Adepta da escolha de uma cor
predominante, arquiteta Marina Carvalho explica como conquistar um impacto
visual muito bem-sucedido nos projetos de arquitetura de interior
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Monocromia sem errar: no dormitório da moradora, a arquiteta Marina Carvalho aplicou a sobriedade do verde mais fechado, que coloriu paredes e a peseira da cama |Foto: Evelyn Müller |
Em um ambiente, as cores eleitas para a decoração têm o poder de
transmitir sensações e ativar os sentidos. E quando a mescla de tons é
substituída pela monocromia – quando uma cor, com seus gradientes, é eleita –,
o impacto proporcionado pelo visual é ainda maior.
Porém, ao contrário do que se pode imaginar, a singularidade de
uma cor, em combinação de ton sur ton, é capaz de evocar descontração, leveza,
quebrar a monotonia e sair da mesmice, transformando cômodos comuns em lugares
elegantes e estilosos. Sem restrições, a monocromia pode emoldurar a decoração
de áreas sociais, banheiros, cozinhas, dormitórios ou até mesmo
estabelecimentos comerciais, evidenciando o gosto pessoal e a personalidade de
cada um.
“Além da questão estética, o décor monocromático pode contribuir
para a amplitude. Em um banheiro pequeno, por exemplo, pintar de preto a
bancada, paredes e piso trará uma uniformidade de informação e,
consequentemente, conquistaremos maior profundidade”, explica a arquiteta Maria
Carvalho, à frente do escritório que leva o seu nome. Segundo ela, o usar uma
única cor é uma tendência que segue em alta na arquitetura de interiores.
Escolha
da cor
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A decoração monocromática pode estar presente por toda a residência. Mas em ambientes voltados ao descanso pleno, como em um dormitório, cores suaves e leves são as ideais, como o azul, que evoca a calmaria, neste projeto assinado pela arquiteta Marina Carvalho |Foto: Evelyn Müller |
A cor escolhida como predominante no cômodo também vai determinar
o tipo de sentimento despertado. Ares mais suaves, vibrantes, intensos ou
românticos: tudo vai depender do objetivo do morador. Segundo a arquiteta
Marina Carvalho, durante as conversas de briefing ela busca captar as
preferências do cliente e, sobretudo, compreender quais os sentimentos
almejados para o lar, depois que o projeto estiver finalizado. “Mesmo com essa
liberdade de escolha, sempre pontuo que um caminho seguro é dar preferência por
cores mais suaves, que não deixam o local com uma aparência cansativa. Cada cor
tem o poder de transmitir uma mensagem”, diz.
Na psicologia das cores, o azul conduz a sentimentos como
tranquilidade, segurança e espiritualidade, enquanto o contraponto do vermelho
provoca nas pessoas a força da energia e poder, entre outras impressões. A
cartela de tons mais neutros, como o cinza, bege e os terrosos, por sua vez,
emitem aos habitantes o conforto do bem-estar e do acolhimento e o branco, além
da calma, produz ares de simplicidade. “A seleção de tons para produzir um
ambiente monocromático não deve se limitar apenas a uma preferência estética ou
tendência de decoração. Dependendo da decisão, é possível também conquistar a
funcionalidade do ambiente, a depender da percepção causada”, complementa.
Por onde
começar
Além das paredes, o mobiliário, objetos e elementos decorativos reforçam a decoração monocromática dos ambientes. Na área social desse projeto, a arquiteta Marina Carvalho investiu na marcenaria das prateleiras, poltronas, almofadas e quadros em nuances de azul |Fotos: Evelyn Müller
Ao bater o martelo na cor, as próximas etapas decorrem do
desmembramento em elementos menores como almofadas e objetos decorativos
diversos incorporados com o intuito de construir um ambiente mais clean.
Entretanto, para aqueles que pretendem viver em uma atmosfera com ainda mais
personalidade, as paredes são as primeiras a serem trabalhadas para formar a
monocromia, que podem ser pintadas ou revestidas com materiais condizentes com
a essência do projeto. “Para quem ficar com receio de investir na unidade de
uma mesma cor logo de uma vez, recomendo começar por ambientes menores, como um
banheiro ou um lavabo. Itens decorativos pequenos, da mesma cor que a parede,
são super eficazes”, sugere Marina.
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Ambientes menores, como banheiros, podem ser o ponto de partida para o morador atribuir a tendência do décor monocromático em casa |Fotos: Evelyn Müller |
Em cômodos mais amplos, como salas de estar, cozinhas e
dormitórios, o mobiliário surge como um grande aliado. Por meio da marcenaria
planejada ou de peças soltas, como sofás e poltronas, conseguem evocar a linha
de raciocínio da decoração. “Eu diria que os móveis são fundamentais, uma vez
que, se não estiver em harmonia com o restante, a ambiência pode ficar bastante
estranha”, compartilha a arquiteta.
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No corredor que dá acesso à ala íntima do apto, a monocromia se revela por meio da pintura no teto, paredes e portas |Fotos: Evelyn Müller |
E como
não deixar o ambiente cansativo?
Segundo Marina, tons mais leves e suaves propiciam ares menos
saturados e monótonos, sem causar impactos fortes. Junto a isso, o emprego de
componentes de outras cores ou uma variação de tons da mesma cor, mas que ornam
com o planejamento sugerido, são excelentes meios visuais para conceber um
contraponto e não cansar visualmente o morador ou quem permanece no ambiente
por um tempo maior. “Nesse equilíbrio, podemos aplicar o branco, cinza e, em
alguns casos, até mesmo o preto. Essas cores são neutras, bastante eficazes na
mistura e transmitem uma mensagem muito elegante”, aconselha.
Outros elementos que contribuem para a decoração monocromática
Além dos móveis, objetos decorativos e pintura nas paredes, os
revestimentos e texturas como cerâmica e porcelanato são muito eficazes. No
banheiro, as pastilhas de porcelana e de vidro fornecem inúmeras opções a serem
escolhidas. Na cozinha, os bricks com tijolinhos aparentes também se configuram
como queridinhos, ao mesmo tempo que trazem um clima mais rústico. Teto e piso
também favorecem o contraste com a cor escolhida, deixando a decoração menos
saturada. “A luz colorida também participa de uma forma muito positiva. No
luminotécnico, posso escolher a cor e o cenário de nossa preferência ou mudar
quando julgarmos necessário. Isso reforça ainda mais a mensagem que queremos
transmitir naquele espaço”, finaliza.
Marina
Carvalho - arquiteta. Graduada pela faculdade de Arquitetura e Urbanismo, com MBA em
Gestão Estratégica e Econômica de Projetos na Fundação Getúlio Vargas, no
início de sua carreira, Marina de trabalhou no Estúdio Penha, e,
posteriormente, com Arthur Casas, onde ocupou por muitos anos um cargo de
coordenadora em uma das maiores incorporadoras da América Latina. Esta etapa
foi importante em sua carreira pois lhe deu a percepção de que sua verdadeira
realização só viria quando pudesse levar às pessoas tudo em que eu acreditava.
www.marinacarvalho.com
@marina.carvalho.arquiteta