a
indicação de vitaminas por via intramuscular e venosa, em doses não
recomendadas. Isso aumenta muito o risco de intoxicação, especialmente no caso
das vitaminas lipossolúveis — A, D, E e K — que ficam armazenadas no corpo”,
alerta.
As consequências do excesso variam conforme a
vitamina envolvida. A intoxicação por vitamina A pode gerar dores de cabeça,
pele seca, queda de cabelo, fadiga e até danos ao fígado. Doses elevadas de
vitamina E favorecem hemorragias, sobretudo em pessoas que usam
anticoagulantes, enquanto o excesso de vitamina K pode aumentar o risco de
trombose. Já a intoxicação por vitamina D é a mais comum, podendo causar
cálculos renais, insuficiência renal e, em casos extremos, necessidade de
hemodiálise.
O gastroenterologista e professor do Centro
Universitário Afya Itaperuna, Raphael Gomes, reforça que a hipervitaminose pode
ser aguda, quando ocorre logo após doses muito altas, ou crônica, resultado do
uso prolongado de suplementos. “Os sintomas vão desde náuseas, vômitos e dor
abdominal até alterações neurológicas, como tontura e irritabilidade, além de
manifestações cutâneas, queda de cabelo, dor óssea e alterações visuais”,
detalha. Ele explica que o diagnóstico não se limita a uma simples dosagem de
vitaminas no sangue. “É preciso cruzar a história clínica, os sintomas e os
exames laboratoriais complementares, como cálcio, função renal e enzimas
hepáticas. Só assim é possível confirmar o quadro”, acrescenta.
A nutróloga da Afya Educação Médica Goiânia,
Marcela Rages, lembra que, embora as vitaminas lipossolúveis ofereçam maior
risco de toxicidade por ficarem armazenadas no fígado e no tecido adiposo, até
mesmo as hidrossolúveis, como vitamina C e B6, podem causar problemas em doses
muito altas. “Muita gente acredita que vitamina não faz mal, mas isso não é
verdade. Em excesso, até as hidrossolúveis podem gerar efeitos adversos, como
diarreia, cálculos renais e neuropatia”, explica. Segundo a especialista, a única
forma segura de saber se há necessidade de suplementação é com avaliação médica
e exames. “Uma boa alimentação já é suficiente na maioria dos casos. Mas cada
organismo tem particularidades. Suplementar sem necessidade comprovada é um
risco totalmente evitável, mas, infelizmente, ainda muito comum”, afirma
Marcela.
Os médicos também destacam os grupos mais
vulneráveis, como gestantes, idosos e pessoas com doenças renais ou hepáticas.
Para eles, o recado é claro: a suplementação só deve ser feita sob
acompanhamento profissional e dentro das doses recomendadas. Em casos de
toxicidade, a conduta envolve suspender o suplemento, tratar os sintomas e
adotar monitoramento periódico para evitar recorrências.
Como resume a Dra. Luciana Corrêa, a vitamina
D, uma das mais suplementadas, ilustra bem o dilema. Ela é
fundamental para a saúde óssea, muscular e imunológica, mas seu excesso pode
ser extremamente perigoso.“Com exposição solar regular de 10 a 30 minutos,
algumas vezes por semana, já conseguimos manter níveis adequados na maioria das
pessoas. Quando não for suficiente, a suplementação oral e em doses adequadas é
a opção mais segura. Aplicações intramusculares devem ser evitadas”, orienta.
Em um cenário em que o mercado de suplementos cresce de forma acelerada e movimenta bilhões todos os anos, a hipervitaminose surge como um alerta: vitaminas são essenciais, mas não são inofensivas. O uso consciente, aliado à orientação médica, é o único caminho para que elas cumpram seu papel de fortalecer o organismo sem colocar a saúde em risco.
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