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quarta-feira, 2 de abril de 2025

Frutose em excesso altera o intestino e pode aumentar o risco de diabetes tipo 2 e doenças no fígado, revelam cientistas

Estudo mostra que mudanças no intestino provocadas por alta ingestão de frutose, presente em vários alimentos ultraprocessados, precedem o descontrole glicêmico e o acúmulo de gordura no fígado.


Pesquisadores da Université Laval (ULAVAL), do Canadá, e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), descobriram que o consumo excessivo de frutose – comum em dietas com alto teor de alimentos ultraprocessados – modifica a forma como o intestino responde à glicose, aumentando a absorção desse açúcar e comprometendo o controle da glicemia. Esses efeitos precedem a intolerância à glicose e o acúmulo de gordura no fígado, dois fatores ligados ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 e da Doença Hepática Gordurosa Associada à Disfunção Metabólica (MASLD, na sigla em inglês). O artigo que descreve o estudo, High fructose rewires gut glucose sensing via glucagon-like peptide 2 to impair metabolic regulation in mice, foi capa da edição de março da revista científica Molecular Metabolism

A pesquisa, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp), foi conduzida pelo pesquisador Paulo H. Evangelista-Silva, doutorando do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Biologia Funcional e Molecular do ICB-USP, em coautoria com Eya Sellami, pesquisadora da ULAVAL, e Caio Jordão Teixeira, pós-doutorando do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB-USP. O trabalhou foi coordenador por Fernando Forato Anhê, professor assistente da Faculdade de Medicina da Université Laval e pesquisador do Institut Universitaire de Cardiologie et de Pneumologie de Québec (IUCPQ).
 

Absorção intestinal alterada é o gatilho do problema – No estudo, camundongos foram alimentados durante sete semanas com uma dieta na qual 8,5% da energia vinha da frutose – proporção considerada elevada, mas ainda próxima do consumo humano médio. Em apenas três dias, os animais já apresentavam um aumento na capacidade do intestino de absorver glicose, antes mesmo do surgimento da intolerância à glicose. Após quatro semanas, a glicose já não era eficientemente removida do sangue, e ao fim do estudo, observou-se acúmulo de gordura no fígado – condição que pode evoluir para quadros mais graves, como a cirrose. 

Curiosamente, mesmo com esses efeitos adversos, os camundongos não desenvolveram resistência à insulina nos músculos ou no tecido adiposo, indicando que o descontrole glicêmico inicial ocorre por alterações no intestino, e não por falha na resposta insulínica periférica. 

A explicação para esse fenômeno pode estar na ação de um hormônio chamado GLP-2, produzido por células do intestino. Os pesquisadores constataram que o consumo excessivo de frutose eleva os níveis circulantes de GLP-2, hormônio que estimula o crescimento da superfície intestinal e o aumento da absorção de nutrientes. Ao bloquear o receptor desse hormônio (Glp2r) com uma droga, foi possível impedir o aumento da absorção de glicose, evitando tanto a intolerância quanto o acúmulo de gordura no fígado. 

No entanto, a estratégia de bloqueio do Glp2r não é facilmente aplicável a humanos, pois esse mesmo receptor está envolvido na proteção da barreira intestinal contra infecções e inflamações. Isso reforça a complexidade do papel do GLP-2 na saúde metabólica. 

"Mostramos que o aumento da absorção de glicose pelo intestino ocorre antes da intolerância à glicose. Isso abre caminho para o uso desse mecanismo como um biomarcador precoce", afirma o professor Fernando Anhê. "O teste de absorção intestinal de glicose é barato, seguro e já utilizado em humanos — bastaria aplicá-lo em um novo contexto." 

Nova fase da pesquisa, com apoio do Canadian Institutes of Health Research (CIHR), vai investigar como o microbioma intestinal pode ser manipulado para reduzir os efeitos nocivos do excesso de frutose.
 

Frutas in natura continuam aliadas da saúde – O pesquisador Paulo H. Evangelista-Silva ressalta que os resultados do estudo se referem ao consumo de frutose adicionada a alimentos ultraprocessados. “Frutas in natura são ricas em fibras, que ajudam a retardar a absorção de glicose e aumentam a saciedade. Além disso, contêm nutrientes benéficos para a saúde intestinal e hepática”, explica. 

A pobreza nutricional dos ultraprocessados, com baixo teor de fibras e altos níveis de açúcares adicionados – como o xarope de milho e o açúcar de cana –, sobrecarrega o organismo. Evangelista-Silva recomenda priorizar alimentos in natura, conforme orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde com apoio da Opas/Brasil. 

O açúcar de cana-de-açúcar e o xarope de milho são exemplos de açucares ricos em frutose amplamente utilizados pela indústria em alimentos ultraprocessados. Confira abaixo uma lista com alguns exemplos de alimentos ultraprocessados que contêm frutose em excesso:
 

Alimentos ultraprocessados com alta concentração de frutose incluem:

  • Refrigerantes e sucos industrializados (mesmo os néctares “100% fruta”)
  • Cereais matinais e barras adoçadas
  • Biscoitos recheados e doces industrializados
  • Pães e bolos prontos (como bisnaguinhas e pão de forma)
  • Chás prontos e bebidas esportivas adoçadas
  • Molhos industrializados (ketchup, barbecue etc.)
  • Iogurtes adoçados, sobremesas lácteas e geleias

O estudo teve apoio das agências FRQS (Fonds de Recherche du Québec – Santé), Fondation IUCPQ e FAPESP (processos 2020/12201-4 e 2022/14545-8).


