Cirurgião
explica que apenas 5% da população pode fazer a cirurgia bariátrica e defende a
mudança total na qualidade de vida das pessoas
O número de pessoas obesas no Brasil mais que dobrou entre 2003 e 2019, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os índices divulgados recentemente apontam que, no ano passado, 26,8% dos brasileiros acima de 20 anos eram considerados obesos, enquanto o percentual era de 12,2% há 16 anos. Para o cirurgião bariátrico do Vera Cruz Hospital, André Pierro, os índices são alarmantes e exigem uma urgente mudança de hábitos. "A obesidade é tratada como doença há poucas décadas, mas se trata de uma epidemia mundial que refletiu no estilo de vida do brasileiro, aumentando o consumo de alimentos industrializados e fast-foods e que, por consequência, gerou números alarmantes e que refletem diretamente na saúde física e emocional das pessoas", explica o especialista.
Segundo o médico, a doença que atinge todas as classes sociais, pode acarretar em diversos problemas como alteração na pressão arterial, diabetes, problemas articulares nos joelhos e quadril, deficiências no fígado, maior incidência para vários tipos de câncer, além de depressão e problemas de ordem social. "Pessoas obesas têm dificuldade em conseguir emprego, se relacionar e até mesmo comprar roupas em lojas comuns, além das dezenas de doenças que podem desenvolver. É um problema cultural que precisa ser revertido com políticas públicas e mudança de hábitos, principalmente em relação à alimentação e à prática de exercícios físicos", afirma o cirurgião do Vera Cruz Hospital.
Ainda segundo o especialista, este ano, devido à crise econômica ocasionada pela pandemia a situação poderá piorar, fazendo com que menos pessoas tenham acesso à qualidade na alimentação. "Os números são reais e confirmam que cada vez menos as pessoas terão acesso a alimento fresco e saudável, assim como à proteína magra. Esse é um problema real, que pode aumentar ainda mais a obesidade e a procura por cirurgias. Os problemas sociais e financeiros da pandemia devem, em pouco espaço de tempo, afetar a saúde das pessoas", lamenta. Por outro lado, o isolamento trouxe um alerta, de acordo com o cirurgião. "Nunca vimos tantas pessoas praticando atividades físicas ou com medo das consequências da obesidade, afinal, é evidente, do ponto de vista global e científico, que o maior número de óbitos durante a pandemia envolvia a obesidade, além de outras comorbidades. Esperamos que as pessoas possam mudar os seus hábitos. Esse é o principal alerta: mudança total na qualidade de vida, para ontem", defende.
Bariátrica
A cirurgia
bariátrica é um procedimento que pode, segundo Pierro, ser feito em 5% da
população, com base, principalmente, no cálculo do IMC (Índice de Massa
Corpórea). "Os IMCs entre 25 e 29,9 são considerados indicadores de
sobrepeso, enquanto valores entre 30 e 39,9 de obesidade e, acima de 40,
obesidade grave", explica o médico. "Trata-se de uma ótima solução
para quem perdeu a guerra contra a balança, pois quando a pessoa atinge a
obesidade, existe menos de 5% de chances de sucesso após dietas somadas a
atividades físicas. Mesmo com muita disciplina, disposição e recursos, é
cientificamente improvável conseguir a redução necessária", afirma.
Um dos principais
mitos da cirurgia bariátrica, segundo o especialista, é acreditar que se trata
de um procedimento estético e não de controle da doença. "Muitas pessoas
pensam que é mais uma modalidade de cirurgia plástica e que interfere na
estética e não diretamente na redução de peso. É importante saber que essa é a
primeira etapa do tratamento e não a última. As correções estéticas vêm
aproximadamente dois anos depois da cirurgia bariátrica", explica. Além
disso, antes de realizar o procedimento, o paciente precisa passar por
avaliação com diversos profissionais como endocrinologista, cardiologista,
psicólogo, nutricionista e fisioterapeuta. "Após essas avaliações, o
procedimento que reduz o estômago e também o intestino delgado, pode fazer com
que o paciente perca aproximadamente 40% do seu peso inicial. Mas, é preciso
mudar a mentalidade do paciente também pois, após os primeiros anos, há a
tendência ao retorno da obesidade, devido a memória metabólica, que nada mais é
do que o organismo tentando recuperar o peso que acredita ser o ideal e o
paciente acaba ganhando mais de 20% do que perdeu".
O médico alerta para
uma situação considerada mito, mas que não é: o aumento do consumo de bebidas
alcóolicas. Segundo ele, existe um grande risco de o paciente trocar a
compulsão alimentar por alcoólica devido a facilidade na ingestão do líquido no
pós-cirúrgico. "A bebida não é proibida, mas deve ser consumida
moderadamente, de forma consciente e equilibrada, pois o álcool possui mais
calorias que o carboidrato por grama", alerta. "Brincamos que a
cirurgia bariátrica é um casamento sem direito a divórcio entre paciente e toda
a equipe de especialistas. Podemos brigar, mas não nos separar. O diálogo e
acompanhamento precisam ser constantes e para a vida toda, só assim é possível
a cura", completa. Por isso, o médico alerta ainda para as dietas da moda
que podem auxiliar o início de um emagrecimento, mas que não curam a obesidade.
"Dietas como as de zero consumo de carboidrato ou de jejum intermitente
podem funcionar por 30 a 50 dias, mais que isso é inviável, ou seja, existe um
grande risco de a pessoa fugir dessa dieta ou deixar ela pra sempre. É
importante achar um meio termo para perder alguns quilos, mas quando se tem a
obesidade, só a cirurgia bariátrica pode curar a doença", diz
(Fotos: Divulgação)