Um dos alimentos mais completos e
consumidos no mundo foi celebrado em 1º de junho; aos intolerantes,
especialista do Vera Cruz Hospital sugere alternativas
Puro, com café, chocolate, processado ou de diversas outras
maneiras; ao todo, no mundo, são consumidas 589 milhões de toneladas de leite
por ano, conforme dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação (FAO/ONU). Não à toa, tem seu próprio “Dia Internacional”: todo 1º
de junho. Segundo a nutricionista Ligia Vieira Carlos, do Vera Cruz Hospital,
em Campinas (SP), o leite é considerado um dos alimentos mais nobres, pois é
rico em proteína, gordura, sais minerais, carboidratos e vitaminas.
O consumo do leite animal por humanos se tornou um hábito há cerca
de 10 mil anos, quando os animais foram domesticados e os adultos foram ficando
cada vez mais capazes de digerir a lactose. De acordo com a especialista, cada
nutriente do leite de vaca, o mais comum à disposição, tem um papel importante
para o organismo humano. “As proteínas do leite, por seu perfil de aminoácidos
essenciais, digestibilidade e biodisponibilidade – que são rapidamente
absorvidas pelo organismo – favorecem o alimento na caracterização de grau
máximo de qualidade proteica, sendo comparável à albumina, que contribui para a
construção de fibras musculares. Com relação ao cálcio, o leite é a principal
fonte deste mineral. Para o humano, o leite configura de forma essencial para o
sistema nervoso central, permitindo que seu desenvolvimento seja diferenciado
dos demais mamíferos”.
Ligia salienta que em cada fase da vida, o leite contribui de
alguma forma para a saúde. “Na infância, garante benefícios para o crescimento,
saúde dental, hidratação, desempenho cognitivo e controle do apetite. Na fase
adulta, além de oferecer nutrientes, o consumo de leite pode auxiliar no
controle da pressão arterial, na redução do risco de problemas
cardiovasculares, possui ação antiobesidade e antidiabética. Com a chegada da
velhice, este alimento ajuda na prevenção de quadros de sarcopenia e diminui o
risco de osteopenia e osteoporose”, pontua.
Ou seja, o leite é recomendado para todas as fases da vida. “Com
exceção de condições muito específicas, todos podem consumir o leite de vaca.
Esta bebida é recomendada por guias alimentares nacionais e internacionais, e
pode ajudar no aporte de nutrientes, como o cálcio. Em resumo, é um alimento
saudável e adequado. Vale ressaltar a importância de orientações dietéticas
personalizadas, considerando as necessidades nutricionais individuais e as
condições de saúde de cada indivíduo”, adiciona.
Intolerância a lactose
Mas com tantos benefícios, como as pessoas intolerantes à lactose
podem tirar proveito deste alimento tão completo? “A lactose é o açúcar de
quase todos os leites. Quando ingerimos, esta substância é quebrada em dois
açúcares menores (galactose e glicose), os quais são absorvidos no intestino
delgado, alcançam a corrente sanguínea e, então, são utilizadas como fonte de
energia pelas células. A lactase é a enzima que faz esta quebra. A lactose não
é digerida quando há deficiência parcial ou total da lactase, alcançando o
intestino grosso (cólon). Desse modo, as bactérias do cólon metabolizam a
lactose absorvida em gases que são responsáveis pelos sinais e sintomas da
intolerância”.
De acordo com a especialista, o consumo de leite de vaca não causa
a intolerância à lactose. Na realidade, existe uma relação inversa: quanto
maior o consumo de leite, menor o risco de seu desenvolvimento. Tanto a
Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), quanto a Sociedade Brasileira de
Alimentação e Nutrição (SBAN) chamam a atenção para a importância do
diagnóstico clínico, uma vez que os sintomas da má digestão de outros
carboidratos podem ser erroneamente confundidos com este quadro. Além disso,
mesmo para pacientes diagnosticados, geralmente 12 gramas de lactose são
tolerado sem sintomas. Por fim, opções como a enzima lactase oral ou leites sem
lactose podem ser oferecidos no caso da incapacidade de digerir este açúcar.
A nutricionista explica que os sintomas variam conforme diversos
fatores, tais como quantidade de lactose ingerida, trânsito intestinal e idade
do paciente, podendo ser mais ou menos intensas. Geralmente, os sintomas
aparecem entre 30 minutos a duas horas após a ingestão de laticínios. As mais comuns
são: inchaço abdominal, cólicas, gases, flatulência, diarreia, assaduras,
náuseas, vômitos, câimbras e, algumas vezes, constipação intestinal.
O importante é ter um diagnóstico concluído por um médico,
considerando que para ser feito o diagnóstico desta intolerância alimentar
podem ser adotados os seguintes procedimentos:
- Métodos clínicos: retirar todos os alimentos com lactose da
dieta faz com que os sintomas acabem em dias ou semanas. Trata-se do
procedimento mais comum;
- Teste respiratório para pesquisar eliminação de hidrogênio em
amostras de ar expirado: na sua execução, a lactose não absorvida é fermentada
no cólon, levando à produção de hidrogênio. Parte deste gás é absorvido pelo
intestino, alcança a corrente sanguínea e é eliminado no ar expirado dos
pulmões em concentrações aumentadas;
- Teste de tolerância à lactose: após a ingestão de lactose,
pessoas sem esta doença apresentam elevação da glicemia (glicose formada pela
quebra da lactose) a valores maiores que 20 mg/dL em relação ao jejum. Estas
variações não são observadas nos intolerantes; (são os mais comuns)
- Teste genético: quando se suspeita de intolerância primária ou
congênita à lactose é possível avaliação gênica para detectar a presença de
mutações que proporcionam a característica de persistência da produção de
lactase e tolerância à lactose.
Tratamento
A boa notícia é que existem formas de se evitar os sintomas
desconfortáveis. “O tratamento consiste na redução da ingestão de lactose
presente em laticínios. Este procedimento costuma ser suficiente. Quanto mais
intolerante for a pessoa, menor deve ser a quantidade ingerida para que não
ocorram sintomas. Saber se o alimento tem lactose e em qual teor é fundamental
para o paciente. Para os casos mais graves, existem no mercado produtos com
redução de 80% a 90% da lactose”.
Outra alternativa são medicamentos. “Existem remédios com a enzima
lactase para o uso quando for preciso ingerir lactose em situações especiais.
Ela pode ser encontrada em pó, pílulas ou líquido, e deve ser ingerida logo
antes do alimento para a digestão da lactose. Essas medidas, sem dúvida,
permitem uma qualidade de vida melhor para quem vivencia o problema”, conclui.
Vera Cruz Hospital