Uso de telas antes de dormir agrava bruxismo em pessoas autistas

No Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, especialista aponta cuidados especiais necessários com os dentes desses pacientes e dá dicas para ajudá-los na higiene bucal 
 

Em 2 de abril, celebra-se o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, uma iniciativa da ONU para aumentar a visibilidade do TEA (Transtorno do Espectro Autista) e defender os direitos das pessoas autistas. Além de promover a inclusão e o respeito, a data é uma oportunidade para desmistificar preconceitos, disseminar conhecimento científico e incentivar debates sobre a qualidade de vida no espectro autista. 

“Uma excelente oportunidade para mostrarmos o que pode ser feito para melhorar a saúde bucal dessas pessoas”, destaca a Dra. Monique Pimentel, Secretária de saúde do município de Paracambi (RJ) e fundadora da Clínica Dra. Monique Pimentel. “Por terem uma alta sensibilidade a estímulos sensoriais, o cuidado com dentes, língua e gengiva pode ser um desafio para os responsáveis e para a própria pessoa”, detalha. “Eles podem ter dificuldade para cuspir, manter a boca aberta e sentir a mão do adulto no próprio rosto”. 

A Dra. Monique aponta que algumas dificuldades podem ser mais intensas nas pessoas com TEA. “Eles têm uma propensão a ter hiperatividade cerebral. Então um hábito como o de usar telas antes de dormir atrapalha o relaxamento. E se os últimos conteúdos que consumirem forem agitados, ou mesmo agressivos, como em jogos ou alguns desenhos animados mais violentos, a tendência é que fiquem com essa inquietação ainda mais aguçada nas primeiras quatro horas de sono e a consequência é bruxismo”, detalha. 

Além dessa questão, a especialista alerta para a dificuldade em fazer a higienização da boca no dia a dia. “Colocar algo na boca é algo muito íntimo e invasivo, então no caso dessas crianças, os pais podem enfrentar resistência à escova e ao fio dental. A saída é fazer com que eles entendam o que está acontecendo”.
 

Ela lista dicas de como fazer isso:
 

1 - Explicar como cada instrumental vai ser utilizado.
 

2 - Deixá-los tocar, sentir a textura e a composição de cada um.
 

3 - O pai ou mãe também podem começar mostrando primeiro como eles mesmos escovam os próprios dentes e depois escovando os dos filhos.
 

4 - Usar escovas com cabeça pequena, cerdas macias e cabo longo, para ter mais acesso sem tocar tanto nas laterais e céu da boca.
 

5 - Deixar de lado cremes dentais com sabor; “pode parecer uma boa ideia para deixar o momento mais gostoso, mas a criança pode começar a 'comer' o produto, atrapalhando o processo”, segundo a dra. Monique.

 

Procedimentos similares são adotados pela Dra. Monique nas consultas. “Em primeiro lugar, não deixamos que a criança fique aguardando na sala de espera, para evitar ansiedade. Depois, deixamos alguns estímulos mais suaves, como a iluminação da sala de atendimento e a luz direcionada da cadeira. E explicamos cada etapa, cada processo, dando ordens simples e diretas, como pedir primeiro para a criança sentar, depois para abrir a boca. Temos também um kit de instrumentos extra (tirando, claro, o que é cortante ou afiado), para que o paciente segure nas mãos e saiba exatamente como é enquanto usamos um deles em sua boca. Uma outra ação interessante que o profissional pode adotar é colocar o responsável na cadeira e fazer o atendimento primeiro nele, mostrando como tudo é feito e narrando cada etapa”. 

Os cuidados são importantes pois algumas questões de saúde oral podem ter impacto maior nessa população. “Muitos deles têm seletividade alimentar, preferindo alimentos ricos em carboidratos, ou com bastante açúcar. Isso somado a outras características, como a tendência a supercrescimento das gengivas e hipoplasia de esmalte (esmalte poroso, que ‘esfarela’), mais a má higienização é um cenário que leva a acúmulo de resíduos, gerando cáries, gengivite e periodontite”, finaliza a Dra. Monique. 

Com o apoio de familiares, profissionais capacitados e a conscientização da comunidade, é possível criar um ambiente mais acolhedor e inclusivo, garantindo qualidade de vida e bem-estar para todos.
 

 

Dra. Monique Pimentel - dentista, especialista em ortodontia e ortopedia dos maxilares, fundadora do Instituto de Odontologia Monique Pimentel e Secretária de saúde do município de Paracambi (RJ). Promotora e incentivadora da odontologia integrativa, dedica sua carreira a ampliar o acesso à odontologia de qualidade e a conscientizar sobre a importância da saúde oral na qualidade de vida. Monique é formada em Odontologia pela Universidade São José, em Farmácia pela Universidade de Vassouras, além de ter especialização em ortodontia e ortopedia dos maxilares pelo Centro de Atendimento Ortodôntico. Também fez Residência em ortodontia digital e alinhadores pelo Instituto Eduardo Prado e Invisalign. Link


Semana do Autismo - Entenda O Que É Rigidez Cognitiva

Descubra Como A Rigidez Cognitiva Afeta A Vida De Indivíduos Com Transtorno Do Espectro Autista E Explore Estratégias Para Promover Maior Adaptação E Conforto

 

A rigidez cognitiva é uma característica comumente observada em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa condição refere-se à dificuldade em ajustar pensamentos, comportamentos e ações diante de mudanças ou situações inesperadas. 

