Volume de doação, que caiu durante a pandemia, pode diminuir ainda mais devido ao tempo de inaptidão causado por alguns tipos de imunizantes
Enquanto dá
seguimento ao Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19, o Ministério da Saúde incentiva que os brasileiros doem sangue no
hemocentro mais próximo antes de serem vacinados. O apelo mais recente surge
pelo impedimento temporário para que aqueles que receberam certos tipos de
vacinas compareçam aos locais de doação.
O tempo de
inaptidão existe porque o micro-organismo da imunização, ainda que na forma
atenuada, ainda circula por um período determinado no sangue do doador. Em caso
de pacientes imunossuprimidos, há um risco de o receptor desenvolver a doença
para a qual o doador foi vacinado. O coordenador de sangue e hemoderivados do
Ministério da Saúde, Roberto Firmino, explica a necessidade deste
intervalo:
“O modo de
fabricação das vacinas pode levar riscos a um paciente que receba o sangue,
tendo em visto que seu sistema imunológico já se encontra debilitado pela
própria condição de saúde. Ao receber uma vacina, o organismo imediatamente
desenvolve reações necessárias para que o imunizante tenha efeito, e estas
reações podem levar a resultados imprecisos dos exames sorológicos ou tornar
irreconhecível efeitos adversos da vacina ou alterações pós doação”.
A norma no
Brasil determina dois períodos diferentes conforme o tipo de vacina
aplicada:
- Após vacinas
de vírus ou bactérias inativados, toxoides ou recombinantes – 48 horas.
- Após vacinas
de vírus ou bactérias vivos e atenuados – 4 semanas.
O imunizante
produzido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac
funciona com vírus inativado, de modo que se encaixa no período de 48 horas. Já
o tempo de inaptidão para as pessoas que receberem o imunizante da
AstraZeneca/Oxford, produzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é
de quatro semanas, por se tratar de uma vacina de vetores virais.
"A
população precisa estar ciente sobre os períodos de restrição para doação de
sangue após receber a vacina. Por isso, enfatizamos a importância de os
doadores fazerem suas doações antes de receberem a vacina. A doação de sangue é
segura e não contraindica a vacinação, podendo inclusive receber a vacina logo
em seguida à doação", afirma Rodolfo Firmino.
MENOS DOADORES
A pandemia
causou queda na doação de sangue. Com menos pessoas em circulação nas ruas, o
Ministério da Saúde registrou diminuição de doadores nos hemocentros que, em
2020, variou entre 15% e 20%. Além disso, o primeiro mês do ano é considerado
período de férias, quando também é esperada redução nos estoques de
sangue.
O Ministério da
Saúde esclarece que ainda não houve registro de desabastecimento no Brasil, mas
alguns hemocentros já necessitam de apoio da população com certos tipos
sanguíneos.
Por conta da
pandemia, os hemocentros pelo país adotaram medidas de segurança para evitar
aglomerações e outros fatores de propagação do coronavírus. Os doadores
precisam agendar um horário de atendimento, via internet ou telefone (consulte
o hemocentro da sua região para mais detalhes), e cada unidade passa pelo
devido procedimento de higienização, tanto dos locais de circulação quanto para
lavagem de mãos das pessoas.
“Cabe ressaltar
que o Ministério da Saúde, em conjunto com a ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), publicou Nota Técnica para inaptidão de pacientes com
Covid-19 ou em convalescência, de modo a afastá-los dos centros de coleta por
um período de segurança para manter o sangue, os doadores e os pacientes
receptores ainda mais seguros”, acrescenta Firmino.
MONITORAMENTO E GESTÃO
O Ministério da
Saúde acompanha diariamente o quantitativo de bolsas de sangue em estoque nos
maiores hemocentros estaduais, e ativou, no início da pandemia, o Plano
Nacional de Contingência. Essa estratégia permite uma possível antecipação na
tomada de decisão para minimizar o impacto de eventuais
desabastecimentos.
Atualmente, a
taxa de doação de sangue voluntária da população brasileira é de 1,6%, número
que está dentro do preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em
2019, a pasta investiu R$ 1,5 bilhão na rede de sangue e hemoderivados no
Brasil e R$ 1,6 bilhão em 2020. O valor engloba aquisição de medicamentos e
equipamentos, reformas, ampliação e qualificação da rede.
Além disso, em
2020, em razão da pandemia, a Campanha Nacional de Promoção da Doação
Voluntária de Sangue realizada pelo Ministério da Saúde – lançada em junho e
reforçada em novembro em comemoração ao Dia Nacional do Doador de Sangue – teve
como foco a importância de a população continuar doando sangue apesar das
restrições de deslocamento, uma vez que seu consumo é diário e contínuo, pois
as anemias crônicas, cirurgias de urgência, acidentes que causam hemorragias,
complicações da dengue, febre amarela, tratamento de câncer e outras doenças
graves ainda ocorrem todos os dias.
Cabe lembrar
que não há um substituto para o sangue e sua disponibilidade é essencial em
diversas situações.
Rodrigo Vasconcelos
Ministério da Saúde