Nos
últimos anos, o número de ataques cibernéticos tem crescido de forma alarmante
no Brasil, e o setor da saúde tornou-se um dos principais alvos desses crimes.
Hospitais, clínicas, laboratórios e operadoras de planos de saúde estão cada
vez mais digitalizados, um avanço necessário, mas que também os expõe a riscos
consideráveis.
Essas
instituições lidam com informações extremamente sensíveis, como históricos
médicos, exames laboratoriais, diagnósticos, receitas e registros pessoais de
pacientes. Essa riqueza de informações atrai cibercriminosos, que
frequentemente utilizam malwares como o ransomware, um tipo de software
malicioso que sequestra os dados da organização e exige o pagamento de resgate
para sua liberação.
Esse
cenário se torna ainda mais preocupante diante do volume crescente de ameaças
digitais. Segundo dados do FortiGuard Labs, laboratório de inteligência de
ameaças da Fortinet, o Brasil foi alvo de impressionantes 356 bilhões de
tentativas de ataques cibernéticos em 2024, representando 38,73% de todas as
atividades maliciosas detectadas na América Latina. Esse número coloca o país
como o principal alvo de ataques na região, evidenciando a frequência das
ameaças digitais enfrentadas pelas organizações brasileiras.
Um
exemplo emblemático foi o ataque ao Ministério da Saúde, em 2021, que derrubou
o sistema do ConecteSUS e expôs milhões de registros, além de comprometer o
cronograma da vacinação contra a COVID-19.
Apesar
da gravidade do problema, o investimento em cibersegurança ainda é considerado
insuficiente. De acordo com a Pesquisa Setorial em Cibersegurança, desenvolvida
pela Abrasca em parceria com a Howden e o The Security Design Lab, as empresas
dos setores de saúde e varejo estão entre as que menos investem em proteção
digital, alocando apenas entre 3% e 7% do orçamento de TI para cibersegurança.
Em contraste, setores como o financeiro destinam de 10% a 25%, demonstrando
maior maturidade digital e adequação às exigências regulatórias.
De
acordo com a pesquisa, que analisou respostas de 109 empresas listadas na
bolsa, o baixo investimento em cibersegurança pode explicar o desempenho
inferior do setor de Saúde. A nota geral foi de 4,9 em uma escala de 10, com os
setores de Indústria, Telecomunicações, Óleo & Gás e Financeiro registrando
os melhores índices. Um dado especialmente preocupante revelado pelo estudo é
que, independentemente do setor, 42% dos respondentes afirmaram não possuir um
plano de resposta a incidentes de cibersegurança.
Diante
desse cenário, a pergunta que se devemos fazer é: o que pode ser feito para
preveni-lo?
O
primeiro passo é investir em sistemas robustos de proteção, como firewalls de
próxima geração, antivírus com inteligência artificial, monitoramento em tempo
real (via Security Operations Centers – SOCs) e adoção da arquitetura de
segurança Zero Trust, que considera que nenhuma fonte, interna ou externa, é
confiável por padrão.
Além
disso, é fundamental capacitar continuamente os colaboradores. Treinamentos
regulares de ataques cibernéticos e de Gestão de Crises para executivos devem
abordar boas práticas como autenticação multifatorial, uso de senhas seguras,
backups periódicos, atualização constante de sistemas e, principalmente, identificação
de tentativas de phishing e engenharia social.
Outro
ponto-chave é a orientação ao público. Pacientes e usuários devem ser
incentivados a acessar exclusivamente os canais oficiais para agendamento de
exames, retirada de laudos e contatos com os prestadores. Isso reduz
significativamente o risco de fraudes e golpes.
Também
é essencial que cada instituição tenha um plano de resposta a incidentes, com
protocolos claros de contenção, mitigação e comunicação. A velocidade na reação
a um ataque pode evitar a paralisação total dos serviços e preservar vidas.
Além
dos danos financeiros e operacionais, o impacto reputacional pode ser
devastador. Em um ambiente onde a confiança é fundamental, falhas de segurança
podem comprometer não apenas a imagem da organização, mas também sua
sustentabilidade a longo prazo.
Os
ataques cibernéticos no sistema de saúde deixaram de ser uma ficção de filmes e
séries. Eles são reais, frequentes e impactam diretamente a vida da população.
Proteger os sistemas digitais e capacitar os profissionais hoje é,
literalmente, salvar vidas amanhã. Com estratégia, tecnologia e preparo, é
possível vencer essa batalha invisível, mas absolutamente decisiva.