Essa inflexibilidade pode afetar várias áreas da vida, como interações sociais, aprendizado e a capacidade de enfrentar desafios cotidianos. A rigidez no autismo se manifesta como uma forte preferência por rotinas, padrões e previsibilidade. 

Pessoas com TEA tendem a seguir rigorosamente suas rotinas diárias, resistindo a mudanças no ambiente ou apresentando comportamentos repetitivos. Por exemplo, uma criança pode preferir usar sempre o mesmo prato ou seguir um caminho específico para a escola; qualquer alteração nessa rotina pode provocar desconforto ou ansiedade - Explica a Dra. Gesika Amorim, Pediatra, Pós-graduada em Neurologia e Psiquiatria, especializada em Tratamento Integral do Autismo em Neurodesenvolvimento

 

Causas da Rigidez Cognitiva 

Vamos conhecer os vários fatores que podem influenciar a rigidez cognitiva em pessoas autistas: 

- Diferenças neurológicas: Alterações no funcionamento cerebral, especialmente nas áreas relacionadas à flexibilidade cognitiva e à regulação emocional.

- Ansiedade: A busca por controle e previsibilidade muitas vezes surge como uma forma de lidar com a ansiedade provocada por um mundo que pode parecer caótico ou imprevisível.

- Preferências sensoriais: Sensibilidades sensoriais podem levar à adesão a padrões que proporcionam conforto e segurança.

 

Rigidez Cognitivo - Impactos no Cotidiano

 

A rigidez cognitiva pode impactar a vida de um indivíduo autista de várias maneiras:

 

- Interações sociais: Dificuldade em aceitar diferentes perspectivas ou adaptar-se a dinâmicas sociais.

- Aprendizado: Resistência a novas abordagens ou materiais que não correspondam às suas preferências.

- Dinâmica familiar: A insistência em manter padrões rígidos pode afetar as relações familiares, especialmente em situações que exigem flexibilidade.

 

Existem estratégias que podem ajudar a minimizar os impactos da rigidez cognitiva e promover maior flexibilidade:

 

- Preparação para mudanças: Avisar com antecedência sobre alterações na rotina pode ajudar a reduzir a ansiedade.

- Terapias especializadas: Intervenções como terapia comportamental (ABA) e terapia ocupacional podem desenvolver habilidades de adaptação e regulação emocional.

- Ambiente estruturado: Criar um espaço previsível e organizado proporciona segurança, enquanto mudanças são introduzidas gradualmente.

- Reforço positivo: Incentivar e recompensar comportamentos flexíveis ajuda o indivíduo a se sentir mais confortável com as mudanças. 

Vale ressaltar que a rigidez no autismo não é uma escolha; trata-se de uma característica intrínseca que reflete como o cérebro processa informações e interage com o ambiente. Com compreensão e apoio adequados, é possível ajudar pessoas com TEA a desenvolver maior flexibilidade, enfrentando os desafios diários de maneira mais tranquila – Finaliza a Dra. Gesika Amorim. 



Dra Gesika Amorim - Mestre em Educação médica, com Residência Médica em Pediatria, Pós Graduada em Neurologia e Psiquiatria, com formação em Homeopatia Detox (Holanda), Especialista em Tratamento Integral do Autismo. Possui extensão em Psicofarmacologia e Neurologia Clínica em Harvard. Especialista em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental; Homeopata, Pós Graduada em Medicina Ortomolecular - (Medicina Integrativa) e Membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil.
https://dragesikaamorim.com.br
Insta: @dragesikaautismo


Atividade física é aliada fundamental para a saúde da gestante

Praticar exercícios durante a gravidez ajuda a controlar o peso, melhora a circulação, reduz dores e prepara o corpo para o parto, defende especialista

 

O momento da gravidez é cercado de mudanças físicas e emocionais para as mulheres. Entre os diversos cuidados que a gestante deve ter, a prática de atividade física pode ser uma grande aliada para garantir uma gravidez mais saudável e equilibrada.

No Dia Mundial da Atividade Física, celebrado em 6 de abril, especialistas reforçam a importância dos exercícios durante a gestação e trazem orientações seguras para as futuras mamães.

A Dra. Claudia Ribeiro, coordenadora médica do Hospital Maternidade Paulino Werneck, explica que a prática regular de exercícios pode proporcionar benefícios tanto para a gestante quanto para o bebê.

"A atividade física na gravidez contribui para a melhora da circulação sanguínea, controle do peso, redução de dores lombares e preparação do corpo para o parto. Além disso, também auxilia na saúde mental, diminuindo os níveis de estresse e ansiedade comuns nesse período", destaca a especialista.

 

Exercícios recomendados e intensidade adequada

A escolha da atividade física deve levar em conta a fase da gestação e as condições de saúde da mãe. Segundo a Dra. Claudia, atividades de baixo impacto são as mais indicadas.

"Caminhadas, hidroginástica, ioga e pilates são opções seguras para a maioria das gestantes. Esses exercícios ajudam a fortalecer a musculatura, melhoram a postura e evitam desconfortos comuns da gravidez", ressalta.

Em relação à intensidade, a recomendação é que as gestantes realizem atividades leves e moderadas, sempre com orientação profissional.

"Um bom parâmetro é a chamada 'conversa confortável': a gestante deve conseguir falar normalmente durante o exercício, sem ficar ofegante demais", alerta a médica.
 

Cuidados essenciais e contraindicações

Antes de iniciar ou manter a prática de atividades físicas, é fundamental que a gestante passe por uma avaliação médica. Algumas condições exigem restrição ou até mesmo a suspensão dos exercícios, como gestações de alto risco, sangramentos, hipertensão arterial ou doenças cardíacas.

"Outro ponto essencial é a hidratação constante e o uso de roupas leves e confortáveis. Também é importante evitar atividades que envolvam risco de quedas ou impactos na região abdominal", orienta a Dra. Claudia.

 

Atividade física no pós-parto

E depois do parto? Muitas mulheres têm dúvidas sobre quando podem retomar os exercícios. A médica explica que o retorno depende do tipo de parto e da recuperação da mãe.

"Em partos normais sem complicações, a mulher pode iniciar atividades leves, como caminhadas, em cerca de 15 dias. Já para os casos de cesáreas, o ideal é aguardar, em média, de seis a oito semanas e sempre com avaliação médica", pontua.

A adoção de um estilo de vida ativo durante a gravidez e no pós-parto contribui para a recuperação física e emocional da mulher, além de melhorar a qualidade de vida e promover o bem-estar da família.

A especialista reforça que o movimento é um grande aliado para a gestante, desde que realizado com responsabilidade e orientação adequada. E recomenda: procurar um profissional de saúde para avaliar e indicar os exercícios mais adequados é o primeiro passo para garantir uma gravidez ativa e saudável. 



Hospital Maternidade Paulino Werneck - localizado na Ilha do Governador do Rio de Janeiro


CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial



Na luta contra fake news, profissionais de saúde combatem desinformação com conteúdo confiável


Para garantir segurança à própria saúde, pacientes devem buscar
 informações de fontes confiáveis, em conteúdos recomendados
ou produzidos por especialistas 
Envato
Mais de 80% dos brasileiros já acreditaram em notícias falsas. Na área da saúde, informações incorretas e autodiagnósticos podem comprometer tratamentos

 

O acesso à informação tornou-se um importante aliado da saúde global, permitindo que milhares de pessoas ampliem seu conhecimento sobre sintomas, prevenção e cuidados com doenças. Entretanto, a desinformação continua sendo um grande desafio para os profissionais da área. Segundo o Instituto Locomotiva, 88% dos brasileiros já acreditaram em fake news pelo menos uma vez. 

Outro levantamento, realizado pelo Poynter Institute for Media Studies, revela que 43% dos internautas não verificam a veracidade das notícias antes de compartilhá-las. Os impactos dessa prática ficaram evidentes durante a pandemia de covid-19, quando boatos sobre vacinas, tratamentos e até sobre a existência do vírus dificultaram o trabalho de médicos e cientistas. 

A desinformação não gera apenas confusão, mas também prejudica a relação entre médico e paciente. A clínica e coordenadora médica do Hospital São Marcelino Champagnat, Maria Fernanda Carvalho, alerta que a ausência de fontes seguras pode comprometer diagnósticos e tratamentos. “Informações incorretas podem causar erros tanto na identificação da doença quanto na escolha do método utilizado no tratamento. Por isso, é essencial que o paciente procure sempre fontes que disponham de informações de confiança, de preferência indicadas por especialistas, para evitar erros e garantir a segurança necessária para a própria saúde", afirma.


Autodiagnóstico: um risco crescente

Nos últimos anos, a internet se consolidou como o principal meio para quem busca respostas rápidas sobre sintomas e doenças. Apesar da vasta quantidade de conteúdos disponíveis, nem todos são confiáveis, e orientações equivocadas podem trazer consequências graves para a saúde pública. A prática de recorrer ao chamado “Dr. Google” preocupa especialistas, já que frequentemente os materiais encontrados não possuem embasamento científico. 

"Procurar diagnósticos ou tratamentos on-line, sem orientação adequada, pode prejudicar tanto a saúde física quanto a mental", explica a médica. "Dependendo das expectativas criadas pelo paciente em relação ao que lê, pode ocorrer piora ou até o desencadeamento de transtornos psicológicos", completa.

Um reflexo direto desse comportamento é o aumento dos autodiagnósticos. Uma pesquisa da Medscape, com 1.279 médicos brasileiros em atividade, revelou que 83% deles consideram alto o risco quando pacientes utilizam inteligência artificial para se autodiagnosticar. 

“Esse fenômeno tem se tornado cada vez mais comum, especialmente no campo das doenças mentais, com pessoas afirmando possuir transtornos psiquiátricos sem confirmação médica”, observa Maria Fernanda. “No caso do TDAH, milhares se autodiagnosticam com base em conteúdos sem rigor científico, fazendo com que muitos acreditem possuir uma patologia que, na verdade, não têm”, avalia. 


Projeto "E aí, Doutor?", que fornece informações seguras à população,
já impactou mais de três milhões de usuários nas redes sociais em 121 edições
Divulgação

 Profissionais e hospitais na linha de frente

Diante do fácil acesso a todo tipo de informação, o papel dos profissionais de saúde se torna ainda mais relevante — não apenas no atendimento, mas também na conscientização sobre o consumo responsável de informações. "O papel do profissional de saúde está em educar, ensinar e compartilhar conhecimento baseado em evidências científicas", reforça a médica. "Hoje o paciente tem um papel ativo no seu próprio cuidado, portanto é essencial que busque referências recomendadas por especialistas."

Hospitais também têm realizado ações para combater esse problema. No Hospital São Marcelino Champagnat, o projeto E aí, Doutor?, lançado em 2022, leva informações seguras à população. “Produzimos vídeos no formato de perguntas e respostas, nos quais especialistas esclarecem dúvidas frequentes sobre diversos temas de saúde”, explica a gerente de Marketing dos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, Ana Paula Tabor Druszcz. 

“Essa iniciativa reforça nosso compromisso com a medicina de excelência e mostra que, quando os hospitais produzem e divulgam conteúdos de qualidade, é possível garantir o acesso da população a informações seguras, evitando que conteúdos incorretos prejudiquem o bem-estar das pessoas”, comenta.

Entre 2022 e 2025, o projeto já impactou mais de três milhões de usuários nas redes sociais, em 121 edições que abordaram 20 especialidades médicas. "A informação qualificada é fundamental para decisões mais seguras. Ao trabalhar com dados embasados em evidências, promovemos conscientização e reduzimos a desinformação", finaliza Ana.

  

Hospital São Marcelino Champagnat

Hospital Universitário


Os melhores livros sobre autismo: Dicas imperdíveis para entender o TEA

No dia 2 de abril, celebramos o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A Literare Books, editora que mais publica livros sobre o tema, selecionou sugestões de leitura para quem deseja entender melhor o diagnóstico 

 

No próximo dia 2 de abril, o Dia Mundial da Conscientização do Autismo é celebrado em todo o mundo, com o objetivo de promover o entendimento e a inclusão das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A data foi estabelecida pela ONU em 2007 e, desde então, se tornou um marco para sensibilizar a sociedade sobre as particularidades do autismo, um transtorno que afeta a comunicação social e o comportamento de maneira diversa. Em 2025, o tema escolhido para a celebração é “Informação gera empatia, empatia gera respeito”, com a hashtag #RESPECTRO, reforçando a importância do conhecimento para fomentar o respeito e a convivência.

A Literare Books International, editora com vasta produção sobre o tema, tem se destacado por seu compromisso com a inclusão e o desenvolvimento de conteúdos que ajudam a desmistificar o TEA e promover a diversidade. Para marcar esta data, a editora recomenda uma série de livros que abordam o autismo de diferentes perspectivas, desde o diagnóstico até a vida cotidiana de pessoas no espectro. Esses livros são essenciais não apenas para especialistas, mas também para familiares, educadores e todos que buscam entender melhor o transtorno e apoiar a inclusão social das pessoas com autismo.


Simplificando o autismo
Este livro best-seller abrangente sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) oferece uma compreensão profunda para pais e profissionais. Coordenado pelo renomado médico Thiago Castro, diversos especialistas abordam o diagnóstico precoce, tratamentos, comorbidades, impactos no neurodesenvolvimento e desmistificação de mitos, proporcionando informações atualizadas e práticas sobre o autismo.


Espectro Autista Feminino: Invisibilidade, diagnóstico e perspectivas
Com a coordenação editorial do Dr. Thiago Castro e Lygia Pereira, obra aborda o subdiagnóstico do autismo em meninas e mulheres, destacando como as diferenças de gênero e culturais podem afetar a identificação do TEA. Com mais de 40 colaboradores, o livro oferece uma visão abrangente sobre a expressão feminina do autismo, visando evitar uma "geração invisível" de autistas.


Compreender e Acolher
O livro, no formato vira-vira, apresenta uma abordagem lúdica e empática sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), com foco em crianças, adolescentes e adultos. A neuropediatra Deborah Kerches compartilha informações científicas e práticas, incluindo histórias em quadrinhos, para promover a compreensão e construção de uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.


Autismo ao longo da vida – volume 1 | volume 2
As obras exploram os desafios enfrentados ao longo da vida de pessoas com TEA, abordando questões como autonomia, inclusão educacional e profissional, e direitos. Com base em pesquisa científica e abordagens multidisciplinares, oferece um guia para famílias e profissionais, visando sensibilizar a sociedade para ambientes mais inclusivos para pessoas no espectro.


Autismo Novo Guia
Escrito pela neuropsicóloga Luciana Xavier, a obra explora o Transtorno do Espectro Autista (TEA) com uma abordagem única, combinando evidências científicas e experiências clínicas. Utilizando analogias de “Alice no País das Maravilhas”, oferece uma visão empática sobre o universo neurodiverso, sendo um recurso valioso para profissionais, familiares e interessados em compreender melhor o TEA.


Perspectivas Legais - Autismo e a busca por Justiça
Coordenada pela advogada especialista em TEA, Luiza Lucena, a obra aborda as barreiras legais e institucionais que dificultam o acesso dos autistas a seus direitos, explorando leis brasileiras como a Lei Berenice Piana e a Lei Brasileira de Inclusão. Com uma abordagem multidisciplinar, oferece ferramentas para fortalecer a defesa dos direitos dos autistas e promover uma sociedade inclusiva.


TEA: Histórias, casos e relatos do Transtorno do Espectro Autista
Este livro reúne relatos emocionantes de mães e profissionais que vivenciam os desafios do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com histórias reais, perspectivas valiosas e personagens autistas da cultura pop, a obra promove empatia, compreensão e conexão, fortalecendo o apoio à diversidade e inclusão no universo do TEA.


Educação inclusiva & A parceria da família
Este livro destaca a importância da educação inclusiva, enfatizando a capacitação de professores e o papel fundamental da parceria entre escola e família. Com base em evidências científicas, reúne contribuições de especialistas e relatos de famílias, oferecendo uma visão abrangente sobre a inclusão e o aprendizado em ambientes diversos.


Autismo: um olhar por inteiro
O livro oferece uma visão abrangente do TEA, abordando desafios do desenvolvimento, educação, mercado de trabalho e vida social. Com contribuições de especialistas e relatos de mães, propõe caminhos para uma vida plena e saudável, unindo teoria, prática e experiências reais sobre o autismo.


Pais de autistas: acolhimento, respeito e diversidade
Esta obra destaca a importância do autocuidado para pais de crianças autistas, oferecendo suporte por meio de especialistas e mães que compartilham experiências, dicas e atividades integrativas. Com foco no bem-estar familiar, a obra reforça que cuidar de si é essencial para proporcionar uma jornada mais leve e equilibrada.


Autismo - Um Olhar 360º - volume 1 | volume 2
O livro reúne especialistas para desmistificar o TEA, abordando comunicação, comportamento, direitos e inclusão. Com uma visão ampla e esclarecedora, a obra acolhe famílias e profissionais, oferecendo conhecimento e direcionamento para enfrentar os desafios e apoiar o desenvolvimento de pessoas autistas.


Autismo: Integração e Diversidade
O livro explora a importância da educação inclusiva e do respeito à diversidade para a qualidade de vida dos autistas. Com relatos de profissionais e familiares, aborda estratégias para o desenvolvimento social e educacional, destacando a importância do acolhimento, da criatividade e da equidade na aprendizagem.


A importância do jiu-jítsu e das artes marciais para crianças e adultos com autismo
As artes marciais, como o jiu-jítsu, têm um impacto transformador para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). Elas ajudam no desenvolvimento motor, na coordenação, concentração e autoconfiança. Além de técnicas e filosofias de combate, essas práticas oferecem benefícios para o corpo, mente e espírito, promovendo a inclusão e o desenvolvimento pessoal.


Autismo: o sentido das terapias
Os casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) aumentaram significativamente, com a prevalência passando de 1 em cada 166 crianças em 2004 para 1 a cada 44 em 2021. Este livro oferece apoio e soluções para famílias, reunindo especialistas de diversas áreas, proporcionando um guia completo para o desenvolvimento humano após o diagnóstico.


Autismo: Quando o diagnóstico chega – volume 1 | volume 2
Estas obras oferecem uma visão abrangente do impacto do diagnóstico de autismo, abordando a pessoa diagnosticada, seus familiares e profissionais. Com mais de 40 capítulos, os livros oferecem orientações sobre como lidar com o diagnóstico, abordando desde questões bioquímicas e nutricionais até intervenções terapêuticas e educativas, promovendo conscientização e apoio.


Autismo: um mundo singular
O diagnóstico de autismo traz incertezas e desafios para pais e profissionais. Esta obra reúne relatos de familiares e especialistas de diversas áreas, oferecendo informações e práticas sobre o desenvolvimento e bem-estar dos autistas. A obra busca desmistificar o transtorno, promover inclusão e combater o preconceito, fornecendo apoio e orientação.


Autismo: uma maneira diferente de ser
Compreender o autismo é um desafio, mas é essencial para garantir uma vida plena e de qualidade aos autistas. Esta obra reúne contribuições de profissionais sobre educação, tratamento e diversidade, oferecendo informações para ajudar crianças e adultos com TEA a superar obstáculos, combatendo estereótipos e promovendo respeito.


Autism without mask Autismo sem máscaras
A obra retrata mães de autistas cujos rostos foram pintados por seus filhos, capturando momentos de conexão através da arte. O projeto "Autism Without Mask" celebra essas mães como protagonistas, promovendo inclusão e transformação por meio da arte. O livro também inclui depoimentos de profissionais renomados sobre o impacto terapêutico.


Autismo em Meninas e Mulheres - Avaliação e Diagnóstico
Este livro aborda o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em meninas e mulheres, explorando as características únicas do autismo feminino, como camuflagem e barreiras ao diagnóstico. A autora e psicóloga Lílian Oliveira Gomes apresenta uma avaliação psicológica detalhada, oferecendo exemplos práticos e relatos, para promover um diagnóstico mais preciso e a compreensão do autismo feminino.


Maternidade Atípica: Uma jornada de amor, aceitação e crescimento
Esta obra explora a maternidade atípica, compartilhando experiências de mães que enfrentam desafios além das expectativas tradicionais. Com temas como superação, inclusão e amor, aborda a jornada de aceitação e ressignificação de vidas, destacando a força, vulnerabilidade e luta dessas mães por um mundo mais acolhedor e inclusivo. 


Guia prático interdisciplinar para intervenção precoce no autismo
Este livro oferece um guia prático e atualizado sobre o cuidado de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com contribuições de especialistas, aborda temas como neurodesenvolvimento, avaliação diagnóstica, intervenções precoces e inclusão, proporcionando estratégias eficazes e ferramentas valiosas para profissionais, familiares e cuidadores.

 

Afastamentos por doenças emocionais no trabalho dobram em 10 anos

Professora e coordenadora do curso de Psicologia da ESAMC Santos, Cristina Collaco analisa os impactos do ambiente corporativo na saúde dos trabalhadores 

 

O número de afastamentos do ambiente de trabalho devido a doenças emocionais tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, o total de afastamentos por transtornos mentais e emocionais mais que dobrou na última década. Em 2014, cerca de 203 mil trabalhadores brasileiros se afastaram do trabalho por motivos psicológicos, enquanto em 2024 esse número ultrapassou os 440 mil casos. Entre os diagnósticos mais comuns estão transtorno de ansiedade (141.414 casos), episódios depressivos (133.604 casos) e transtorno depressivo recorrente (52.627 casos), seguidos por transtorno bipolar, reações ao estresse grave e esquizofrenia. Esse crescimento acentuado reflete um ambiente de trabalho cada vez mais desafiador, impactado por fatores como a pandemia, a sobrecarga no trabalho e a instabilidade do mercado.

Para a professora e coordenadora do curso de Psicologia da ESAMC Santos, Cristina Collaco, esse crescimento é influenciado por fatores como a pandemia, a sobrecarga no trabalho e a instabilidade do mercado. “De acordo com pesquisas, nos últimos 10 anos houve um aumento de 68% nesses eventos e, atualmente, o número aproximado é de 472 mil licenças médicas relacionadas a transtornos mentais. Alguns especialistas analisam que esse fenômeno pode ser reflexo da pandemia, do mercado de trabalho instável ou da atuação de empresas que fazem mais com menos recursos. Além disso, questões financeiras e problemas familiares impactam diretamente a saúde mental do trabalhador”, afirma a especialista.

Não existe um perfil exato de trabalhador mais propenso ao adoecimento emocional, mas alguns grupos tendem a procurar mais ajuda do que outros. “As mulheres, por exemplo, aparecem mais nas estatísticas porque costumam buscar suporte profissional com maior frequência”, explica Cristina Collaço. Setores com metas agressivas, como os financeiros e comerciais, são mais suscetíveis a gerar carga emocional, especialmente quando os colaboradores não conseguem impor limites. “A extrema competitividade pode acarretar maiores danos, principalmente quando o profissional sente que não atingir metas é interpretado como falta de comprometimento. Muitas vezes, a cobrança interna é um fator extremamente relevante”, destaca a professora.

O afastamento do trabalho por questões psicológicas impacta a autoestima, gera insegurança sobre a própria utilidade e dificulta a recuperação. O receio da exclusão e de ser visto como menos comprometido leva muitos a relutarem em se afastar. Além disso, períodos prolongados fora do ambiente corporativo podem resultar na perda de habilidades, tornando o retorno ainda mais desafiador.

Diante do aumento dos afastamentos, as empresas desempenham um papel indispensável na prevenção e no apoio à saúde mental dos funcionários. “Com a entrada da NR 01, que reforça a necessidade de avaliação psicossocial, espera-se que as organizações se tornem mais atentas a esse cenário”, destaca a especialista. Medidas como a criação de um ambiente respeitoso, a prevenção de conflitos e assédios, o investimento em programas de bem-estar, o treinamento de líderes e o estabelecimento de metas realistas são fundamentais. “Os resultados são importantes, mas buscá-los a qualquer custo pode ter um efeito destrutivo a longo prazo. O investimento em bem-estar não deve ser visto como um custo, mas sim como um diferencial estratégico”, conclui Cristina.

 

 Esamc Santos

 

Estudo detalha papel de proteína que pode ter participação-chave no desenvolvimento da esquizofrenia

A mielina protege os axônios e aumenta a velocidade
 de condução dos impulsos nervosos
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Experimento com roedores feito na Unicamp destacou o envolvimento da molécula hnRNP A1 na manutenção da integridade da bainha de mielina – camada de gordura que protege neurônios e facilita a comunicação entre eles. Achados abrem caminho para potenciais terapias

 

Pesquisa publicada no Journal of Neurochemistry detalhou o papel de uma proteína, a hnRNP A1, na formação e estabilidade da mielina, sugerindo importante impacto em doenças neurodegenerativas e transtornos mentais, como esclerose múltipla e esquizofrenia. Os achados abrem caminho para novas pesquisas e potenciais tratamentos.

A mielina é uma substância gordurosa, produzida pelos oligodendrócitos (células do sistema nervoso central), que forma uma bainha, como uma espécie de “isolante”. Ela “protege” os prolongamentos dos neurônios (axônios) e aumenta a velocidade de condução dos impulsos nervosos que transmitem informações entre as células neurais. Na literatura científica, já ficou demonstrado que pacientes com esclerose múltipla e esquizofrenia perdem mielina (a chamada desmielinização), deixando parte dos axônios “desencapada” e provocando danos nas funções cerebrais.

Este estudo, feito em roedores, investigou alterações em proteínas essenciais para a produção da mielina (mielinização). E os resultados destacam o envolvimento de hnRNP A1 na manutenção da integridade dessa bainha protetora.

A hnRNP A1 regula o processamento do RNA mensageiro, ou seja, ajusta como a molécula é cortada e montada (splicing), determinando quais proteínas serão produzidas e em quais quantidades. Estudada há anos por esse grupo de cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a hnRNP A1 já havia aparecido com destaque em pesquisas anteriores feitas com tecido cerebral de pessoas com esquizofrenia e com células cultivadas em laboratórios.

“Quando estava no mestrado, trabalhei com linhagens de células predecessoras de oligodendrócitos e suas respostas a antipsicóticos. Essa proteína, a hnRNP A1, sempre aparecia. Resolvemos tentar entender o papel dela nos oligodendrócitos. Mas, para isso, foi necessário usar um modelo animal para induzir a mielinização e compreender o processo”, explica Caroline Brandão Teles, primeira autora do artigo e bolsista de doutorado da FAPESP no Instituto de Biologia da Unicamp.

Para a pesquisadora Fernanda Crunfli, também do IB-Unicamp e autora correspondente do trabalho, a mielina tem sido um alvo importante de estudo para doenças neuropsiquiátricas.

“Conseguimos analisar o processo de desmielinização nos animais e depois restabelecer a bainha de mielina. Isso permitiu uma janela interessante de estudo. Fizemos testes comportamentais para avaliar locomoção, memória de curta e de longa duração e interação social. Quando a mielina é restaurada, todas essas funções voltam ao cérebro”, conta Crunfli, que foi bolsista FAPESP no pós-doutorado.

Teles destaca que esse foi um dos resultados que chamaram a atenção do grupo – o fato de as alterações terem sido detectadas no nível molecular, sem afetar, no entanto, o comportamento dos animais.

“Com essa alteração molecular e não comportamental, o trabalho tem um potencial interessante de apontar uma proteína importante no estabelecimento da esquizofrenia. Esse mesmo modelo animal é analisado em pesquisas para esclerose múltipla, por exemplo, e quando há estudo comportamental notam-se mudanças. No caso da esquizofrenia, o fato de o comportamento não ser alterado aponta, na minha avaliação, que essa proteína é essencial no desenvolvimento da doença, podendo ter influência em sua gênese”, analisa à Agência FAPESP o professor Daniel Martins-de-Souza, do IB-Unicamp, orientador de Teles e responsável pelo Laboratório de Neuroproteômica.

A esquizofrenia é um transtorno mental caracterizado pela perda de contato com a realidade (psicose), alucinações, delírios e piora da cognição, entre outros. A causa exata ainda é desconhecida, mas pesquisas recentes sugerem uma combinação de fatores hereditários, com alterações moleculares e funcionais no cérebro. O tratamento é realizado com medicamentos antipsicóticos e psicoterapia.

Estima-se que no Brasil cerca de 1,6 milhão de pessoas tenham esquizofrenia. No mundo, a prevalência é de aproximadamente 1% da população mundial.

Há anos, o grupo de pesquisa de Martins-de-Souza vem trabalhando para entender o papel dos oligodendrócitos na esquizofrenia, tendo conseguido mapear uma série de proteínas cerebrais que ajudam a desvendar as bases moleculares do transtorno (leia mais em: agencia.fapesp.br/36195).


Para entender a pesquisa

O grupo adotou um modelo de roedor (murino) que vem sendo estudado também em casos de esclerose múltipla, doença caracterizada por desmielinização severa.

A partir da oitava semana do experimento foi induzida a desmielinização, que perdurou outras cinco semanas. Em seguida o processo foi interrompido e houve o restabelecimento da bainha de mielina. Nesse período, os pesquisadores analisaram a atividade da hnRNP A1. “Vimos que as proteínas ligadas à mielina nesses animais estavam todas diminuídas. Perturbando a atividade dessa proteína [hnRNP A1], acabamos atrapalhando a mielinização”, afirma Teles.

Para os cientistas, explorar os impactos das alterações da proteína na transmissão sináptica e nos processos cognitivos pode revelar novos alvos terapêuticos.

Além das bolsas, a pesquisa também recebeu apoio da FAPESP por meio de outros seis projetos (17/25588-119/05155-918/01410-123/08885-318/01669-5 e 23/11514-7).

O artigo Impacts of hnRNP A1 Splicing Inhibition on the Brain Remyelination Proteome pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jnc.16304.

 


Luciana Constantino
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/estudo-detalha-papel-de-proteina-que-pode-ter-participacao-chave-no-desenvolvimento-da-esquizofrenia/54345

 

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